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Sobre golden shower e cumulus nimbus

É impressionante o tedioso da vida: vitória do Flamengo, o mindinho no pé da cama, derrota do Galo, vitória do Cruzeiro


postado em 09/03/2019 05:05


Deus do céu, não bastasse o pomar de laranjas ter se transformado num agronegócio, não bastasse o Queiroz desaparecido na chuva dourada, o Temer solto, o Jucá solto, os assassinos de Marielle soltos, o Aécio deputado, agora estamos desprovidos até mesmo do ópio do povo. A vida está a praticar um golden shower com o atleticano. E nesse caso, como se viu no pornô presidencial, nem dá para desejar que levantemos a cabeça.

Assumo a culpa pela derrota na Libertadores. Sim, já relatei aqui, em outras oportunidades, a lei que não falha: se algo de perturbador me ocorre antes de qualquer jogo do Galo, em geral a coisa não acaba bem. Pode ser um dedo mindinho esquecido num pé de cama, pode ser um boleto vencido, o sistema que saiu do ar. Dessa vez, a gambiarra que me permite assistir aos jogos desde São Paulo, onde vivo, não funcionou. Agredi o teclado, mordi o mouse, comi um bloco de post it que estava sobre a mesa. Como se pode notar, este escriba não possui televisão.

Quando finalmente me sentei à mesa do bar, a locução da tevê em desacordo com as imagens, eu tive a certeza da derrota. Com um importante adendo: quando o Galo perde, o Cruzeiro ganha. Na noite anterior, a vitória do Flamengo já avisava sobre o cumulus nimbus. É impressionante o tedioso da vida: vitória do Flamengo, o mindinho no pé da cama, derrota do Galo, vitória do Cruzeiro. Nem precisa Pai Jucá, tá tudo escrito nas estrelas.

O time também não ajuda. Há dois Patrics, cada um numa lateral. Diz-se sempre que a única função dos estaduais, além de iludir o torcedor, é servir como treino, espécie de pré-temporada em que se fazem testes, ganha-se alguma confiança, prepara-se fisicamente. Essa pré-temporada acabou prejudicada pela pré-Libertadores. Ainda assim, por que não testamos antes o novo esquema de jogo, com três volantes no lugar de dois? Por que catzo ensaiamos de um jeito e estreamos de outro?

O mesmo se pode dizer do Mineirão. Se era pra mudar, por que não mudamos antes, a tempo de nos sentir de novo em casa, de os jogadores se adaptarem ao gramado e às novas referências? O engenheiro de obra pronta é um ser desprezível, e eu mesmo apoiei a volta ao Mineirão, nosso salão de festas. Mas depois da desastrosa estreia, tem-se a impressão de que o Atlético funciona como o meu sistema de logins e senhas para jogos do Galo – uma gambiarra que opera ao seu bel-prazer.

Técnicos têm sido tão impopulares no Atlético como Bolsonaro em blocos de carnaval. Pergunto, Mino, aos meus solidários botões se o problema não é outro, visto que ninguém presta. Os botões tocam a passar o VT da peleja, e não há esquema de jogo a não ser acionar os dois Patrics, confiar na disposição do Luan e na instável genialidade de Pelezares. Se Pelezares não brilha, como não brilhou na quarta-feira, danou-se tudo. Fica difícil não dar ouvidos à única instituição brasileira que segue funcionando e a plenos pulmões, a instituição da corneta.

Levir escreveu um livro chamado Burro com sorte. Pelo visto na quarta-feira, não foi um livro, mas um tratado de sincericídio. Deixemos claro que Levir é um cara legal, muito legal, tenho notícias de que já foi a uma rave em Nova York, dançou música eletrônica, e seu apreço pela cultura japonesa é invejável, conheço na índole dos japas. Infelizmente, no entanto, essas premissas não montam um esquema tático para um time de futebol. Veremos na terça-feira que vem, diante do Nacional do Uruguai, se será capaz de apresentar alguma coisa diferente dos dois últimos jogos, em que a invencionice deu no que deu.

Por último, a arbitragem. Ladrões, estelionatários, latrocidas, formadores de quadrilha! Ao soprador de apito e agitadores de bandeiras que atuaram no Mineirão, dedico todo o suco de caju que Bolsonaro teve de tomar durante esse carnaval. Que uma torrente do mais espesso golden shower desabe sobre suas cabeças ocas! Amém.

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