Um levantamento do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), que acompanha 14.558 meninos e meninas menores de cinco anos pelo País, revela que, entre bebês de seis a 23 meses, a frequência de exposição ao açúcar chega a quase 70%, e, na faixa dos dois aos cinco anos, bate 87%.
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Diante desses números, surge uma dúvida: é possível manter os pequenos distantes de tantos alimentos ultraprocessados, que cativam pelas cores, tamanhos e sabores? Para o nutricionista Thiago Cunha, especialista em performance, emagrecimento e longevidade, proibições severas e tiranas não são a melhor conduta, mesmo porque se a criança for privada de comer o doce em casa, irá encontrá-lo na rua, na lanchonete da escola ou na casa do amiguinho. E distante dos olhares e vigilância dos pais, certamente vai acabar exagerando. O segredo, segundo ele, é uma educação voltada para o equilíbrio.
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Ainda de acordo com o especialista, mesmo com todos os apelos imagéticos e sensoriais proporcionados pelos doces e suas embalagens atrativas, o ideal é que, pelo menos, até os dois primeiros anos de vida dos filhos, os pais não ofereçam alimentos ricos em açúcar, como refrigerantes, chocolate e ultraprocessados, medida importante para não aguçar o paladar dos pequenos de forma errada.
“Estamos falando de uma educação alimentar que deve ser contínua, principalmente no intuito de prepará-los para os momentos de festa como o Dia das Crianças, que é uma oportunidade de celebração super bem-vinda, mas que, por outro lado, aumenta as oportunidades do consumo descontrolado”.
Thiago também explica que a educação consciente sobre a importância de hábitos alimentares saudáveis começa em casa com a inclusão de rotinas simples, mas de extrema valia. “O açúcar não precisa e nem deve ser encarado como um vilão. Basta que sejam feitas as escolhas e adaptações certas. A frutose, por exemplo, [açúcar natural das frutas] é uma boa alternativa para incluir na dieta. Nesse sentido, vale a pena usar a imaginação e recorrer a sucos in natura, que além de saborosos são refrescantes, diferentemente dos concentrados de caixinha, com quantidade alta de conservantes”, explica.
Outra opção, conforme o nutricionista, é preparar doces caseiros menos industrializados, feitos nas famosas cozinhas de avós, como o de coco, abóbora, bananada, entre outros. “São igualmente atrativos, mas com uma quantidade muito menor de adição de açúcar e conservantes”, completa.
E o docinho ‘de vez em quando, pode’?
Thiago Cunha afirma ser perfeitamente possível, por exemplo, consumir apenas um ‘quadradinho’ da barra de chocolate e guardar o restante para outro momento. Também não há nada de mau na sobremesa aos domingos ou no sorvete do fim de semana. A dica vale não só para crianças como para adultos. “O caminho contrário, ou seja, comer em grandes quantidades e só parar quando a barra [de chocolate] acabar é o que não pode ser normalizado. Essa postura está ligada, muitas vezes, à busca momentânea pelo prazer que um alimento rico em açúcar pode proporcionar, já que ele aumenta os índices de dopamina no sistema nervoso, neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar e felicidade”, explica.
Cunha ainda acrescenta que o ato de nos alimentarmos, além de fisiológico, está ligado às nossas emoções. Mas não podemos depositar nossos sentimentos única e exclusivamente àquilo que comemos. “Quem encontra nos doces o gatilho para atenuar a tristeza, ansiedade e até mesmo os sintomas depressivos, precisa buscar ajuda médica especializada. Quando falamos de crianças, a situação não é diferente. Sabe quando muitas delas pegam uma bala do pacote e de repente comem todas sem nem perceber? Isso pode estar atrelado às emoções. É preciso equilíbrio. Volto a dizer, não há mal algum na bala, na torta ou no docinho. O problema está apenas no excesso”, finaliza.
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