Uma mancha no fundo dos olhos de Benjamin mudou tudo na vida da família. O garoto, hoje com dois anos, está em tratamento de um câncer ocular chamado retinoblastoma, que no caso dele atingiu os dois olhos. A doença é o tumor ocular mais comum em crianças, segundo o Ministério da Saúde.
Daniele de Amarati Betiati, de 29anos, mãe do menino, conta que procurou informações desde que reparou na primeira manchinha, mas não encontrou nenhum conteúdo aprofundado na internet. Ela acabou conhecendo melhor a doença após assistir a uma reportagem com os jornalistas Tiago Leifert e Daiana Garbin, que têm uma filha com a doença e há dois anos fazem uma campanha nacional para divulgar a importância do diagnóstico precoce, que aumenta em até 90% as chances de cura.
"Eu vi, não foi por foto. Ele olhou para a luz e eu enxerguei o reflexo. É super importante as pessoas saberem sobre o diagnóstico e a manchinha branca. Não havia nenhum caso na família", afirma. O teste do olhinho é feito no primeiro mês de vida e deve ser repetido ao longo dos três primeiros anos da criança. O exame identifica, entre outras doenças, o retinoblastoma.
Em reforço ao Dia Nacional de Conscientização e Incentivo ao Diagnóstico Precoce do Retinoblastoma, nesta segunda-feira (18/9), Leifer e Garbin promovem a campanha "De Olho Nos Olhinhos". A proposta é apoiada pelo Graac e Conselho Federal de Medicina, entre outras entidades. A filha do casal, Lua, hoje com 2 anos, foi diagnosticada com retinoblastoma em grau considerado avançado aos 11 meses e segue em tratamento. A maioria dos casos ocorre em bebês e crianças de até cinco anos.
O pediatra Donizetti Giamberardino, do CFM, afirmou, por meio da assessoria da entidade, que o teste do olhinho ou teste do reflexo vermelho (TRV ) é um exame simples e rápido. "Trata-se de uma projeção de luz nos olhos, em ambiente escurecido, para observação de reflexos. Não há necessidade de uso de colírios para dilatar as pupilas." Se for observado um "reflexo vermelho" na retina, como o que ocorre quando tiramos uma foto com flash, significa que as estruturas dos olhos estão transparentes e saudáveis.
Quando existe opacidade anormal, porém, há indício da doença e pode ocorrer a pupila branca (leucoria) ou perda do reflexo. Além do exame na maternidade e nos primeiros anos de vida com o pediatra ou médico capacitado, Giamberardino também recomenda uma avaliação oftalmológica logo nos primeiros seis meses de idade.
A oftalmopediatra Alexia Caldas, especialista em estrabismo pelo Hospital das Clínicas da Unicamp (Universidade de Campinas), destaca que o prognóstico e duração do tratamento dependem do início do tratamento, tamanho do tumor e se existem ou não metástases. "Se diagnosticado precocemente, tem um grande potencial de cura e sobrevida com boa qualidade visual", afirma a médica.
Tumores pequenos são tratados com laserterapia e crioterapia. O tratamento pode incluir ainda radioterapia, quimioterapia, e até a retirada do olho atingido (enucleação).
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Nos primeiros estágios da doença, o tratamento com radioterapia tem usualmente apresentado resultados promissores, segundo o oftalmologista Marcelo Jordão Lopes da Silva, médico do Hospital das Clínicas da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo).
"Quanto mais precoce o diagnóstico melhor, porque é uma doença que com certeza pode levar à cegueira", diz ele.
Benjamin, que é do Paraná, da cidade de Cascavel, faz tratamento no Hospital do GRAACC, em São Paulo. A doença está estabilizada, mas ele segue com quimioterapia intra-arterial no lado esquerdo e laser na retina do lado direito.
Luiz Teixeira, oftalmologista do Hospital Graac, afirma que o procedimento intra-arterial é minimamente invasivo e um dos mais avançados. Consiste em injetar a medicação diretamente na artéria oftálmica para atuar no foco da doença.
"Esse procedimento, juntamente com a quimioterapia sistêmica, quimioterapia intraocular e demais técnicas de tratamento local, reduz, em média, para 20% as necessidades de enucleação", aponta Teixeira.
O tumor ocular representa cerca de 3% dos cânceres infantis, com cerca de 400 casos por ano, conforme dados do Ministério da Saúde. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que existem três tipos de retinoblastoma, sendo a maioria deles (entre 60% e 75%) do tipo unilateral. Apenas 15% dos casos são hereditários, mas nestes há maior risco de ocorrência do tipo bilateral, como o de Benjamin, que atinge os dois olhos. O terceiro tipo é a chamado trilateral, quando há tumores nos dois olhos e também em células nervosas primitivas do cérebro.
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