Seis entre dez brasileiros adultos não seguem as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 150 minutos semanais de prática de atividades físicas no tempo livre. Entre os idosos, a partir de 65 anos, essa taxa aumenta para sete em cada 10. O levantamento feito por pesquisadores do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com instituições dos Estados Unidos e Noruega, está publicado na revista “Epidemiologia e Serviços de Saúde”.
O artigo apontou que cerca de 60% das pessoas são inativas fisicamente, ou seja, não praticam nenhuma atividade física. Entre os idosos com 65 anos ou mais, quase 4% pratica alguma atividade de fortalecimento muscular. Cerca de um quarto (26%) dos adultos é fisicamente ativo e o restante (14%) é insuficientemente ativo. A análise usou dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, feita pelo Ministério da Saúde com uma amostra de 88.513 participantes. Esse levantamento utiliza a mesma metodologia do Censo Demográfico, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou seja, é representativa da população brasileira.
Com base nos dados da PNS, os cientistas avaliaram a porcentagem de brasileiros que segue as recomendações da OMS de praticar atividades físicas aeróbicas, como caminhada, corrida ou andar de bicicleta, e de fortalecimento muscular, como musculação, pilates ou yoga. Segundo a organização, 150 minutos semanais destas práticas podem contribuir para a redução da mortalidade por doenças metabólicas, cardiovasculares, alguns tipos de câncer (como mama, endométrio e próstata), além de contribuir também para o controle de peso, redução da ansiedade e outros problemas de saúde mental.
Além de não praticar as atividades recomendadas no tempo livre, um terço da população tem uma rotina sedentária: passa seis horas ou mais por dia sentada usando celulares, tablets, computadores ou na frente da televisão. “Ficar muito tempo parado traz muitos prejuízos para a saúde”, avalia Arão Oliveira, epidemiologista e aluno de pós-doutorado no Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da USP, primeiro autor do artigo. “Existem dados robustos sobre benefícios para a saúde como a prevenção de doenças crônicas e redução de mortalidade precoce para quem cumpre as recomendações de atividades físicas da OMS”, aponta o pesquisador.
Oliveira ressalta que, por causa da pandemia, a prática de atividade física tenha caído ainda mais na população brasileira. “É uma observação com base em algumas pesquisas online, sem amostras representativas da população, mas que mostraram que as pessoas fizeram ainda menos atividade física, o que pode impactar até mesmo na mortalidade de maneira geral, não só relacionada à COVID-19, mas também por doenças crônicas”, diz o epidemiologista.
Mesmo quando a pessoa tem um trabalho fisicamente ativo, é importante se exercitar no tempo livre. “A modalidade de atividade física que tem mais evidências de benefícios para a saúde é aquela praticada no tempo livre”, diz. Na análise, Oliveira e seus colegas observaram que mulheres são ainda mais inativas do que homens. Entre a população feminina, 63% é fisicamente inativa, enquanto na população masculina, 56% não se exercita. “Isso acontece, possivelmente, por questões socioculturais relacionadas ao trabalho, afazeres domésticos e à maternidade”, pontua.
No artigo, os pesquisadores apontam que é preciso investir em ações e programas de educação na atenção primária de saúde, promovendo e prescrevendo atividades físicas nas comunidades, cidades e municípios. “Esses programas precisam ser subsidiados”, diz Oliveira. Em um estudo multicêntrico, publicado por pesquisadores de instituições do Brasil e Estados Unidos, em 2014, apenas 40% de todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) do país apresentavam programas de promoção de atividades físicas.
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