O livro “The Wellness Trap” (A armadilha do bem-estar), de Christy Harrison, é o resultado de nove anos de pesquisas que a nutricionista coletou sobre a indústria da qualidade de vida, que às vezes abraça o marketing e se esquece da ciência. Na obra, ela oferece algumas estratégias para que as pessoas consigam avaliar orientações de saúde. 




 
O neurocirurgião Felipe Mendes, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), diz que muitos absurdos postados no mundo virtual são um risco para a saúde e para o bem-estar daqueles que não têm ferramentas ou conhecimento para se salvar de armadilhas.
 
Palavras da moda como “milagroso”, “pioneiro”, “secreto”, "biohack, “detox”, “natural” já são um indício de que, no mínimo, é preciso pesquisar mais para confirmar tais termos. Aliás, Christy Harrison avisa que, se algo é milagroso é porque não querem que as pessoas saibam o que realmente é. O risco é adotar algo, um remédio, por exemplo, que pode ter efeitos colaterais ou exceder tratamentos médicos. É comum as pessoas fazerem sua pesquisa no “dr. Google”, nas redes sociais ou mesmo nos grupos de WhatsApp e, assim, se tornarem presas fáceis de informações mentirosas, além de vivenciarem experiências negativas.

Felipe avisa que, para identificar fake news sobr
e saúde e bem-estar, a primeira atitude é verificar a fonte da informação. “Procure sites oficiais e profissionais de saúde bem estabelecidos e confiáveis, instituições médicas, universidades ou especialistas reconhecidos. Evite fontes desconhecidas ou que pareçam promover soluções 'milagrosas', sem embasamento científico. Busque saber se a informação é apoiada por evidências científicas sólidas. Procure por estudos revisados por pares que sustentem as alegações feitas. Conselhos baseados em evidências têm mais probabilidade de serem confiáveis e eficazes.”





RESULTADOS É fundamental ficar atento a promessas exageradas. “Dicas que prometem resultados rápidos e extremos, como perda de peso significativa em poucos dias ou curas milagrosas para doenças graves, geralmente são suspeitos. Tenha cuidado com informações que não fornecem referências ou fontes para suas afirmações. Nenhuma cura e nenhuma melhora da saúde ocorre do dia para a noite.”
 
O especialista lembra ainda que é fundamental evitar conselhos que contradigam amplamente o que a comunidade médica ou científica geralmente aceita. “Informações controversas ou em oposição ao consenso científico podem ser enganosas. Esteja ciente de que há interesses financeiros por trás de certas orientações. Se a informação estiver sendo promovida com o objetivo principal de vender produtos ou serviços, é importante abordá-la com ceticismo.”
 
É comum nos dias de hoje as pessoas recorrerem à internet para obter informações sobre saúde e sintomas médicos, mas também é importante evitar cair nas armadilhas. Para alguns pode ser difícil não ser seduzido pelo “dr.Google”. “Primeiramente, reconheça suas limitações. A internet pode fornecer informações úteis, mas não é um substituto para o conhecimento e a experiência de um profissional de saúde qualificado. Verifique a credibilidade da fonte”, comenta o neurocirurgião. 




 
“Outra dica é evitar diagnósticos por conta própria. Tentar diagnosticar doenças com base em informações encontradas na internet pode ser perigoso e levar a conclusões erradas. Tenha cuidado com informações que não fornecem referências ou fontes para suas afirmações. Dados confiáveis devem estar apoiados em estudos ou especialistas respeitados”, destaca Felipe Mendes.
 
Quem acredita em notícias falsas nas áreas de saúde e bem-estar coloca em risco o corpo físico e o equilíbrio mental. “Acreditar em notícias falsas pode ser extremamente prejudicial e perigoso. As fake news nessas áreas têm o potencial de causar danos físicos, emocionais e mentais, e podem ter consequências sérias para a saúde”, alerta o médico.

DIAGNÓSTICOS De acordo com o neurocirurgião, as fake news, frequentemente, promovem tratamentos e curas não comprovados, podendo levar as pessoas a tomarem decisões erradas em relação à própria saúde. “Seguir conselhos equivocados pode piorar condições médicas ou até mesmo causar graves danos à saúde. A desinformação pode levar as pessoas a ignorarem sintomas preocupantes ou retardar a busca por diagnósticos adequados, o que pode resultar em uma avaliação tardia de doenças graves, diminuindo as chances de tratamento bem-sucedido.”




 
Sem falar, destaca Felipe Mendes, que as notícias falsas podem causar medo e ansiedade desnecessariamente, levando as pessoas a se preocuparem com problemas de saúde que não existem ou que são exagerados. “Elas também podem levar as pessoas a ignorarem dados baseados em evidências científicas sólidas e consistentes, o que as impedem de tomar decisões seguras em relação à saúde. E ainda ocorre uma inversão sobre o que é verdade ou não, aumentando a desconfiança em relação a informações médicas.”
 

O neurocirurgião Felipe Mendes explica que, para identificar fake news sobre saúde e bem-estar, o primeiro passo é verificar a fonte da informação

(foto: Marcos Vieira /EM/DA. Press )
 
 
A internet aceita tudo 
 
Resposta rápida, no momento que procura, sem espera e, acredita-se, “verdadeira”, “correta”. É o que procuram as pessoas que navegam pela rede à procura de informações sobre qualidade de vida, saúde e bem-estar. Mas se já “os antigos” já diziam que uma folha de papel aceita tudo, a máxima também vale para as telas por onde navega a sociedade digital do século 21. Tem de tudo. 
A estudante de odontologia Amanda Ribeiro Fonseca de Souza, de 27 anos, diz que tem interesse em pesquisar sobre saúde, bem-estar e qualidade de vida. “Costumo procurar informações sobre nutrição, exercícios físicos e métodos para lidar com o estresse e ansiedade.”




 
Amanda conta que, numa dessas pesquisas, seguiu recomendações que foram prejudiciais. “Em uma ocasião, vi uma receita caseira para tratar uma alergia de pele que estava tendo. A receita tinha uma mistura de ingredientes naturais, que supostamente aliviariam os sintomas da alergia.” Armadilha na medida para prender Amanda. “Embora a receita parecesse inofensiva, depois de aplicá-la na pele, percebi que a alergia piorou significativamente e a área afetada ficou mais irritada. Em vez de melhorar, a condição se agravou e tive que buscar ajuda médica para tratar o problema adequadamente.”

COMO SE PROTEGER Amanda aprendeu a lição da pior forma, sentiu literalmente na pele. O que a fez mudar de comportamento. Agora, ela conta que “avalio a confiabilidade das informações com base em critérios como fonte, autoridade, referências, consistência e evitando sensacionalismo. Essas regras me ajudam a discernir entre informações confiáveis e conselhos potencialmente falsos ou enganosos na internet”.
Mesmo assim, Amanda afirma que não se sente segura: Ainda temo, já que a internet pode conter informações conflitantes ou imprecisas. Então, quando encontro um dado importante ou que tenha impacto significativo na saúde e no bem-estar, tento confirmar essas informações em várias fontes confiáveis antes de considerá-la como verdadeira”.





PROMESSAS Amanda reconhece que “as informações que obtenho por meio das redes que prometem soluções rápidas e milagrosas para problemas de saúde e bem-estar podem ser tentadores e cativantes. A promessa de uma solução rápida para questões como estresse, ansiedade, perda de peso ou tratamento de doenças pode ser muito sedutora. Especialmente, quando alguém está passando por dificuldades e buscando alívio imediato. Logo despertam o interesse, já que oferecem a perspectiva de resolver problemas de forma fácil e sem esforço. No entanto, é importante lembrar que, na maioria das vezes, essas promessas são exageradas ou até mesmo falsas. Remédios milagrosos e dietas definitivas raramente têm base científica sólida e podem ser perigosos à saúde”.
 
Para a futura dentista, “essas promessas enganosas são um dos principais motivos para a disseminação de conselhos falsos na internet. Muitos sites e influenciadores se aproveitam do desejo das pessoas por soluções rápidas e fáceis, levando-as a experimentar coisas que podem ser ineficazes ou prejudiciais”.
 
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“Não é uma dieta, é um estilo de vida.” Você provavelmente já ouviu essa frase de várias pessoas quando o assunto é bem-estar. Mas como Christy Harrison revela em seu último livro, The Wellness Trap (A armadilha do bem-estar), a cultura do bem-estar promove um padrão de saúde que muitas vezes é inatingível e profundamente prejudicial. The Wellness Trap investiga os persistentes problemas sistêmicos dessa indústria, oferecendo informações sobre apropriação cultural e visões destrutivas sobre a saúde mental. Além disso, a escritora esclarece como uma crescente desconfiança da medicina convencional levou as pessoas comuns a virarem as costas para a ciência.  

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