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A Mano Menezes bastaram 200 jogos à frente do Cruzeiro para já ter mais títulos, alegrias, bom futebol e história do que muito clube centenário de Minas Gerais e do Brasil. Ter a sorte de um dia comandar o escrete estrelado já é uma dádiva para a carreira de qualquer treinador. Mas transformar essa passagem em presença no hall dos maiores maestros da Academia Celeste é uma honraria a ser respeitada, goste-se ou não de seu estilo de jogo.
Nesse ano, o criador do irritante, eficiente e campeão Manobol está atingido marcas históricas à frente do Cabuloso. Daqui a um mês, ele baterá a casa de 1.000 dias de serviços prestados às cinco estrelas. Já no último final de semana, pelo segundo começo de ano consecutivo, Mano levou o Cruzeiro a ser o único time da Série A ainda invicto.
Há cinco meses não sabemos o que é derrota sob a égide do Manobol. Claro, que nesse ponto, é preciso ser realista. Descontada a batalha em dilúvio contra o Huracán, pela Libertadores, o resto foi só férias e jogo-treino da Country Cup.
Literalmente isso, pois enquanto apenas dávamos ritmo aos titulares num 3 a 0 festivo contra o Tupi, emprestávamos a Toca da Raposa 3 para o “clássico regional.
De volta à vida real e à história, vamos a outra marca do nosso maestro com seu Manobol: entrou para o Top 5 dos treinadores que mais comandaram o Cruzeiro. Passando em jogos disputados o bruxo “Seu” Ênio Andrade. Esse, saudoso, eleito por mim (antidemocraticamente mesmo) o treinador mais querido de todos os tempos azuis. Sequência conseguida graças ao seu retorno, ao final de 2016, para nos salvar de uma crise. Ainda bem longe de atingir o mais longevo maestro do Cruzeiro/Palestra, Ílton Chaves. Esse sim, um patrimônio celeste, com 362 jogos, sete passagens e mais de 10 anos somados à frente de nosso escrete.
No ano passado, ao calar a nossa casa de praia chamada Maracanã e o estádio da Odebrecht em Itaquera, Mano já atingia outro feito. Entrava para o seleto grupo dos treinadores “bicampeões nacionais” pelo Cruzeiro, ao lado de Luxemburgo e Marcelo Oliveira.
Agora, quando ele se aproxima da possibilidade de levar-nos ao tri da Libertadores ou de conquistar o seu tri conosco na Copa do Brasil, vem à lembrança a família de atletas e treinadores mais importante da história do Cruzeiro/Palestra: os Fantoni. De 1928 a 1969, todos os tricampeonatos do Cruzeiro tiveram um Fantoni como jogador ou treinador. Os irmãos Niginho e Orlando comandaram as equipes em boa parte das sequências vitoriosas de 59/60/61 e 67/68/69.
Ao não aceitar muito a benevolência da “aldeia” ao clube de Lourdes e o ódio velado ao Cruzeiro, o velho Mano nos faz relembrar outro “monstro sagrado” de nossa história: Matturio Fabbi, o maestro da Academia Palestrina tricampeã invicta de 1928 a 1930. Aquele time fez o preconceito da elite desportiva de Belo Horizonte se render ao clube dos operários e imigrantes italianos. Quanta felicidade o “Conduttore” Fabbi deve ter vivido, regendo gênios como Ninão Fantoni, Bengala, Nininho Fantoni, Carazzo, Niginho Fantoni e Piorra.
Quando o assunto é sonhar, elevar o Cruzeiro a um patamar ainda inimaginável, elevamos nossa inspiração ao Panteão dos Irmãos Moreira e suas conquistas da Taça Brasil de 1966 e a Libertadores de 1976. Fico a imaginar o sorriso escondido de Ayrton ao assistir seus moleques Tostão, Dirceu e Natal surrarem o time do Rei Pelé naquele 6 a 2. Ou a explosão de Zezé xingando a também molecagem de Joãozinho na cobrança de falta “roubada” de Nelinho no Nacional, em Santiago.
O Manobol definitivamente não reflete o estilo de jogo pelo qual o Cruzeiro/Palestra e os maiores treinadores nos fizeram sermos apaixonados por ele nesses quase 100 anos, mas é preciso admitir... As marcas alcançadas pelo maestro Mano Menezes têm honrado bem a história desse clube, na qual ele, definitivamente, está escrevendo seu nome.