Não são todas que se entristecem com a queda do cabelo, mas são muitas

Não são todas que se entristecem com a queda do cabelo, mas são muitas

Cristiane Burckauser/Divulgação

Criada em 2013, A ONG Cabelegria impacta milhares de mulheres em tratamento contra o câncer de mama com a doação de perucas. Já são mais de 13 mil perucas feitas com cabelo humano distribuídas a pacientes oncológicos de todo o Brasil, enviadas pelos Correios, de forma gratuita. Desde sua criação, a Cabelegria cresceu. Os números atuais mostram mais de 345.985 cabelos doados, com o envolvimento de uma costureira e a operação de quatro bancos de perucas, além da ajuda de dezenas de voluntários e um ateliê em São Paulo.

Conforme uma das fundadoras e atual presidente da ONG, Mariana Robrahn, a motivação para o projeto parte da compreensão de que o diagnóstico de câncer pode ser avassalador, especialmente para as mulheres. Além dos desafios de saúde, a queda de cabelo, as mudanças no corpo e a perda da feminilidade somam-se aos temores relacionados à mortalidade.

Mariana Robrahn diz que a peruca representa mais do que o resgate da autoestima - também devolve às pacientes a vida social

Mariana Robrahn diz que a peruca representa mais do que o resgate da autoestima - também devolve às pacientes a vida social

Cristiane Burckauser/Divulgação
"Nosso objetivo sempre foi empoderar e trazer conforto às pessoas que enfrentam a jornada difícil do câncer. Acreditamos que, ao doar cabelos e fornecer perucas, não estamos apenas ajudando fisicamente, mas também emocionalmente. Queremos que cada pessoa que recebe uma peruca se sinta bela e confiante, porque sabemos que isso faz toda a diferença durante o tratamento", reforça.

A peruca, desta maneira, representa mais do que o resgate da autoestima - também devolve às pacientes a vida social. Não são todas que se entristecem com a queda do cabelo, mas é a maioria, conta Mariana. "As adolescentes não querem mais ir à escola, as mulheres não querem mais ir à igreja, por exemplo. Não querem ser vistas carequinhas. Com a peruca, se sentem à vontade para retomar essas atividades", diz Mariana, que se sente grata por poder, através do projeto, ser a ponte entre quem quer ajudar e quer recebe esse carinho. "É um trabalho que envolve muito amor. Amor de que doa o cabelo e de quem ganha a peruca. Meu sentimento é de gratidão."

A representante comercial Keila Valon, de 49 anos, há algum tempo convive com nódulos e cistos na mama. Em maio deste ano, depois de perceber o aumento do tamanho em um deles durante um autoexame, acabou tendo o diagnóstico de um tumor maligno. Começou com o processo da quimioterapia, que está em fase final, e em novembro deve passar pela cirurgia para retirada da parte afetada, ainda sem definição de qual tipo será a mastectomia. Com 12 dias do início da realização da quimioterapia, Keila começou a perder o cabelo, o que para ela foi um impacto importante. "Costumo brincar que nunca fui apegada ao cabelo, mas não ter muda muita coisa", diz, ela que está restrita ao convívio entre a família para evitar que contraia algum tipo de infecção.

Foi a filha de Keila que, em pesquisas pela internet, chegou à Cabelegria. Elas moram em Suzano, na Grande São Paulo, e foram até a sede da ONG, na capital paulista, em setembro. "Estávamos naquela indecisão sobre usar ou não a peruca. E acabei escolhendo uma, depois de experimentar vários tamanhos e cores. Quando você usa o turbante, as pessoas estranham, acham que é uma doença contagiosa. A peruca mudou tudo. É uma outra opção, ainda mais com a perda de sobrancelhas, cílios, por exemplo", conta.

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Keila Valon descobriu o câncer de mama este ano e diz que a peruca mudou tudo

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Arquivo Pessoal
A Cabelegria também inaugurou o primeiro e único Banco de Perucas Móvel do mundo, em outubro de 2016. O objetivo, conta Mariana, é arrecadar doações de mechas de cabelos e distribuir perucas a pacientes oncológicos por meio de ações em hospitais, parques e até em shows. O caminhão também promove ações de beleza, como maquiagem e penteado, para mulheres em tratamento. "O que nos impulsiona diariamente é presenciar a alegria estampada no rosto de cada uma ao encontrar a peruca ideal," ressalta.

Cada peruca é feita a partir de cinco a sete doações de cabelo, com custo de produção médio de R$ 100 por unidade. A ONG Cabelegria tem como princípio fundamental a gratuidade em todas as etapas do processo. "Acreditamos no poder transformador da autoestima durante o tratamento. Seguimos em busca de expandir as doações de perucas e o alcance dos Bancos de Perucas, levando esperança e confiança aos pacientes em centros de tratamento oncológico em todo o Brasil", compartilha Mariana.

História

A ONG nem sempre teve estrutura para atender tantas pessoas, relembra a presidente. Tudo começou em outubro de 2013, quando um ato de generosidade - aparentemente simples - marcou o início de uma jornada de beneficência para Mylene Duarte e Mariana. Uma amiga doou seu cabelo para pacientes com câncer na Santa Casa de São Paulo, inspirando a dupla a, mais tarde, fundar a Cabelegria.

Mylene criou um evento no Facebook para compartilhar informações sobre como doar cabelo para pessoas diagnosticadas com câncer. Em apenas um dia, o evento online atraiu a atenção de mais de 1,7 mil participantes, revelando um estímulo real para transformar a ideia em algo tangível. "Foi totalmente inesperada toda essa adesão na época, não contávamos que a iniciativa poderia atrair tanta gente. Precisávamos fazer alguma coisa para ajudar essas mulheres", narra a fundadora.

A Cabelegria inaugurou o primeiro e único Banco de Perucas Móvel do mundo

A Cabelegria inaugurou o primeiro e único Banco de Perucas Móvel do mundo

Cristiane Burckauser/Divulgação

Mesmo enquanto trabalhavam em diferentes países - Mariana como designer freelancer no Brasil e Mylene como babá nos Estados Unidos - elas mantiveram o compromisso de atualizar diariamente a página da iniciativa no Facebook e estar em contato com doadores e beneficiários das perucas.

Pouco a pouco, as fundadoras da Cabelegria se mobilizaram para buscar apoio financeiro e expandir a estrutura da organização, com o objetivo de atender um número cada vez maior de pessoas com qualidade. Com o apoio de doadores e voluntários, a ONG cresceu em alcance e impacto.

Parcerias pelo Outubro Rosa

Neste ano, foram anunciadas duas novas parcerias, especialmente dedicadas à campanha do Outubro Rosa, que visa conscientizar sobre o câncer de mama. Uma dessas parcerias envolve a Porto a Porto, uma importadora de bebidas, que se compromete a doar R%uFF042,50 para a Cabelegria a cada garrafa vendida. Em contrapartida, a ONG realizará a entrega de perucas em Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre.

A segunda colaboração, conta Mariana, foi estabelecida com a Prestige Cosméticos. A cada dois frascos do perfume Clinique Happy vendidos pela Época Cosméticos, R%uFF04100 serão direcionados à Cabelegria.

Como doar

A Cabelegria aceita doações de cabelo de todos os tipos, mesmo aqueles que foram submetidos a processos químicos, com no mínimo 15 centímetros de comprimento. O procedimento de doação é fácil e envolve algumas etapas:

Após lavar e deixar o cabelo secar naturalmente, junte-o em um rabo de cavalo e prenda com firmeza usando um elástico de dinheiro. Para facilitar o manuseio, coloque a mecha de cabelo em um saco plástico. Agora é só enviar para o endereço da ONG Cabelegria: A/C Cabelegria Caixa Postal - 75207 São Paulo/SP - CEP 02415-972. Outra opção é realizar contribuições financeiras para apoiar as atividades da Cabelegria. Você pode acessar o site oficial da ONG (
clique aqui) e encontrar informações sobre como fazer doações monetárias para ajudar a causa. Essa iniciativa está inserida na campanha "Adote uma Peruca", que atua na produção e distribuição dessas perucas.