Mosquito da dengue

O imunizante protege contra os quatro sorotipos do vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti

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Nesta segunda-feira (2/10), a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um comunicado onde passa a recomendar a vacina contra a dengue da farmacêutica japonesa Takeda. A Qdenga (TAK-003) demonstrou uma eficacia de 80,2% para evitar contaminações, e de 90,4% para prevenir casos graves. A orientação segue as recomendações do Grupo Consultivo Estratégico de Peritos em Imunização da OMS (Sage, da sigla em inglês), que se reuniu na última semana de setembro. 

Em nota, o órgão destacou que a doença “representa um fardo significativo para a saúde pública em países endêmicos” e alertou que esse impacto “deverá aumentar ainda mais, tanto em termos de incidência como de expansão geográfica, devido às alterações climáticas e à urbanização". 

"Essa é a primeira vacina contra dengue com potencial para uso mais amplo. Muitos países estão enfrentando surtos devastadores de dengue e prevemos o agravamento geral da situação com as alterações climáticas'", disse a chefe do Departamento de Segurança Sanitária do Instituto Finlandês de Saúde e Bem-Estar, presidente do SAGE, Hanna Nohynek, em coletiva de imprensa. 


Como funciona 

A vacina da Takeda utiliza um vírus atenuado para induzir a resposta imunológica e, segundo análise da OMS, demonstrou eficácia contra os quatro sorotipos do patógeno entre crianças. Por isso, o SAGE passou a recomendar que os lugares com carga e transmissão elevadas de dengue considerem a introdução do imunizante. 

De acordo com a Takeda, os estudos clínicos da Qdenga tiveram 28 mil participantes, com acompanhamento de mais de quatro anos dos voluntários da última fase do estudo. Além da eficácia geral de 80,2%, o imunizante alcançou 90,4% de proteção contra hospitalizações pela doença 18 meses após a vacinação. A Qdenga é feita com vírus vivo atenuado do sorotipo dois da dengue.

Só em 2022, o Brasil bateu o recorde da série histórica com 1.016 mortes pela dengue, além de quase 1,5 milhão de casos. Em março deste ano, a farmacêutica japonesa obteve autorização, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),  para comercializar a vacina no país - sendo usada para por pessoas de quatro a 60 anos, independentemente de já ter sido infectado pela dengue ou não.

Já o Sage, recomenda que a vacina seja incorporada para crianças de seis a 16 anos . “Nessa faixa etária, a vacina deve ser introduzida cerca de um a sois anos antes do pico de incidência de hospitalizações relacionadas à dengue, específico para a idade", segundo comunicado. A orientação também diz que as duas doses devem ser administradas com intervalo de três meses entre elas. 

O imunizante protege contra os quatro sorotipos do vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. 

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A vacina começou a ser comercializada nas clínicas particulares no início de julho. Em relação à rede pública, o laboratório solicitou ao Ministério da Saúde, em agosto, a inclusão das doses no Sistema Único de Saúde (SUS).

Nas clínicas, as doses podem ser encontradas por valores que variam entre R$ 400 e R$ 500. Como o esquema envolve duas aplicações, com um intervalo de três meses entre elas, o preço final fica entre R$ 800 e R$ 1 mil.

Diferença para a vacina anterior

A Qdenga não é a primeira contra a dengue recomendada pela OMS. Em 2015, o Brasil aprovou a Dengvaxia, desenvolvida pela Sanofi, que se tornou o primeiro imunizante para a doença com o sinal verde no país. No ano seguinte, foi o primeiro a ser orientado globalmente pelo SAGE.

No entanto, o público-alvo restrito levou a vacina a não ter uma alta adesão. Isso porque ela é indicada apenas àqueles que já foram contaminados anteriormente para evitar um quadro de reinfecção, que costuma ser mais grave. Nesses casos, a eficácia é alta, de quase 80% para evitar doença severa.

Porém, em pessoas soronegativas, ou seja, que nunca tiveram dengue, a dose não se mostrou significativamente eficaz em impedir a infecção. Além disso, não apresentou o perfil ideal de segurança, levando à possibilidade de um risco aumentado de casos graves no período após a vacinação.

Por isso, a Dengvaxia é aprovada somente entre nove a 45 anos e para os que já tiveram a doença. Ela é aplicada no esquema de três doses, com intervalo de seis meses. Assim como a dose da Takeda, ela pode ser encontrada apenas na rede privada no Brasil.