Que venha a Conquistadores!
Por esta época do ano, as grandes empresas já definiram metas e orçamentos para 2019. Famílias já refizeram planos, uns vão para Cuba, outros se mudarão para Portugal. Crianças fizeram matrículas em suas novas escolas. A temporada de promessas já está aberta: no ano que vem, faremos academia, comeremos salada, dormiremos mais cedo, compraremos mais livros. A cerveja, a preguiça, o celular na cama, o McDonald’s – não passarão!
Para alguns, o ano que vem vai inaugurar uma nova era de prosperidade, a corrupção vai acabar, as crianças estarão a salvo das mamadeiras de piroca, a pátria estará livre da ameaça comunista, o mundo estará mais perto de se livrar da falácia do aquecimento global, do big bang e da Terra redonda. Para outros, a treva é inevitável, uma aliança militar-evangélica se instalará no país, haverá perseguição, tortura e morte, a Coca-Cola vai comprar o Aquífero Guarani, a Amazônia será destruída.
O réveillon é, pois, um divisor de águas. Antes e depois. Algo como o primeiro milagre de São Victor: antes da canhota, depois da canhota – a.C.
Por isso a importância crucial do dia de hoje, muito mais decisivo do que qualquer decisão que se tome no encontro do G-20 em Buenos Aires. Hoje, diante do Botafogo, essa pedra na nossa chuteira, estará em jogo a vaga do Galo na Conquistadores da América (a Libertadores morreu quando levou a decisão para a Espanha, fazendo Simón Bolívar não apenas revirar na tumba, mas se levantar dela para encher a cara no bar. Entreguistas!).
Pois bem, reflita: imagine a treva sem o Galo na Conquista. Imagine combater o governo Bolsonaro ao mesmo tempo em que se combate a URT.
Imagine você, atleticano, a singrar os mares para a grande final da Conquistadores’2019 contra o Crüzëirö em Lisboa, levando consigo um pouco mais do ouro retirado de Ouro Preto, uns diamantes levados de Diamantina para dar sorte. Diante dessa perspectiva, o Brasil que se acabe, porque nem precisaria mais haver Brasil em 2020. Que vendam a Amazônia e comprem tudo de cerveja!
O Atlético precisa dessa vaga. Sem ela, a perspectiva é sinistra: menos bilheteria, menos dinheiro de patrocínio e tevê, menos contratações, mais salários atrasados, o próprio Brasileirão, Copa do Brasil e Sul-Americana comprometidos por um elenco esforçado, mas mediano. A vaga na Conquistadores muda tudo, e já a partir deste domingo passaríamos a sonhar com o Tardelli chegando no saco do Papai Noel, descendo pela chaminé do exaustor do fogão.
O Fogão. Nada no mundo é mais importante que vencer hoje o Fogão.