Uma das coisas que a vida volta e meia nos joga na cara é que não temos controle sobre nada. Nadinha. Até fazemos planos, mas daí a tudo seguir o roteiro projetado são outros quinhentos. No meio do caminho aparece um atalho, o destino prepara uma rasteira – e por vezes surpresas agradáveis –, e olha as certezas se desconstruindo, os recomeços batendo à porta e um novo script se definindo. A gente nunca sabe o que vai acontecer depois que terminarmos de ler esta coluna, ou amanhã, ou daqui a um mês, ou até daqui a um ano... Agora imagina quando um jogador assina contrato com um clube e se compromete a vestir aquela camisa por aquele determinado período, geralmente longo. Bom, isso nós também estamos cansados de saber que não funciona exatamente assim.
Nesta temporada, especialmente, tivemos/temos exemplos bem claros disso em Atlético, Cruzeiro e América. Atletas que se sentem seduzidos por propostas de outros times e, mesmo com vínculo em vigor, decidem que chegou a hora de experimentar novos ares.
Diz o ditado popular que o combinado não sai caro. E, a partir do momento em que um atleta, seus representantes e dirigentes de clube se sentam para assinar um documento, imagina-se que tudo aquilo que está escrito será cumprido. Contudo, quem está no futebol sabe que não é sempre assim. Quando um jogador se sente insatisfeito, por qualquer que seja o motivo dele, e põe na cabeça que quer sair, ele acaba saindo mesmo. Friamente falando, é assim que a banda toca, e nessas horas não adianta tratar o assunto com a passionalidade de um torcedor.
Mais do que entrar no mérito de quem tem razão (pois cada um tem seus argumentos para escolher o que é o melhor para si), é preciso analisar como esse tipo de situação deve ser administrada por quem gerencia os clubes. E, para início de conversa, é preciso ter em mente que cada cabeça – com o perdão do trocadilho – é, realmente, uma sentença. É muito pessoal a decisão de ficar ou sair. Eu, por exemplo, considero um retrocesso um jogador jovem e promissor, com convocações para a Seleção Brasileira (ou de outros países, no caso dos gringos) em vista, se transferir, por livre e espontânea vontade, para um time árabe, chinês ou coreano simplesmente por propósitos financeiros. Imagino que um jogador com esse perfil tem condição de alcançar a tal independência financeira, alicerçada por uma carreira consistente em grandes centros, se tiver mais paciência em galgar os degraus. Mas essa é a minha visão, a visão de alguém que está de fora. Um julgamento que, no fim das contas, nem cabe a mim, e sim a quem sentirá na pele o ônus e o bônus de sua escolha.
O mais importante nesta hora, a todos os envolvidos diretamente, é o profissionalismo. O caso do uruguaio De Arrascaeta expôs bem essa questão.
Messias parece trilhar caminho semelhante agora, no América. Zagueiro de potencial, que certamente despertaria o interesse de equipes da Série A depois de boas temporadas com a camisa alviverde, ele se retirou das duas primeiras partidas do Coelho neste ano. Aos 24 anos, tem todo o direito de se entusiasmar com uma transferência para o Inter, e toda a vitrine que conseguirá no Sul, mas até que a transação se concretize, ainda tem obrigações a cumprir com a equipe com a qual tem contrato.
Com o volante atleticano Elias a situação parecia bem adminstrada até o pai dele e empresário, Eliseu Trindade, entrar no circuito e, em entrevista para uma rádio gaúcha no início desta semana, dizer que não “há clima” para seu filho continuar na Cidade do Galo após a recusa, do alvinegro, em antecipar sua renovação de contrato e/ou negociá-lo com o Inter. Elias não só esteve na estreia do Atlético no ano, contra o Boa, como marcou gol. Aparentemente, estava tudo bem.
Enquanto estiverem fazendo a parte deles como atletas, Elias e Luan estarão amparados por seu comportamento. Quem deve tratar, burocraticamente falando, de saída ou permanência é o empresário. Ao jogador, cabe treinar e jogar até que tudo se defina.
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