Em um movimento cada dia mais intenso das mulheres em busca do parto natural e vaginal, algumas delas ainda enfrentam um obstáculo no decorrer da gravidez: o feto permanece na posição pélvica (sentado) ou deitado na transversal, em vez de estar com a cabeça para baixo (posição cefálica), o que dificultaria ou até poderia impedir a realização do parto normal.
Com o avanço da gestação e crescimento do feto, é bem difícil que ele gire sozinho para a posição correta - pode acontecer com o auxílio de alguns exercícios, pilates e até mesmo da acupuntura, mas nem sempre isso acontece. Segundo dados da literatura, cerca de 3% a 4% dos bebês continuam sentados no final da gravidez. Além disso, aproximadamente 0,5% ficam atravessados na barriga (com a cabeça para um lado e pé para o outro).
Mas não é para todo mundo. Segundo a médica ginecologista e obstetra Rita Sanchez, coordenadora do setor de medicina fetal do Hospital Israelita Albert Einstein, a VCE é uma alternativa indicada para mulheres que estão com um pré-natal em dia, sem nenhuma intercorrência e sem nenhuma comorbidade, como hipertensão e diabetes, cujos bebês não viraram para a posição correta quando a gravidez atinge 36 semanas ou mais.
"Antes da realização da manobra, é necessário que a gestante faça um bom ultrassom para descartar que tenha uma 'circular de cordão', ou seja, que o cordão umbilical esteja enrolado no pescoço, ou braço ou perna do feto. Além disso, o bebê não pode ter restrição de crescimento, alterações de Doppler, nem nenhum outro problema que possa se tornar um risco para o bebê", explica a médica.
O procedimento deve ser realizado após 35 semanas de gestação, sendo o período ideal entre a 36ª e a 37ª semanas da gravidez. "Isso porque o bebê não está tão grande a ponto de dificultar a manobra, e nem tão prematuro a ponto de que seja um problema caso seja preciso realizar o parto caso aconteça alguma complicação", explica Rômulo Negrini, coordenador-médico da obstetrícia do Hospital Israelita Albert Einstein, que já fez cerca de 15 a 20 manobras em grávidas que acompanhava.
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A VCE nem sempre requer anestesia, pois isso depende da sensibilidade da gestante e da avaliação médica. A anestesia é recomendada nos casos em que a mãe não consegue suportar a dor durante a tentativa de aplicar a técnica. Nessas situações, a gestante é levada para o centro cirúrgico e recebe uma anestesia raquidiana, a mesma usada em cesáreas. Ela permanece acordada durante todo o procedimento.
Foi o que aconteceu com a dona de casa Aline da Silva Gama, de 30 anos. Ela planejou a gravidez e seguiu o pré-natal à risca, com o objetivo de fazer um parto normal. Mas Joana, a bebê, insistia em ficar na posição sentada. A partir da 22ª semana de gestação, Gama passou a ser acompanhada por uma enfermeira obstétrica e, juntas, iniciaram uma maratona de exercícios e técnicas caseiras na tentativa de fazer Joana virar de cabeça para baixo - todas sem sucesso.
"Tentamos de tudo e Joana não virava. Eu estava frustrada e desesperada, achando que teria que ir para uma cesárea de qualquer jeito. Mas o meu médico [doutor Rômulo] comentou a respeito dessa manobra. Na época, eu nem sabia que era possível. Fiquei um pouco receosa, com medo de dar errado, mas acabei aceitando e foi a melhor decisão possível", conta Gama, ao lembrar que após ser anestesiada e o médico iniciar a manobra, Joana mudou de posição rapidamente. "Acho que não demorou nem cinco minutos, foi surpreendente", disse.
Metade das grávidas conseguem
Segundo Negrini, a literatura aponta que o procedimento é bem-sucedido em 35% a 86% das vezes (sendo a média de 58%), portanto a gestante precisa estar ciente de que existe a chance de insucesso.
"Além disso, mesmo que a manobra seja inicialmente bem-sucedida, não há garantia de que o bebê permanecerá com a cabeça para baixo (cefálico) até o final da gravidez. Mais que isso, mesmo que o procedimento dê certo e o bebê esteja de cabeça para baixo no momento do nascimento, as chances de parto vaginal são de cerca de 80%", frisou o médico.
Importante destacar também que a versão cefálica externa não é livre de riscos e um deles é justamente a necessidade de fazer uma cesariana de emergência (é um risco baixo, mas ele existe). Outros riscos incluem mudanças transitórias no ritmo de batimento do coração do bebê; sangramento vaginal; descolamento da placenta; prolapso do cordão umbilical e até mesmo óbito do bebê.
"Algumas complicações geram cesariana de emergência, mas as complicações são bastante raras. O benefício associado à manobra é apenas a possibilidade de um parto normal com menos riscos associados", disse Negrini.
A mulher que deseja um parto normal e descobre que o bebê está sentado deve procurar um especialista na técnica porque nem todos os obstetras possuem treinamento para a realização dessa manobra. Em geral, aqueles obstetras que não se sentem capacitados para fazê-la devem encaminhar a paciente para outros profissionais habilitados. "O mais importante é entender os riscos e os benefícios envolvidos na manobra e tomar uma decisão consciente", finalizou Negrini.
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