O legado de mais de 100 anos da Copa América tem capítulos emblemáticos em Minas Gerais, com jogos violentos, goleada histórica, clássico sul-americano e até derrota inesperada a frustrar os torcedores. A bola voltará a rolar em gramados mineiros amanhã, quando Equador e Uruguai se enfrentam, às 19h, no Mineirão, pelo Grupo C. Mas o Gigante da Pampulha não reina absoluto nessa retrospectiva. Segundo maior estádio do estado, o Parque do Sabiá, em Uberlândia, também já foi o palco de partidas quando o torneio não tinha sede fixa, nos anos 1980.
O primeiro confronto por Copa América em Minas ocorreu em um estádio já demolido e sem Brasil em campo. Ainda antes da inauguração do Independência (que só ficou pronto para a Copa de 1950), o Estádio da Alameda, de propriedade do América, recebeu, em 8 de maio de 1949, Chile x Uruguai. Àquela altura, apenas para cumprir tabela, já que Brasil e Paraguai decidiriam o título em São Januário. A imprensa registrou que o Alameda, que havia sido reformado em 1947, não estava lotado, com público inferior a 10 mil torcedores.
O que viu foi um duelo intenso, com jogadas ríspidas e que terminou com briga generalizada entre os atletas no fim do segundo tempo, depois de entrada violenta de um uruguaio sobre o atacante Infante, autor de dois gols. Para pôr fim à confusão, o árbitro brasileiro Mario Gardelli decretou a vitória dos chilenos por 3 a 1, que acabou não servindo de nada: eles terminaram o torneio em quinto lugar, atrás de Brasil, Paraguai, Peru e Bolívia.
Mais de duas décadas depois, a capital mineira voltou a sediar jogos da competição, que na época não tinha um país-sede fixo. Em 1975, depois de acordo com a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), que antecedeu a CBF, a Seleção Brasileira teve a base formada por atletas que atuavam em Minas, casos de Raul, Nelinho, Piazza, Danival, Palhinha, Campos e Roberto Batata, com o reforço de destaques de outros estados: Amaral, Getúlio e Roberto Dinamite. O técnico era Oswaldo Brandão.
Foram três jogos daquela campanha do Brasil no Mineirão: a goleada sobre a Venezuela por 6 a 0 – a maior da Seleção no estádio até hoje –, a vitória no clássico com a Argentina por 2 a 1 (com dois gols de Nelinho e público de 72 mil torcedores) e uma inesperada derrota para o Peru, de Teófilo Cubillas, por 3 a 1. “Era uma seleção forte, com misto de Cruzeiro e Atlético. E eram jogadores de fora, como Roberto Dinamite. Vieram três ou quatro de Rio e São Paulo que qualificaram o time”, afirma Nelinho, que na ocasião já era conhecido como um dos melhores cobradores de falta do país.
A derrota para o Peru, pelas semifinais, seria a primeira do Brasil no Gigante da Pampulha. A partida foi acompanhada por 22.412 torcedores e teve os atacantes Casaretto e Cubillas como os nomes do jogo.
BANHO DE ÁGUA
O único estádio fora de BH a sediar um jogo de Copa América foi o Parque do Sabiá, em 1983, quando a Seleção Brasileira enfrentou o Paraguai, também pelas semifinais. Dirigido por Carlos Alberto Parreira, o time verde-amarelo era composto por grandes jogadores da época, como Leão, Leandro, Júnior, Andrade, Renato Gaúcho, Careca e Éder. Se faltou bom futebol, o jogo outra vez foi tenso, com faltas violentas, e terminou com as expulsões de Andrade e Cabañas.
Renato Gaúcho, craque do Grêmio, foi o brasileiro mais caçado em campo. Foi nessa partida que Éder se envolveu em polêmica ao devolver um “banho de água” dado pelo massagista do Paraguai, enquanto atendia Romerito no gramado. Como as equipes haviam empatado por 1 a 1 em Assunção, a vaga na decisão, a exemplo de 1975, foi definida por sorteio. E desta vez o Brasil foi beneficiado. Na final, o time de Parreira foi superado pelo Uruguai, ao ser derrotado por 2 a 0 em Montevidéu e empatar por 1 a 1 na Fonte Nova.