Depois de enfrentar, por nove anos, a acne e, por oito meses, um tratamento sofrido com isotretinoína (Roacutan), o engenheiro Leonardo Conti, de 28 anos, se deparou com um terceiro problema: as cicatrizes. "Passei em muitos dermatologistas e nunca me receitaram o medicamento. Sempre tive a autoestima muito baixa e, além disso, doía muito meu rosto nas regiões com espinhas. Era desconfortável. O período de oito meses tomando o medicamento foi muito difícil, tive que ter acompanhamento psicológico. Ele resolveu todos os problemas com a acne ativa, mas ficaram as cicatrizes", conta Leonardo.
"As cicatrizes com o tempo começaram a me incomodar. Mesmo muito feliz por não ter mais acne e sem sentir dor, minha autoestima não estava muito boa pelas marcas na pele. Sempre me comparava muito olhando a pele perfeita dos outros", acrescenta o engenheiro, que costumava deixar a barba crescer para esconder parte das marcas. Leonardo é o exemplo típico de quem mais sofre com cicatriz de acne: homem, com histórico familiar de acne e que desenvolveu a doença em sua forma grave. Segundo um estudo recente que revisou 37 estudos científicos, são esses pacientes que são mais predispostos a desenvolver esse tipo de sequela. A revisão destaca que 47% dos pacientes com acne sofrem de cicatrizes de acne e foram identificados esses três fatores de risco.
As cicatrizes de acne são um tipo de sequela que afeta a textura da pele, que passa a apresentar relevo irregular - com depressões ou elevações que surgem exatamente onde estava a espinha. "As cicatrizes de acne invariavelmente são profundas, pois as glândulas das quais se originam as espinhas estão na derme profunda. Então, as fibras da pele têm sua arquitetura comprometida pelas espinhas", explica o dermatologista doutor em dermatologia pela Universidade de São Paulo (USP) e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Abdo Salomão.
"A acne, apesar de não envolver maiores riscos para a saúde sistêmica do organismo, tem um impacto psicológico significativo, mesmo quando leve, e afeta a qualidade de vida do paciente e a autoestima, além de poder gerar quadros de ansiedade e até depressão. Por isso, não deve ser subestimada e sempre deve ser tratada. Para evitar danos, o primeiro passo é ir ao dermatologista", explica a dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Paola Pomerantzeff.
"Recomendamos sempre iniciar o tratamento o mais breve possível para controlar a inflamação o quanto antes e prevenir lesões e possíveis cicatrizes. Antes, havia um conceito de 'esperar uma certa idade' para iniciar o tratamento. Hoje, sabe-se que a idade ideal para iniciar o tratamento é o quanto antes, assim que o diagnóstico for feito", completa a médica. A demora no início do tratamento aumenta a inflamação e pode levar ao aparecimento de cicatrizes. "As cicatrizes de acne são extremamente difíceis de serem tratadas e podem levar a consequências psicológicas importantes. Lembrando que o tratamento curativo para casos severos continua sendo o tratamento via oral com isotretinoína", conta Paola.
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As cicatrizes de Leonardo eram depressivas, o que a dermatologia chama de atróficas. De acordo com o dermatologista, as sequelas atróficas são uma das mais comuns, onde ocorre um afundamento e afinamento da pele. Já as hipertróficas são formadas pelo excesso de tecido cicatricial resultando em elevação com deformação da pele. "As lesões ainda podem deixar manchas", diz o médico. "As pessoas viam os buracos na minha pele e isso me incomodava. Em fotos, dependendo da luz, sempre ficavam muito nítidas as cicatrizes. Isso me afetou muito com o tempo e foi quando decidir fazer o procedimento de microagulhamento", diz Leonardo Conti. Ele já notou diferenças em duas sessões do tratamento que combina o dermaroller com a aplicação injetável de um produto "muito dolorido". "Estou muito feliz por ter conseguido superar esses processos", completo.
O tratamento das sequelas é um desafio e precisa ser avaliado caso a caso. Laser, microagulhamento, radiofrequência microagulhada, fármacos tópicos e orais podem entrar no protocolo, segundo os médicos. "Em alguns casos, usamos o Laser Erbium 1350nm Total Remake, que tem um comprimento de onda com altíssima penetração por apresentar baixa afinidade pela água. Assim ele é capaz de tratar tanto a superfície quanto a profundidade da pele", diz Abdo. Outra possibilidade, segundo o médico, é associar laser e eletroderme, um tipo de radiofrequência microagulhada. "Em poucas sessões, há um abrandamento da cicatriz, tanto no que diz respeito à coloração quanto à alteração de relevo. O laser Pro Collagen estimula colágeno e a eletroderme penetra profundamente na pele, promovendo coagulação, aquecimento e reorganização das fibras de colágeno (danificadas pela acne). Os efeitos são sinérgicos", explica o médico.
Há a possibilidade ainda, segundo o médico, de aproveitar os canais de entrada da pele, abertos pelas agulhas, para realizar o drug-delivery, que consiste na aplicação de fármacos nesses casos para penetração mais profunda. "Substâncias como Hydroxyprolisilane CN e Hyaxel podem ser aplicadas para melhorar o processo de cicatrização. Ambos ativos são vetorizados pelo silício orgânico, o que ajuda na formação de colágeno. No primeiro caso, a hidroxiprolina melhora a organização do tecido conjuntivo e estimula a produção de colágeno e elastina de boa qualidade. Já Hyaxel traz o ácido hialurônico em baixo peso molecular, o que ajuda a melhorar a hidratação e a textura da pele", destaca a farmacêutica Patrícia França, gerente científica da Biotec Dermocosméticos.
Ela também indica suplementos para ajudar na dura missão e faz um alerta: "Por mais que você já tenha passado pelo tratamento convencional da acne, elas podem voltar e o que dificulta a cura é a alimentação de alto índice glicêmico, porque toda cicatrização ruim é advinda de um processo inflamatório interno, crônico, do paciente que coexiste com questões como: o excesso de produção de sebo, o estresse, o sono. Nesse sentido, os nutracêuticos agem para diminuir a inflamação, o comprometimento do colágeno por conta da alimentação e, também, estimulando a síntese de dessa proteína", diz Patrícia.
"Os suplementos com FC Oral e Glycoxil otimizam essa resposta terapêutica, pois o primeiro é um fosfolipídeo de origem marinha rico em ácidos graxos poli-insaturados (PUFA) ômega 3 (DHA e EPA), Astaxantina e vitamina E que age como anti-inflamatório sistêmico, enquanto Glycoxil diminui o impacto que o açúcar promove na pele, como a acne", diz a farmacêutica. "Outra via de ação é com Exsynutriment, um silício orgânico biodisponível, que ajuda a melhorar a síntese de colágeno para refazer as fibras rompidas e é muito utilizado para aprimorar a resposta dos tratamentos com tecnologias", destaca.
Paola destaca que uma novidade para o tratamento é o Morpheus 8 que, dependendo do caso de cicatriz de acne, pode ser associado ao skinbooster (uso de ácido hialurônico injetável para melhora da hidratação). O aparelho de microagulhamento com radiofrequência tem agulhas que atingem até 7mm de profundidade e liberam calor quando estão "dentro da pele". "As agulhas fazem o microagulhamento na superfície da pele, melhorando cicatrizes. Já a energia térmica gerada pela radiofrequência em diferentes camadas da pele (porque as profundidades variam de 1mm até 7mm dependendo da região a ser tratada), levam à produção de novas fibras de colágeno e 'reorganização dos tecidos'. O resultado é uma pele mais firme e com melhor textura", diz a dermatologista. "Alguns dias após finalizar todas as sessões indicadas de Morpheus (1 a 3 dependendo de cada caso), podemos iniciar as aplicações de skinbooster que, por sua vez, age atraindo água para a pele, o que melhora a hidratação, o viço e a textura, além de corrigir possíveis alterações de relevo", finaliza.