Quando o América foi atrás de Givanildo Oliveira, no ano passado, para comandar a equipe nas últimas cinco rodadas do Campeonato Brasileiro, não estava atrás apenas de um treinador. Queria um técnico que fizesse as vezes de milagreiro. Afinal, o Coelho estava em situação tão complicada que a queda para a Segunda Divisão só seria evitada mesmo com intervenção divina. Como mortal que é, Givanildo não conseguiu livrar o time de mais um rebaixamento. O problema é que, mesmo depois de encerrado o Nacional, muita gente continuou apostando que Givanildo teria poderes paranormais e levaria o América, com um grupo bem limitado, mais longe do que foi no Campeonato Mineiro, na Copa do Brasil e no início da Série B. Confundir treinadores com seres transcendentais é algo bem comum no futebol brasileiro.
Não que Givanildo não tenha tido sua parcela de culpa no rendimento ruim da equipe, sobretudo em momentos pontuais da temporada. Claro que teve. A questão é que sempre acaba sobrando para o técnico uma conta que não é só dele.
Talvez por isso até Givanildo tenha se surpreendido com sua dispensa. Na noite de terça-feira, depois do revés para o Botafogo-SP, no Independência, ele projetava o futuro no Lanna Drumond. Falava da esperança de melhora com a recuperação dos atletas machucados e a chegada de “dois ou três” reforços.
Imputar à figura do técnico a fragilidade de um time é a saída que os clubes encontram para fingir que estão solucionando os problemas. A limitação continua lá. Só o nome de quem recebe o desafio de mexer as peças é diferente. O cenário é tão comum (e triste) que até treinadores que nunca trabalharam no futebol brasileiro o criticam.
Uma das afirmações mais veementes sobre essa ciranda veio do alemão Jürgen Klopp, que completará quatro anos de Liverpool em outubro e, em mais de 200 jogos no clube, nunca ergueu nem sequer uma taça. No Brasil, algo impensável – e Klopp, ao ser questionado sobre isso, foi curto e grosso: “O que os clubes brasileiros estão fazendo é muito errado.
Na mesma entrevista ao canal Esporte Interativo, Klopp completou: “Do jeito que estão fazendo, não funciona. A pressão que estão colocando nos treinadores é muito grande, e isso não pode acontecer. Você tem que sentir com o time, trabalhar junto, e isso não pode ser feito em uma semana, um mês ou até mesmo em um ano.
Justamente nas últimas sentenças pode estar o X da questão. Estariam os clubes “certos sobre o profissional que estão contratando”, confome teoriza Klopp? Teriam os dirigentes plena convicção quando optam por um nome para dirigir os times? Ou eles assinam o contrato contando com a sorte e já pensando no distrato, caso as coisas não saiam como esperado?
Daí eu estendo a questão para o próprio cargo dos presidentes, num exercício lúdico: já pensou se com eles também funcionasse assim? Se, quando um time não obtivesse bons resultados em campo, o efeito dominó começasse pela instância mais alta de um clube? Quanto tempo um presidente ocuparia a cadeira? Fica a reflexão.
.