close do médico cientista olhando para o microscópio médico, analisando a amostra de sangue

Angelica Vieira, pesquisadora do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG e líder da pesquisa, explica que, "a origem do aumento da resistência bacteriana é incerta, podendo estar ligado ao uso excessivo de antibióticos sem prescrição ou à própria infecção pelo vírus"

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Uma pesquisa mostra pela primeira vez a associação entre COVID longa e alterações no funcionamento da microbiota intestinal. Mesmo quadros leves ou assintomáticos de COVID-19 estão relacionados à maior presença de bactérias resistentes a antibióticos no intestino quando comparados a indivíduos saudáveis. São constatações que pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e outros de instituições brasileiras e estrangeiras apontam em artigo publicado na revista "Gut Microbes" nessa terça-feira (5/9).

Foram observadas as amostras fecais de dois grupos de 131 voluntários, divididos entre aqueles que foram infectados pelo vírus da COVID-19 anteriormente e os que não tiveram a doença, verificando maior número de bactérias resistentes nas fezes no primeiro grupo. As pessoas que se voluntariam já estavam sem traços do vírus da COVID-19 e não tiveram casos graves da doença ou associados a hospitalizações.

Angelica Vieira, pesquisadora do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG e líder da pesquisa, explica que, "a origem do aumento da resistência bacteriana é incerta, podendo estar ligado ao uso excessivo de antibióticos sem prescrição ou à própria infecção pelo vírus".



Para comprovar os dados, camundongos livres de germes receberam amostras de fezes humanas -coletadas meses após os volunários terem tido Covid. Os animais manifestaram sintomas como baixa cognição, perda da memória, mudança da fisiologia intestinal e inflamação pulmonar, que comprometeu a resposta imune do pulmão desses camundongos na defesa subsequente a uma infecção bacteriana pulmonar. Já essas mesmas alterações, quando comparadas, não foram observadas nos camundongos que receberam fezes de pessoas que não tiveram COVID-19.

Antes da pandemia, os efeitos da má alimentação no aumento da resistência a antibióticos já era tema de estudo do grupo de Profa. Vieira. O intestino, na condição de reservatório desses microrganismos, já era olhado com atenção. O trabalho agora reforça a importância de conter o avanço das superbactérias no contexto da COVID-19. "A COVID está acelerando outra pandemia que já estava prevista, a de organismos microbianos resistentes, como as superbactérias", alerta Angelica.

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Tanto a canja rica em alimentos nutritivos das vovós quanto o alimento rico em fibras que trouxer melhor qualidade de vida é bom para nossa saúde, afinal, "entender os mecanismos de disseminação de bactérias resistentes nos ajuda a pensar em estratégias terapêuticas que mantêm a nossa microbiota benéfica que vive no nosso intestino e ajuda a ter uma imunidade e qualidade de vida bem melhor", eexplica Angelica.

Futuros estudos do grupo da UFMG devem seguir investigando as sequelas pós-COVID na microbiota humana, mas o fato é que a adoção de padrões alimentares mais saudáveis - rica nutricionalmente e que aquecem ou confortam - como forma de prevenir ou reverter os sintomas da infecção são um caminho para uma vida mais saudável.