“Enquanto todo mundo espera a cura do mal/E a loucura finge que isso tudo é normal/Eu finjo ter paciência/E o mundo vai girando cada vez mais veloz/A gente espera do mundo e o mundo espera de nós/Um pouco mais de paciência”... 



A canção de Lenine lembra que a vida não para e é preciso entrar no ritmo, ter cadência para não perder o prumo e o fio. A paciência é uma qualidade cada vez mais rara nos dias de hoje e ser paciente parece missão impossível diante de inúmeros gatilhos que só aceleram e levam o equilíbrio para longe.
 
Ser paciente é uma escolha e cultivar a paciência é uma decisão sábia para quem cuida da saúde física e mental. Não faz bem ter descargas emocionais descontroladas por ser impaciente, ataques de raiva com o cérebro produzindo cortisol, hormônio liberado em situações de estresse. Essa substância pode gerar baixa imunidade, desencadear processos de gastrite, úlcera, alteração na pressão arterial, problemas cardiovasculares e psicológicos. O cortisol tem de estar em equilíbrio, já que é essencial para a qualidade de vida, tornando-se o hormônio do bem-estar.
 

 
E aqui não entra em questão o transtorno explosivo intermitente (TEI), diferente de um ataque de raiva comum, provocado pela falta de paciência. O TEI, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), se caracteriza por explosões de raiva recorrentes, com agressividade ou violência desproporcionais. A pessoa diagnosticada com TEI precisa de ajuda médica urgente para pensar em ter qualidade de vida.



A educadora financeira Ellen Silvério, de 42 anos, se considera uma pessoa paciente. “Pelo menos tento ser. Hoje, essa característica me ajuda no trabalho, onde tenho que ter paciência para ouvir e orientar as pessoas. No dia a dia, seja no trânsito, no supermercado lotado... E, principalmente, em casa com a família e os filhos. A gente aprende a ouvir, a entender e isso resolve ou nos livra de muitas dores de cabeça.” 
 

'Sei exatamente quando estou perdendo a paciência, e isso é importante, porque aí paro e penso antes de agir', diz Ellen

(foto: Arquivo pessoal)
Para Ellen, normalmente, uma pessoa impaciente não consegue ouvir. Ela diz que já precisou lidar com uma situação em que precisou ter todo o “jogo de cintura” esperado das pessoas pacientes. “Uma vez, uma cliente que não conseguia acessar um material veio falar comigo, brava. Ela só dizia que tinha feito a compra e que não iria ficar no prejuízo, xingou, reclamou. Eu a deixei falar, ouvi tudo e, quando ela encerrou, perguntei: ‘Agora você pode me explicar o que está acontecendo? Porque não consegui entender e vou te ajudar'. 

Ela explicou a dificuldade, eu entendi, mostrei um passo a passo para resolver e no final ela disse: 'puxa, cheguei xingando e gritando e você ficou da mesma forma. Parece que é até psicóloga'. Ela ainda falou 'eu tenho o sonho de ser psicóloga'. Então, brinquei com ela e disse, 'acho melhor você ser advogada'. No final, ela agradeceu e se desculpou”. 
 
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Além da escolha, Ellen acredita que a paciência também pode ser ensinada, vir do exemplo. “Meu pai é superpaciente. Aprendi muito com ele, nos ensinou a ter controle do que sentimos, pois em um momento de impaciência podemos colocar tudo a perder. Ele é meu exemplo de paciência na vida. Nunca o vi pai brigar no trânsito, gritar com as pessoas. Mesmo quando estavam alteradas, ele sempre buscava um jeitinho de resolver tudo na paz. Isso me ajudou muito.” 

SABER RESPIRAR

Mas a educadora financeira lembra que pessoas pacientes também “ficam bravas”. A diferença está no autocontrole. “Sei exatamente quando estou perdendo a paciência, e isso é importante, porque aí paro e penso antes de agir.” 

Ela acredita que ser paciente é um aspecto positivo do ser humano. “Ser paciente significa saber que o que plantamos hoje não iremos colher amanhã, mas precisamos continuar, porque o resultado virá. Isso ajuda na comunicação e, principalmente, a respirar diante das dificuldades para encontrar a melhor solução. Nem sempre as coisas vão ser como queremos, e com paciência e resiliência, conseguimos dar a volta por cima”.

 

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