Se há um time que se apega a seus ídolos, ele é o Atlético. Seja jogador ou treinador, quem faz história no clube ou cria afeição com a Massa se conecta de tal forma com o alvinegro que os laços não se rompem mesmo quando as partes se distanciam. Essa tal conexão é tão forte que ao longo da história não são poucos os exemplos de despedidas que acabaram se transformando em mero “até breve” – muitas delas, por mais de uma vez. Talvez seja influência dos astros, já que Peixes é considerado o signo mais romântico do zodíaco, e o Galo, como bom pisciano, apenas se entregaria, nessa relação, a uma força maior do que simples questões mercadológicas e/ou futebolísticas.
A bola da vez é o atacante Diego Tardelli, um digno representante desta linhagem de personagens. É tanto vai e volta para a Cidade do Galo que o armário dele já deve ficar reservado lá, sem que ninguém o ocupe. Sempre que ele está no time atleticano, não resiste a uma negociação para sair. E sempre que está longe, atiça a torcida alvinegra com juras de amor eterno e desejos de retorno.
O mesmo roteiro foi escrito por outros protagonistas, com idas e vindas muito mais intensas, é bom frisar. Possivelmente, ninguém supera o atacante Dario, que parecia não suportar passar muito tempo longe do Atlético – e vice-versa. Voava para todo canto do país e retornava para casa, em busca de abrigo. Vestiu a camisa preto e branca de 1968 a 1972. Em 1973, jogou pelo Flamengo, mas ficou longe apenas por um ano.
Nos anos 1980, Éder cumpriu jornada semelhante. Integrante de uma das mais brilhantes gerações do Atlético, ele deixou o clube em 1986. Passou por Inter de Limeira, Palmeiras, Santos, Sport, Botafogo, Atlético-PR e aventurou-se até fora do país, jogando pelo paraguaio Cerro Porteño e pelo turco Fenerbahce. Retornou ao Galo em 1989, comprado por 58 milhões de cruzados – uma bolada na época.
Outro ídolo com relação quase transcedental com o alvinegro é Toninho Cerezo. O alvinegro catapultou o clássico volante para o sucesso nos anos 1980. Em 1983, ele iniciou caminhada vitoriosa na Europa, pela Roma. Jogou ainda na Sampdoria antes de voltar ao Brasil, para defender o São Paulo multicampeão com Telê Santana. Arranhou sua relação com a torcida do Galo quando acertou transferência para o Cruzeiro, em 1994, mas retornou às origens em 1996, depois de vestir a camisa do América. Foi naquele que considera seu clube do coração e que chama carinhosamente de “Glorioso” que pendurou as chuteiras, em 1997.
Mais recentemente, Marques, que criou uma relação tão forte com o clube que não só fez de Belo Horizonte sua morada definitiva como hoje é diretor de futebol da equipe. A sintonia foi quase imediata, em 1997, ao estrear. No início de 2003, depois de a diretoria atleticana na época decidir enxugar a folha salarial e reduzir os salários mais altos, transferiu-se para o Vasco.
Nem só de jogadores, no entanto, é escrita essa história. O atual treinador, Levir Culpi, é um dos casos mais emblemáticos dessa quase obsessão alvinegra com seus ídolos. Está em sua quinta passagem pelo Atlético, numa relação que teve o primeiro capítulo, pasmem, há 25 anos! Em 1994, quando foi contratado pela primeira vez, Levir ainda não tinha tanto reconhecimento em âmbito nacional. De lá para cá, acompanhou o Galo em momentos emblemáticos de sua história, como na volta à Primeira Divisão, com o título da Série B do Campeonato Brasileiro de 2006, e na conquista da Copa do Brasil de 2014 sobre o arquirrival, Cruzeiro, naquela campanha épica, que contou com viradas sobre ninguém menos que Flamengo e Corinthians. Pelo jeito, ainda há várias páginas a serem escritas nesse livro.
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