Deborah Colker

Deborah Colker e participantes do Congresso da Debra Brasil

Jair Amaral/EM/D.A Press

Imagine uma criança que não pode brincar. Que tem dificuldade para mastigar e engolir porque a traqueia está fechada – e, por isso, é submetida a cirurgias recorrentes –, e, ainda por cima, sofre com dores crônicas. A descrição faz parte de uma lista de sintomas e limitações físicas associadas à epidermólise bolhosa (EB), doença genética que, entre outros sintomas, causa bolhas internas e externas pelo corpo.


No Brasil, calcula-se que haja cinco mil pacientes com EB. Em Uberaba, no Triângulo Mineiro, o Hospital Pênfigo, fundado em 1957, é única unidade hospitalar dedicada a tratar exclusivamente a enfermidade. A fundadora da instituição, Aparecida Conceição Ferreira, amiga de Chico Xavier, sempre contou com doações diversas, incluindo parte da receita arrecadada com os livros psicografados pelo médium.

Menino com Epidermólise Bolhosa

Ana Luiza e o Filho Theo

Jair Amaral/EM/D.A Press
A doença não tem cura. O tratamento depende de uma equipe de profissionais especializados em várias áreas da medicina e que podem apenas prescrever cuidados paliativos - curativos e cirurgias para "enxugar gelo", descreve Ana Luiza Muzzi, mãe do Theo, de 5 anos.

Depois de uma breve relato sobre a história de Theo, que a fez ficar com os olhos marejados, Ana Luiza faz uma pausa e adianta que em breve travará outra batalha, que acontece cotidianamente – em consultórios médicos, hospitais e em casa, onde uma home-care foi montada para suprir os cuidados que a doença exige.


Ela garante que o filho vai frequentar uma escola. "Nem que seja com o acompanhamento de uma enfermeira", afirma. Um pouco antes, a reportagem do Estado de Minas conversou com Cláudia Maria  Portela Euletério, de 64 anos, que só pôde concluir o ensino médio graças a professores particulares contratados pelos pais.

A história de Cláudia é única não só por fazer parte de um grupo acometido por uma doença rara, mas por sua sobrevida, já que a expectativa de vida de quem sofre com EB é, em média, de 20 anos. "O que trouxe você até aqui?", pergunta a reportagem. "Os meus pais, a minha família (irmãos e primos) e a minha fé. Penso que eu tenho uma missão", responde ela.

Mulher com Epidermólise Bolhosa

Cláudia Maria Portela Euletério

Jair Amaral/EM/D.A Press
Cláudia fundou a primeira associação de pacientes da EB em Minas Gerais e trouxe a Debra Internacional para o Brasil. A Associação Nacional de Epidermólise Bolhosa (Debra) foi fundada em 1978, no Reino Unido, por um casal de médicos que teve um filho diagnosticado com a EB.

 

Cláudia conta que, até o início da idade adulta, não chegou a conhecer ninguém que teve o diagnóstico confirmada da doença. A irmã mais velha de Cláudia, por sinal, morreu aos três meses de idade, mas não teve diagnóstico de EB.

 

Encontro realizado no Palácio das Mangabeiras

A missão de Cláudia já rendeu quatro congressos da Debra Brasil, que reúne pacientes, parentes, amigos e profissionais afins ao tratamento da doença. Neste ano, o encontro foi sediado em Belo Horizonte, nesta sexta-feira (22/09), no Palácio das Mangabeiras, antiga residência oficial dos governadores mineiros.

Nele, a reportagem encontrou uma artista brasileira, aclamada pela crítica nacional e internacional – a balarina e coreógrafa Deborah Colker. "Theo é o meu primeiro neto e sou apaixonada por ele", contou à plateia. À reportagem, a bailarina revelou a experiência dolorosa que foi descobrir, no nascimento do neto, a epidermólise bolhosa.

Theo nasceu já com as marcas em um pé, na mão e na cabeça. Um atrito qualquer pode provocar as bolhas, que precisam ser estouradas com seringas – para evitar lesões mais graves – higienizadas e tratadas com curativos específicos, que costumam ser caros. Mas Deborah corrige a reportagem: "não são caros. São necessários", pontua. Em média, um paciente precisa de R$ 30 mil mensais para ser cuidado adequadamente.

Nova injeção é esperança para os pacientes


O 4º Congresso Debra Brasil trouxe uma esperança para os pacientes de EB. A partir do mês que vem, começa a ser comercializada nos Estados Unidos uma injeção que poderá minimizar o sofrimento provocado pelo estouro das bolhas.

O presidente da Debra Brasil, o administrador de empresas Leandro Rossi, tio de Theo, de três anos, filho da Maria Luiza, contou que o medicamento, além de minimizar o sofrimento das dores provocadas pelas bolhas e diminuir sequelas, ainda traz a promessa de diminuir em até 90% o risco de carcinomas.

Em função dessa esperança, Deborah Colker se despediu apressada da repórter para entrar na sala onde acontecia a palestra sobre o novo medicamento. Afinal, essa é uma "doença cruel", lembra a coreógrafa. Com sequelas não só físicas, mas também psicológicas.

Jovem com Epidermólise Bolhosa

Larissa Miranda Teixeira

Jair Amaral/EM/D.A Press
E foi pensando nisso que Larissa Miranda Teixeira, 26 anos, que vive as agruras da doença, formou-se este ano em psicologia. "O meu próximo desafio é começar a atender na clínica. A minha vivência pode ajudar pessoas a enfrentar seus desafios", diz.

Criança com Epidermólise Bolhosa

Edson Oliveira e o filho Caio

Jair Amaral/EM/D.A Press
O operador de retroescavadeira Edson de Oliveira, pai de dois filhos com EB, contou que o maior desafio é ver os filhos sofrendo com a dores e as limitações provocadas pela doença. Não bastasse isso, ele precisou entrar na Justiça para garantir tratamento adequado para Caio, de 2 anos, e Gulherme, de 15 anos. "Eles sofrem mais do que a gente, é claro. Mas doí muito ver o sofrimento deles", lamenta.