senhor soltando uma baforada de cigarro de palha

Enrolados à mão em uma casca de milho que proporciona uma estética 'natural', os cigarros de palha podem ser percebidos pelos consumidores como menos prejudiciais à saúde do que os industrializados

Jonathan Wilkins/Wikimedia Commons
 

Em comemoração ao Dia Nacional de Combate ao Fumo no Brasil, celebrado em 29 de agosto, o Instituto para o Controle Global do Tabaco (IGTC, na sigla em inglês), da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, traz atenção renovada ao primeiro estudo que avalia os apelos de marketing nas embalagens de cigarros de palha no Brasil, incluindo sabores, imagens masculinas e descritores enganosos, os quais atendem ao interesse da indústria do tabaco de viciar novos consumidores em detrimento da saúde pública. Hoje, os resultados da pesquisa são novamente relevantes para o mercado brasileiro devido ao consumo contínuo do produto (incluindo um aumento entre os jovens das áreas urbanas) e ao diálogo da cultura pop em torno de figuras masculinas não saudáveis decorrentes do filme "Barbie". 

senhor soltando uma baforada de cigarro de palha

Enrolados à mão em uma casca de milho que proporciona uma estética 'natural', os cigarros de palha podem ser percebidos pelos consumidores como menos prejudiciais à saúde do que os industrializados

Jonathan Wilkins/Wikimedia Commons
Intitulado “Estratégias de marketing nos cigarros de palha: descritores enganosos e um novo homem Marlboro”, o estudo do IGTC apareceu online pela primeira vez em 2021 e foi recentemente republicado na edição de julho de 2023 da revista BMJ Tobacco Control. O trabalho tem como foco os maços do estudo Tobacco Pack Surveillance System (TPackSS), coletados em três cidades brasileiras (São Paulo, Salvador e Manaus) em 2013, 2016 e 2019 – período em que foi observado um aumento no número de variantes de marcas de cigarro de palha. 

Enrolados à mão em uma casca de milho que proporciona uma estética "natural", os cigarros de palha podem ser percebidos pelos consumidores como menos prejudiciais à saúde do que os cigarros industrializados, com base nos materiais utilizados e na implicação de um produto artesanal – reforçado ainda mais pelo termo "artesanal", que aparece em 94% das variantes de marcas de cigarro de palha.

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Surgimento de cigarro de palha com sabor

O estudo observa não apenas o aumento no número de variantes de marcas de cigarro de palha, mas também o surgimento de opções com sabores e o uso consistente de imagens masculinas e elementos clássicos/atemporais (incluindo a palavra "tradicional") que podem contribuir para a diminuição da percepção de danos e para o aumento do apelo de marketing entre certos grupos demográficos, especialmente os jovens.  
Os pesquisadores do estudo revisaram visualmente os maços de cigarro de palha e, em seguida, codificaram imagens e palavras dos maços, nos quais foram detectados os seguintes apelos de marketing:
  
  • Masculinidade: alta prevalência (56%) e proeminência de apelos masculinos nos maços, como homens tocando violão, automobilismo e cowboys, alguns lembrando o icônico cowboy da Marlboro, conhecido por simbolizar masculinidade, independência e individualismo. Esses apelos podem reforçar as normas tradicionais de gênero relacionadas aos homens brancos heterossexuais brasileiros.  
  • Elementos clássicos/atemporais: 47% dos maços continham termos como "original", "assinatura", "estabelecido" e "tradicional", que podem evocar uma sensação de confiabilidade ou charme do velho mundo.  
  • Qualidade: todas as embalagens continham a presença de elementos de luxo, como imagens de coroa de louros, cores douradas e brasão.  
  • Sabor: embora não tenham sido observados maços com sabor2013 e 2016, mais da metade (59%) dos maços avaliados continham sabores em 2019, entre eles os sabores mentol, coco, canela, chocolate e uva.   
  • Menos prejudicial: 31% apresentaram termos enganosos como "leve" e "suave", que são proibidos em todas as embalagens de tabaco, pois contribuem para a percepção de que o produto é menos prejudicial.
"Nossos resultados reforçam a necessidade de os países adotarem embalagens padronizadas para todos os produtos de tabaco, bem como a proibição de produtos de tabaco com sabor, que são particularmente atraentes para os jovens", afirmou Graziele Grilo, coordenadora sênior do programa de pesquisa e líder regional do IGTC para a América Latina. "Juntas, essas medidas evitariam desinformação e impressões equivocadas sobre os cigarros de palha, que são um produto mortal que está sendo comercializado enganosamente para o público em geral, incluindo os jovens."

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O estudo aponta que os cigarros de palha, que não são filtrados, são tão prejudiciais à saúde dos consumidores quanto outros tipos de cigarros, além de problemas relacionados à produção de cigarros de palha, incluindo casos de sonegação de impostos federais e denúncias de violações da legislação trabalhista, como o uso de trabalho infantil.

O estudo completo pode ser encontradono artigo e no vídeo do IGTC.

Sobre o Instituto para o Controle Global do Tabaco

Criado em 1998, o Instituto para o Controle Global do Tabaco informa as medidas de controle do tabaco em países ao redor do mundo há 25 anos. Como parte do Departamento de Saúde, Comportamento e Sociedade da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, o instituto é parceiro da Bloomberg Initiative to Reduce Tobacco Use and a Collaborating Centre of the World Health Organization, guiado pela missão de prevenir mortes e doenças causadas por produtos de tabaco, gerando evidências para apoiar intervenções relacionadas ao tabaco.