Derrotas (no futebol e na vida) costumam trazer, a reboque, uma insaciável caçada a culpados. No afã de tentar entender o que deu errado e, principalmente, o que levou ao revés, pipocam por todo lado teses que enquanto separadas servem apenas para isolar problemas que, na verdade, são coletivos. Mas que, juntas, até ajudam a montar um quebra-cabeças bem factível. A coluna Tiro Livre de hoje é uma compilação de alguns desses argumentos discutidos nas redes sociais, nas mesas de bares, nas conversas entre amigos e familiares assim que o árbitro apitou o final de Atlético 0 x 1 Cerro Porteño, na noite de quarta-feira, no Mineirão.
Se nos contos de suspense o culpado mais óbvio de qualquer crime é o mordomo, no futebol a figura do treinador é a primeira a receber as bordoadas. No caso do Atlético, o técnico Levir Culpi foi o principal (mas não o único, ressalte-se) alvo das críticas depois da partida contra os paraguaios. E vamos combinar que ele próprio tem se colocado nessa posição desde que retornou ao clube. Escalações contestadas, substituições mais ainda, ironias nas entrevistas pós-jogo, sobretudo quando se sente contrariado com alguma pergunta: um conjunto que não ajuda muito, ainda mais quando o time não tem atuações consistentes. Aliás, a gente acaba até se perguntando se seriam causa ou consequência das exibições ruins.
Quase ninguém entendeu o esquema com três volantes escolhido para o jogo contra o Cerro.
Outro ponto muito contestado – e desse eu discordo – foi a escolha do Mineirão. Para muita gente, era jogo para o alçapão do Horto, pela pressão que a torcida iria imprimir sobre o Cerro e até mesmo sobre o Atlético. Não acho que interferiria no resultado, até porque o alvinegro já caiu, na própria Libertadores, no Independência. Acredito que a simbiose torcida-time precisa de ser mão dupla, bem ao efeito Tostines: os torcedores se empolgam na arquibancada porque a equipe mostra qualidade e determinação em campo, da mesma forma que a equipe mostra qualidade e determinação em campo no embalo da empolgação dos torcedores na arquibancada.
Por fim, as cobranças em cima de jogadores individualmente. Falar sobre Patric é praticamente chover no molhado – é a crítica mais óbvia entre as escolhas de Levir. Fábio Santos está devendo desde o ano passado, com atuações abaixo do que já mostrou. Tenho um amigo atleticano que mora no Rio de Janeiro que considera as cobranças sobre o goleiro Victor (foto), de forma geral, muito amenas. Acha Victor irregular e inseguro, e cobra postura mais crítica da imprensa mineira (inclusive da colunista aqui) em relação ao goleiro. Victor foi mal no lance do gol paraguaio? Foi.
Fato é que não dá para apontar o dedo em só um desses elementos e fechar questão. Ela não se simplifica dessa forma. Mas se você juntar um pedacinho de cada opinião, pode até compreender o cenário como um todo. No fim das contas, todo mundo tem um pouco de razão, mas ninguém sozinho tem toda a razão.
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