Volta e meia o futebol nos apresenta uma história que simboliza bem como a vida pode reservar grandes reviravoltas para uma pessoa – e isso, muitas vezes, é apenas questão de tempo, persistência e paciência. No caso de Bruno Henrique, oito anos separam o office-boy que ganhava um salário mínimo por mês, jogava bola em time amador de Belo Horizonte por amor e sonhava com o milionário mundo do futebol do atacante que atuou na Europa, voltou ao Brasil a preço de ouro e hoje vale, por baixo, R$ 20 milhões. E o Cruzeiro tem participação direta e indireta nessa história, do primeiro ao último (ou mais atual) capítulo.
Foi o clube da Toca da Raposa que abriu as portas do futebol profissional para Bruno Henrique, ainda que de forma não muito convicente. Depois de se destacar na Copa Itatiaia, o atacante ganhou, aos 21 anos, seu primeiro contrato. Esteve longe, contudo, de ser uma grande aposta do clube celeste. Na época, o assunto ficou escondido, tratado na surdina mesmo, praticamente restrito aos envolvidos na negociação – o Cruzeiro nem sequer divulgou que havia contratado o jogador.
De cara, Bruno Henrique foi emprestado ao Uberlândia, para ganhar cancha, como se diz no futebolês. Findado o contrato de empréstimo com a equipe do Triângulo, o Cruzeiro não teve interesse em integrá-lo a seu grupo. Assim, o atacante acabou ficando em definitivo no Uberlândia.
Veja bem: há sete anos, Bruno Henrique chegou à Toca de graça. Por um ano, foi jogador cruzeirense, no caso, apenas de forma protocolar, já que não teve uma chancezinha de atuar. Não fez um treino com o time.
Em entrevista ao repórter do Estado de Minas Roger Dias, no fim de 2017, Bruno Henrique disse não guardar mágoas do Cruzeiro, pela falta de oportunidade. “Sair do futebol amador e ir direto para o Cruzeiro era uma responsabilidade grande. Mas sabia do meu potencial e sempre tive na cabeça que me tornaria um bom jogador. Eles me deram uma chance, fizeram contrato comigo e me emprestaram para o Uberlândia, para pegar experiência que nunca tive. Não existe frustração.
Bruno Henrique já poderia ter retornado à Toca da Raposa há mais tempo. Ele apareceu na pauta celeste no início de 2017. Na época da formação do grupo que Mano Menezes trabalharia naquela temporada, a diretoria chegou a perguntar se o treinador se interessava pelo atacante, que estava no futebol alemão. Mano dispensou, pois entendia que, naquela ocasião, Bruno Henrique não se encaixaria à forma de jogar da equipe. O clube foi buscar, então, Thiago Neves.
Em 2017, Bruno Henrique foi o artilheiro do Santos, com 18 gols em 53 jogos. Chegou a ser cogitado até na Seleção Brasileira, o que seria a consagração do menino de família humilde, criado no Bairro Concórdia. No ano passado, no entanto, não reeditou o desempenho, prejudicado por uma série de lesões. Foram apenas dois gols marcados em 34 partidas.
A atual diretoria celeste tem grande admiração por Bruno Henrique, quase uma obsessão. Desde o início do ano passado que tenta trazer o atacante para a Toca.
O técnico do Peixe, Jorge Sampaoli, já disse que quer a permanência de Bruno Henrique na Vila Belmiro. Acredita no potencial do jogador e disse que pode recuperá-lo.
Até o encerramento da novela, a história de Bruno Henrique com o Cruzeiro continuará restrita ao primeiro capítulo. Aquele que, na prática, nem foi escrito..