A primavera chegou e a previsão é de que a estação tenha temperaturas acima da média devido à influência do El Niño. Depois de um inverno também atípico, a onda de calor já reflete no consumo de eletricidade do país, impulsionado pelo maior uso de ar-condicionado e ventiladores. Mas como a temperatura influencia na qualidade do sono?
Um estudo realizado pela Harvard Medical School coletou quase 11 mil registros de noites dormidas e dados ambientais de 50 idosos. A pesquisa ressaltou o impacto das mudanças climáticas na qualidade do sono na população de maior idade. Foi constatado que o sono pode ser mais eficiente e reparador quando a temperatura do quarto variar entre 20°C e 25°C.
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"Essa é a parcela da população que mais sofre com o sono inadequado, o que influencia nos resultados relacionados à saúde e bem-estar, como função cognitiva e física, humor e afeto, irritabilidade e reação ao estresse, produtividade, controle da diabetes e risco de doenças cardiovasculares. O estudo ressalta o impacto potencial das mudanças climáticas na qualidade do sono em idosos, particularmente aqueles com status socioeconômico mais baixo", sinaliza o membro da American Academy of Sleep Medicine (AASM) e da European Respiratory Society (ERS).
As mudanças na maneira de dormir fazem parte do processo de envelhecimento. Com o passar dos anos, ocorre a diminuição da quantidade de sono profundo e o aumento dos despertares noturnos, motivo que faz o cochilo depois do almoço ser essencial. Gleison Guimarães afirma que, em áreas com temperaturas mais altas e sem acesso à refrigeração, idosos podem ter mais dificuldade em descansar.
"Países tropicais tendem a ter temperaturas mais altas e umidade elevada, o que pode tornar o quarto um ambiente menos confortável, especialmente sem climatização adequada. Quando pensamos na aposentadoria composta por um salário mínimo, dificilmente uma pessoa que a recebe vai ter condições de pagar pela conta de luz elevada no fim do mês. Portanto, podemos falar que a renda também pode influenciar, mesmo que indiretamente, na qualidade do sono", explica o especialista.
Para conquistar as sete ou oito horas de descanso recomendadas, muitas vezes as abordagens para melhorar a qualidade do repouso se concentram em tratamentos médicos, sempre associados às mudanças comportamentais. Apenas a medicação pode não ser suficiente, de acordo com Gleison Guimarães.
"Presencio uma negligência com relação às intervenções ambientais, como ajustar a temperatura, a ausência de barulho ou a adoção de ruídos, ou mesmo a iluminação do ambiente, que também precisa estar correta. O quarto deve ser promovido a um santuário do sono. Essas medidas ambientais podem auxiliar muito, mas são menos exploradas, infelizmente", aponta o especialista.