Você já ouviu falar o termo "biohacking"? Na saúde, se refere a uma abordagem que combina princípios da biologia, medicina, tecnologia e autogestão para melhorar a saúde e o bem-estar de uma pessoa, envolvendo a aplicação de conhecimentos científicos e práticas experimentais para aprimorar o funcionamento do corpo humano e alcançar metas individuais.
Segundo o médico neurocirurgião, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia com aperfeiçoamentos em procedimentos minimamente invasivos da coluna, neurocirurgia vascular e MBA executivo em gestão em Saúde pelo Hospital Albert Einstein, Felipe Mendes, eles, frequentemente, utilizam dispositivos de monitoramento, como relógios inteligentes, aplicativos de saúde e dispositivos de rastreamento biométrico para coletar dados sobre a saúde, como ritmo cardíaco, padrões de sono, níveis de atividade física e muito mais.
"Existem biohackers com atenção especial voltada para a dieta do paciente, personalizando-a com base em suas necessidades e objetivos pessoais. Isso pode envolver a adoção de dietas específicas, suplementação de nutrientes e experimentação com diferentes tipos de alimentos."
Felipe inclui na lista de benefícios desse monitoramento a otimização do exercício físico, envolvendo o uso de técnicas de treinamento de alta intensidade, recuperação adequada e ajustes constantes no programa de atividades para atingir metas específicas, como ganho de massa muscular ou perda de peso.
"O sono é outro ponto importante, pois desempenha um papel fundamental na saúde, e os biohackers muitas vezes procuram melhorar a qualidade do sono por meio de estratégias como criar um ambiente adequado para o descanso, praticar a sua higiene e usar dispositivos para rastreá-lo."
De acordo com ele, a suplementação de vitaminas, minerais, nootrópicos e outras substâncias para melhorar a cognição, a energia, a imunidade e outros aspectos da saúde também podem ser utilizados, bem como as práticas de autocuidado, como meditação, ioga, terapia de luz e outras abordagens destinadas ao bem-estar emocional e mental.
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Além de variar de pessoa para pessoa, dependendo das metas e preferências dos indivíduos, a segurança é uma preocupação para quem se interessa em praticar o biohacking. Segundo o neurocirurgião, deve ser feito com a orientação de profissionais de saúde e com um entendimento sólido dos riscos e benefícios envolvidos.
Alguns profissionais da área e entidades médicas ainda o veem com ceticismo, preocupados com a falta de supervisão médica e a possibilidade de perigos para a saúde devido aos riscos da automedicação, a experimentação sem orientação e a busca de investigações não comprovadas.
Por outro lado, segundo o neurocirurgião, há também especialistas que são a favor da busca pelo autodesenvolvimento e pelo aprimoramento da saúde, uma vez que podem ser baseadas em evidências sólidas, seguras e realizadas em consulta com profissionais de saúde.
Felipe considera que a segurança, supervisão médica adequada e discussão aberta entre os pacientes e seus médicos antes de embarcar em qualquer intervenção de saúde, é fundamental, especialmente aquelas que podem ser consideradas não convencionais ou experimentais.
Como prática de otimização da saúde pessoal, enfrenta várias limitações e desafios que podem impedir seu uso generalizado e seguro. Entre elas Felipe cita o fato de muitas dessas intervenções não terem base científica sólida ou não serem submetidas a estudos clínicos específicos para avaliar sua eficácia e segurança.
"Isso pode se tornar difícil para as pessoas distinguirem entre abordagens úteis e práticas potencialmente arriscadas. E, em muitos países, a regulação de produtos de saúde, suplementos dietéticos e terapias não convencionais pode ser frouxa ou insuficiente. Isso permite que objetos e práticas perigosas entrem no mercado sem supervisão adequada."
Outro ponto que merece destaque é que, como cada pessoa é única em termos de suas necessidades de saúde, genética e resposta às disciplinas, nem sempre o que funciona para uma pode não funcionar para a outra, e o biohacking geralmente envolve muita experimentação pessoal.
Felipe cita que algumas de suas formas podem ter um alto custo e envolvem tecnologias de monitoramento avançadas, suplementos caros ou consultas com profissionais de saúde especializados. Isso pode limitar o acesso a essas práticas para algumas pessoas.
"Existem também questões éticas, especialmente quando se trata de manipulação genética, uso de drogas ou substâncias não regulamentadas e experimentação em humanos. Garantir a segurança e a responsabilidade é um desafio constante nesse meio."
Muito do que é comercializado pode ter afirmações infundadas de produtos ou técnicas milagrosas. Isso pode levar as pessoas a gastar tempo e recursos em intervenções que podem não ser eficazes.
"Para superar essas limitações, é preciso investir em pesquisa científica rigorosa para avaliar a eficiência e a segurança das intervenções de biohacking; regulamentação adequada por parte das autoridades reguladoras de saúde, promoção da educação do público sobre as práticas de biohacking, incluindo os riscos e benefícios, para ajudar as pessoas a tomarem decisões informadas; garantir que todas as pessoas tenham acesso igual às tecnologias e informações para tal, além de estabelecer diretrizes éticas que garantam a responsabilidade em todas as suas áreas de atuação", aponta o profissional.