SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A disseminação do conhecimento sobre câncer de mama já atinge 9 em cada 10 (97%) mulheres no país, das quais 69% se consideram bem informadas e 28% mais ou menos informadas.
Porém, essas taxas caem entre as mulheres negras, com até o ensino fundamental completo, e das classes D e E, nas quais os índices daquelas que se consideram menos informadas sobre o câncer de mama são maiores.
As mulheres pretas (28%) e pardas (33%) relatam mais dificuldade para obter informação sobre câncer de mama em comparação às brancas (20%).
Entre aquelas que têm nível superior, por outro lado, 78% se classificam como bem informadas, contra 64% entre quem só tem o fundamental completo.
Na separação por classes econômicas, as mulheres de classes A e B são classificadas como bem informadas (82%), enquanto 58% das respondentes de classes D/E afirmam ter conhecimento sobre a condição.
Essa disparidade também aparece nas regiões do país: enquanto em cidades das regiões Sul e Sudeste 78% e 75%, respectivamente, se consideram bem informadas sobre o câncer, essa taxa cai para 64% na região Nordeste e 51% no Norte/Centro-Oeste.
Os dados do estudo revelam como as barreiras ao acesso no conhecimento sobre câncer afetam de maneira desproporcional mulheres dos estados fora do eixo Sul-Sudeste, pobres, com baixa escolaridade e negras.
A pesquisa, feita pelo Datafolha a pedido da farmacêutica Gilead Sciences, mapeou o nível de conhecimento das mulheres brasileiras sobre o câncer de mama e as suas percepções sobre a doença. Os resultados foram apresentados nesta quarta-feira (27) durante a 10ª edição do congresso Todos Juntos Contra o Câncer, que reúne mais de 300 organizações da sociedade civil, em São Paulo.
Foram ouvidas 1.007 mulheres de 25 a 65 anos, via telefone celular, de todas as regiões do país, incluindo capitais, regiões metropolitanas e interior, entre os dias 24 de novembro e 14 de dezembro de 2022. O IC (índice de confiança) é de 95%, e a margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
Entre as entrevistadas, 54% tinham idade entre 30 e 49 anos, 56% eram negras (pretas e pardas) e 48% das entrevistadas eram da classe C (17% A/B e 36% D/E). Em relação ao nível de escolaridade, 33% tinham apenas o ensino fundamental, 44% o ensino médio e 23% diploma de nível superior.
Em relação a onde as entrevistadas disseram buscar informação sobre câncer de mama, quem tem ensino superior completo disse buscar mais informação na internet (47%) e no médico (39%), assim como aquelas de classe A/B (48% e 41%, respectivamente). Essas taxas caem para 9% e 20%, entre as respondentes com ensino fundamental, e 14% e 18%, das classes D/E, respectivamente.
Por outro lado, os postos de saúde e UBSs são procurados por 11% das mulheres com ensino fundamental, número que vai a 5% entre aquelas com diploma universitário.
"Essa pesquisa foi muito clara em mostrar como essa população que tem menor escolaridade, menor renda, e que tem essa coincidência que obviamente não é uma coincidência, ser a população negra, tem menor acesso à informação", avalia a médica oncologista Ana Amélia Viana, professora do Ambulatório de Oncologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia).
Segundo ela, essa é a população em que a incidência de fatores de risco para câncer, como obesidade, diabetes e hipertensão, também é maior. "Elas estão expostas a menos oportunidades para acessar conhecimento e especialmente qualidade na informação", diz ela, que também faz parte do Comitê de Diversidade da Sboc (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica).
Quando perguntadas sobre os fatores que levam ao aparecimento do câncer de mama, a maioria das respondentes (69%) diz que mulheres com uma vida saudável, com boa alimentação e a prática de exercícios regularmente, têm menos chances de desenvolver câncer, mas esse índice cai para 41% entre mulheres pretas.
"Existem poucos estudos de caráter nacional no país, mas algumas pesquisas americanas mostram que as mulheres negras em relação às brancas não têm maior incidência de câncer de mama, as brancas chegam a ter mais casos diagnosticados. A diferença é que entre as negras a mortalidade é 40% maior", explica.
E, como muitos desses fatores de risco para câncer são previníveis, faltam informações sobre prevenção de saúde, segundo Luciana Holtz, presidente-fundadora do Instituto Oncoguia. "Nosso papel, como associação, está mais focado em atuar no conhecimento para as pacientes, mas também notamos barreiras relacionadas ao medo e desinteresse. Por exemplo, existem mitos ainda de que o assunto de câncer de mama é de mulheres mais velhas, que mulheres jovens não devem fazer mamografia, que vemos ainda como esse é um desafio e uma ação contínua ", diz.
Esse dado é compartilhado por 51% das mulheres com escolaridade até o fundamental, mas cai para 21% entre as que possuem ensino superior. "Esse momento de conscientização, da campanha Outubro Rosa, tem que ser usado para falar de prevenção e da importância da mamografia para diagnóstico precoce, porque a gente vê cada vez mais os diagnósticos ocorrendo antes dos 50 anos", avalia Viana.
Dentre as respondentes, 75% disseram ser usuárias do SUS (Sistema Único de Saúde). Nesta faixa, são 40% das mulheres que usam exclusivamente o serviço de saúde público que acreditam que a mamografia em mulheres jovens pode ser prejudicial à saúde.
"Ainda temos um trabalho de sensibilizar o estado, ir atrás dos serviços de saúde que estão voltados ao tratamento oncológico, mas também atingir o maior número de pessoas possível, na atenção primária mesmo. E isso passa também pelo treinamento dos médicos de atenção básica a como identificar e abordar a questão do câncer", completa a médica.