Se dentro das quatro linhas o momento é de instabilidade e incertezas, nos bastidores o Atlético vive dias agitados, justamente na reta decisiva do Campeonato Brasileiro, em que a equipe luta para garantir vaga na Copa Libertadores. A demissão do diretor de futebol Alexandre Gallo, no começo da tarde de ontem, é mais uma tentativa da diretoria de reparar erros que vinham sendo cometidos desde o início da administração, em janeiro, e recolocar o alvinegro nos trilhos, além de recuperar o prestígio com o torcedor.
Coordenador das categorias de base, o ex-atacante Marques herda o posto de Gallo com a missão de fazer a transição até a chegada de um novo profissional, o que deve ocorrer no fim do ano. O ídolo atleticano nunca exerceu a função, mas, diante da falta de um nome forte para assumir o cargo, a diretoria decidiu apostar no ex-camisa 9. É a segunda mudança recente no futebol alvinegro – há 14 dias, o presidente Sérgio Sette Câmara demitiu o jovem técnico Thiago Larghi e contratou o experiente Levir Culpi. Os resultados positivos, porém, ainda não apareceram, e o Galo tem duas derrotas com novo treinador.
Por meio de nota, Alexandre Gallo se despediu da torcida e disse torcer para que o Atlético cumpra seus objetivos: “Agradeço ao presidente Sérgio Sette Câmara pela oportunidade que me foi confiada e, principalmente, por ter a chance de conhecer de perto a pessoa que é, seu caráter e sua honestidade. Saio com a convicção de que foi um ano difícil e de mudanças, mas com a proximidade do objetivo de voltar a disputar a maior competição Sul-Americana, que é a Libertadores, lugar onde os grandes têm que estar. Todos sabemos que o Atlético é gigante, principalmente quando a sua apaixonada torcida o abraça. O momento é agora. Joguem juntos, falta pouco”.
Gallo voltou ontem de Fortaleza com a delegação, um dia depois da derrota para o Ceará por 2 a 1, e só foi comunicado do desligamento em Belo Horizonte, depois de reunião com Sette Câmara.
O risco de ver o clube mais uma vez fracassar na missão de garantir vaga na Libertadores fez a diretoria repetir ações do ano passado. Ainda sob a administração de Daniel Nepomuceno, o Galo trocou o técnico Rogério Micale por Oswaldo de Oliveira e dispensou o diretor de futebol André Figueiredo, efetivando o diretor de comunicação Domênico Bhering na função. Os resultados não foram bem-sucedidos, com o time ficando sem vaga na Libertadores pela primeira vez depois de cinco participações consecutivas.
PROTESTOS A saída de Gallo vinha sendo pedida pela torcida nos últimos protestos na sede de Lourdes e na Cidade do Galo. Ex-volante e capitão do Atlético no fim dos anos 1990 e ex-treinador do time em 2008, ele foi convidado por Sette Câmara para comandar o futebol antes mesmo do início da gestão, ainda no fim do ano passado. Com o objetivo de rejuvenescer a equipe e revelar mais atletas, Gallo gastou cerca de R$ 40 milhões em 18 contratações. Contudo, dos reforços que chegaram no início deste ano, apenas três continuam no clube: o zagueiro Maidana, o armador Tomás Andrade e o atacante Ricardo Oliveira. Daqueles que chegaram durante a Copa do Mundo, somente o atacante Chará tem sido titular com frequência. Vários dos reforços nem eram conhecidos dos torcedores, casos do zagueiro Martín Rea, do armador Nathan e dos atacantes Leandrinho e David Terans.
O fracasso da equipe em praticamente todas as competições também aumentou a pressão sobre Gallo. O alvinegro perdeu o título estadual para o Cruzeiro e caiu logo nas oitavas de final da Copa do Brasil, para a Chapecoense, nos pênaltis. Abriu mão de disputar a Copa Sul-Americana e, com time reserva, foi eliminado na primeira fase, diante do San Lorenzo. No Brasileiro, chegou a liderar na sexta rodada, mas caiu de rendimento e tem ameaçada a vaga até na pré-Libertadores.
Mudanças no ataque
Com o Atlético sem vencer há quatro jogos pelo Campeonato Brasileiro, o técnico Levir Culpi terá três treinos para escolher a melhor formação para encarar o Grêmio no sábado, às 17h, no Independência, pela 32ª rodada. E, a exemplo do que vinha ocorrendo com Thiago Larghi, o treinador terá de mudar a equipe em virtude da suspensão do atacante Luan, que levou o terceiro amarelo. Outro que fica fora é o lateral-direito reserva Patric, pelo mesmo motivo.
Para o posto de Luan, Levir tem à disposição Tomás Andrade, David Terans e Nathan. A expectativa é de que o substituto dê mais mobilidade e dinâmica à equipe, algo que faltou nos últimos compromissos – o Galo marcou apenas um gol nos últimos quatro jogos e viu o Santos chegar aos mesmos 46 pontos na classificação. A boa notícia é o retorno do lateral-esquerdo Fábio Santos, que não encarou o Ceará devido ao acúmulo de três cartões amarelos.
Ainda que a situação alvinegra tenha se complicado, Levir acredita que o Galo vai reagir até o fim da competição: “O tempo é curto, mas você tem um objetivo interessante, que é a vaga na Libertadores. É bom para todos, para o treinador, para a torcida, para os jogadores. Falo para os torcedores que não podemos desistir. O resultado (contra o Ceará) poderia ser qualquer um. A bola não está entrando, estamos aquém do que posso oferecer. Há jogadores que nem conheço bem. Podemos dar uma virada e conseguir a classificação. Sou o cara que menos duvida do Atlético. Estou falando com os jogadores diariamente para sairmos desta situação”.