Pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) sobre a percepção do homem sobre sua saúde revela que apenas 32% dos acima de 40 anos se consideram muito preocupados com a sua própria saúde e que 46% deles só vão ao médico quando sentem algo. Esse número aumenta para 58% se este homem utiliza apenas o SUS. Apesar do descaso, metade deles tem medo ou ansiedade quando pensam em sua saúde. A pesquisa, viabilizada pelo Laboratório Adium, foi realizada com homens acima de 40 anos representantes de todas as regiões do país, via aplicativo mobile pelo Instituto de Pesquisa IDEIA.



Diante dos dados, a SBU este ano realiza um Novembro Azul diferente. A entidade quer aumentar ainda mais a conscientização do homem de que é preciso cuidar da saúde e desde cedo. Assim, o ator Guilherme Berenguer, 43 anos, foi escolhido como porta-voz da campanha para dialogar com o público mais jovem.

"Vários fatores colaboraram para que houvesse o aumento da expectativa de vida, inclusive no Brasil. Essa realidade impôs desafios à medicina. Sabemos que as alterações próprias do envelhecimento não deixarão de existir, e que teremos que conviver com as doenças oriundas desse processo. Porém é possível ter um envelhecimento saudável com atitudes que começam ainda na juventude, que diminuem o impacto negativo sobre a qualidade de vida dessas alterações, principalmente com o diagnóstico precoce das doenças e com a mudança de hábitos de vida. Parar de fumar, ter uma alimentação saudável, fazer atividade física regular e evitar a obesidade trazem muitos benefícios. Visitas regulares ao médico devem ser feitas, mesmo que não haja sintomas, porque o diagnóstico e tratamento precoces ajudam a controlar as doenças e evitam suas complicações"', ressalta o presidente da SBU, Alfredo Canalini.

Sedentarismo é um problema em comum

Entre os problemas de saúde mais apontados pelos homens na pesquisa estão o sedentarismo: 26%, seguido pela pressão alta, 24%, e a obesidade, 12%. Vale ressaltar que 35% responderam não ter nenhum problema de saúde. Apenas entre os homens 60+ o sedentarismo teve menor índice de escolha, 18%. Nessa faixa etária o problema mais citado foi a pressão alta, 40%.



Leia: Novembro Azul: entenda a importância do rastreamento do câncer de próstata

A maior proporção dos homens que só vai ao médico ao sentir algo está no grupo entre 40 e 44 anos (49%). Já o que mostrou ter maior cuidado com a saúde é o grupo 60, com 78% respondentes afirmando fazer exames a cada seis meses ou um ano.

"Esse nosso estudo tem como objetivo principal conhecer, e assim tentar compreender, como o homem percebe a sua própria saúde, seus receios e fragilidades, para então podermos focar melhor as nossas ações e campanhas, enquanto especialistas que lidam diariamente com a saúde masculina. Nesse Novembro Azul, além de reforçar o processo educativo com relação à próstata e suas doenças que já temos trabalhado ao longo desses anos, quisemos ir mesmo além, abordando a saúde do homem de uma forma global, por entender que devem andar juntos, e que o homem culturalmente ainda é muito pouco educado para a prevenção, sendo sem dúvida uma das razões para a diferença de expectativa de vida de sete anos a menos do que a mulher em nosso país. Esse estudo vem em sequência, portanto, com a nossa campanha de setembro, a #VemProUro, em que trabalhamos a conscientização sobre a saúde masculina a partir da adolescência. Esse ano, inclusive, o nosso porta-voz escolhido é um homem mais jovem que já cuida da saúde, o ator Guilherme Berenguer, que vem trazer a mensagem de que, antes mesmo de surgirem os problemas de saúde, que sabidamente vão se tornando mais prevalentes com passar da idade, que ele se engaje nos cuidados gerais e preventivos, incluindo a saúde prostática, até para poder usufruir da vida como ele mesmo deseja, com qualidade, longevidade, com menos medo e mais satisfação em todas as esferas, incluindo a sexual, correndo menos 'atrás do prejuízo' e prevenindo mais doenças", ressalta uma das coordenadoras do Novembro Azul desse ano e idealizadora da pesquisa, a diretora de comunicação da SBU, Karin Jaeger Anzolch.

HPB: problema da próstata menos conhecido é o mais prevalente

Apesar de ser a doença mais prevalente da próstata, a hiperplasia benigna (HPB) é conhecida apenas por 43% dos homens. A maioria diz saber sobre o câncer (75%) e a prostatite (59%). O desconhecimento da HPB é maior entre os mais jovens, de 40 a 44 anos (apenas 39% sabem o que é), e entre os moradores da região Norte (33% sabem o que é).




A estimativa é de que cerca de 50% dos homens acima de 50 anos terão algum grau de HPB. "Na HPB a próstata, uma glândula localizada abaixo da bexiga em homens, aumenta de tamanho devido ao crescimento celular excessivo. E é mais comum em homens acima de 50 anos", explica o vice-presidente da SBU, Roni Fernandes.

Os sintomas incluem aumento da frequência de urinar durante o dia, diminuição da força e calibre do jato urinário, dificuldade para iniciar a micção, sensação de urgência para urinar e outros sintomas relacionados ao trato urinário.

"Esses sintomas ocorrem porque o aumento do tamanho da próstata pode comprimir a uretra, o canal que transporta a urina da bexiga para fora do corpo. Isso leva a uma obstrução parcial do fluxo urinário e causa os sintomas mencionados", adiciona o médico.




Além disso, a HBP também pode afetar o funcionamento da bexiga e dos rins. A obstrução do fluxo urinário pode causar um aumento da pressão dentro da bexiga, o que pode levar a problemas na capacidade de esvaziar completamente a bexiga. Isso, por sua vez, pode resultar em infecções urinárias recorrentes e outros problemas relacionados à bexiga.

A identificação precoce dos sintomas da HBP é importante para que o tratamento possa ser iniciado imediatamente. Existem várias opções de tratamento disponíveis, incluindo medicamentos para diminuir o tamanho da próstata e aliviar os sintomas, terapia comportamental para melhorar o controle urinário e, em casos mais graves, cirurgia para remover a parte da próstata que está causando a obstrução.

"Em resumo, a HBP é uma doença comum em homens mais velhos que pode causar sintomas urinários incômodos e prejudicar o funcionamento da bexiga e dos rins. A identificação precoce dos sintomas e o tratamento adequado são essenciais para prevenir complicações futuras", alerta Fernandes.




Apesar de as dificuldades de micção serem mais comuns com o avançar da idade, o problema está longe de ser um processo aceitável como normal no envelhecimento. No entanto, 38% dos participantes concordam (totalmente ou parcialmente) que é normal ter dificuldade para urinar com o passar do tempo, e que isso não é motivo de preocupação. O índice de acordo (total ou parcial) aumenta entre os homens de 60, 48%.

A próstata aumentada é uma das causas da dificuldade de urinar e, em longo prazo, se não tratada, ela pode causar retenção urinária, infecções e lesão no trato urinário, incluindo nos rins.

O câncer de próstata

Entre as doenças urológicas que os homens têm mais medo, o câncer ficou na frente, com 58% das respostas. Seguido pela impotência sexual (37%). O exame de toque retal ainda desperta medo em um em cada sete homens, sendo esse receio mais prevalente entre os homens 60 e nos provenientes do Centro-Oeste. A região também se destaca por ter a maior concentração de homens com medo de ter câncer (64%) e disfunção erétil (43%).




De acordo com dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS), do Ministério da Saúde, de janeiro a julho de 2023 houve 21.803 internações devido ao câncer de próstata. A Estimativa 2023 - Incidência de Câncer no Brasil, do Instituto Nacional de Câncer (Inca), para a doença é de 71.730 novos casos anuais para o triênio 2023/2025. Em 2022 foram 16.292 óbitos pela doença, de acordo com o Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, ou seja, 44 mortes por dia.

Enquanto 75% dos homens afirmaram conhecer o câncer de próstata, 85% disseram não conhecer ou não saber os sintomas da doença. O percentual de desconhecimento é maior entre os que utilizam apenas o SUS (62%). A maioria (44%) acredita que ardência/dificuldade para urinar seja um sintoma do tumor, o que não é verdade.

Alguns sinais e sintomas, embora não específicos do câncer de próstata, podem ser encontrados e merecem atenção:

- Sangue na urina ou no sêmen
- Micção frequente
- Fluxo urinário fraco ou interrompido
- Noctúria (levantar-se diversas vezes à noite para urinar)

"A ardência para urinar é um sintoma mais característico dos processos inflamatórios e infecciosos, podendo representar uma infecção urinária, na próstata (prostatite) ou, mesmo, uma IST, uma infecção na uretra (uretrite). Vale ressaltar que o câncer de próstata não produz sintomas no seu início e, portanto, não se deve aguardar o seu surgimento para não postergar o seu diagnóstico precoce, período da doença onde se encontra as maiores chances de cura, que são acima de 90%. Embora a medicina tenha evoluído muito nos últimos anos, e hoje se tenha novos tratamentos disponíveis mesmo para os pacientes com doença avançada, as melhores oportunidades de cura, com minimização de sequelas, estão nas fases iniciais, quando a doença ainda não é aparente e somente é diagnosticada mediante exames preventivos", lembra Karin Anzolch.



A SBU recomenda que homens a partir de 50 anos, mesmo sem apresentar sintomas, devem procurar um profissional especializado, para avaliação individualizada, tendo como objetivo o diagnóstico precoce do câncer de próstata. Os homens que integrarem o grupo de risco (raça negra ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata ou obesos) devem começar seus exames mais precocemente, a partir dos 45 anos.

"Antes disso, porém, é importante que o homem já inicie suas avaliações para a saúde geral e também prostática, sabendo que outras doenças já começam a se tornar mais frequentes antes mesmo dessas faixas etárias", ressalta Karin.

A análise da próstata é feita pela dosagem do PSA no sangue juntamente com o exame de toque. Um exame não exclui o outro, visto que é possível ter PSA aumentado e não ter a doença ou tê-lo normal e ter a doença. O PSA também pode aumentar no caso de prostatite e HPB, e há situações em que ele não se altera mesmo com o câncer em curso.




As opções de tratamento variam de acordo com o estágio da doença e com as condições clínicas e desejo do paciente. Entre elas estão: cirurgia, radioterapia, vigilância ativa, hormonioterapia, quimioterapia e radiofármacos.

Saúde global do homem

Assim como as mulheres vão ao médico para promoção da saúde desde jovens, é importante que os homens sigam esse exemplo e se atentem mais à sua saúde.

"A incorporação de bons hábitos de vida, ter conhecimento sobre o histórico familiar, os problemas mais prevalentes em cada faixa etária, reconhecendo aspectos que não vão bem com uma boa saúde e que podem ser modificados, como sedentarismo, tabagismo, sobrepeso, consumo de drogas, o excesso da ingestão de álcool, o sexo desprotegido, bem como diagnosticar doenças que muitas vezes são silenciosas, como hipertensão, diabetes e o próprio câncer de próstata, por exemplo, estão entre as medidas mais importantes para se ter uma longevidade ativa, com independência e satisfação", aponta Karin Anzolch.




Três perguntas para...

André Berger, urologista e membro da Comissão de Comunicação da Sociedade Brasileira de Urologia


- Como reverter esse quadro tão significante de que os homens não se cuidam? Caberia a quem? Sociedades médicas, governo, instituições?

Com campanhas de conscientização e educação como o Novembro Azul, que iniciou focada no câncer de próstata e evoluiu para um chamado mais amplo, ressaltando a importância do cuidado do homem com a sua saúde, incluindo medidas de prevenção. Essas campanhas devem englobar entidades médicas, órgãos do governo, ONGs e até mesmo escolas (pensando na saúde do adolescente).

- Como as campanhas vão conseguir mudar essas estatísticas?

Ações coordenadas, como as mencionadas acima, terão muito mais sucesso se ocorrerem de maneira contínua. Exposição frequente a informação de qualidade é o que leva à mudança cultural que precisamos, quebrando tabus e preconceitos.

- A partir de que idade o jovem deve ir ao urologista habitualmente?

O ideal é que a primeira consulta com o urologista aconteça na adolescência. Além do diagnóstico dos potenciais problemas mais frequentes na idade (varicocele, câncer de testículo, por exemplo), pode-se aproveitar a oportunidade para educação e quanto aos benefícios do acompanhamento urológico contínuo, seguindo o exemplo do que já ocorre com as meninas que vão ao ginecologista. Para isso, a SBU tem a campanha #VemProUro, que ocorre em setembro, mês do adolescente, com o objetivo de estimular que o menino comece a cuidar da sua saúde desde cedo.

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