São Paulo — Criador do Cebolinha da Turma da Mônica, Mauricio de Sousa assistiu ao jogo errado da Copa América. Na semana passada, foi ao Morumbi ver a derrota do Japão — com quem tem estreitas relações comerciais para os jogos Olímpicos de Tóquio’2020 — para o Chile. O lugar do cartunista, ontem, era na tribuna de honra da Arena Corinthians.
Novo xodó da torcida, Éverton ganhou no Grêmio o apelido do personagem de cabelo espetado com apenas cinco fios, que troca a letra “R” pelo “L”. O desafeto da Mônica desenha nos muros, é capitão do time de futebol do Bairro Limoeiro e saiu das páginas do gibi para a realidade na goleada verde-amarela por 5 a 0 sobre o Peru. A exibição digna de história em quadrinhos deve ter emocionado a criatura e o criador. Mais de 40 mil vozes gritaram: “É, Cebolinha, é, Cebolinha”.
A primeira exibição de gala do Brasil na Copa América confirmou a vaga nas quartas de final como primeiro colocado do Grupo A. O próximo jogo é na quinta-feira, às 21h30, justamente na casa do Cebolinha: a Arena Grêmio, em Porto Alegre. O adversário será o terceiro colocado do grupo B ou C. A definição sairá no mais tardar amanhã.
O massacre de ontem, no Itaquerão, teve cinco personagens. Não dá para comemorar o histórico primeiro gol de Casemiro com a camisa principal da Seleção e ser feliz. Antes de abrir o placar, a peça-chave da engrenagem de Tite recebera o segundo cartão amarelo e está fora das quartas de final da Copa América. O fantasma de Fernandinho nesta mesma fase na eliminação contra a Bélgica na Copa da Rússia deixou a torcida em pânico no estádio e nas redes sociais. Lesionado, o volante nem ficou no banco na despedida da fase de grupos. Hoje, o favorito a herdar a posição é Allan. O jogador do Napoli até entrou no lugar dele.
Não dá para festejar o oportunismo de Roberto Firmino depois da lambança do goleiro Gallese na patética saída de bola e ser feliz com o jejum de Gabriel Jesus. O atacante do Liverpool só faltou entrar com bola e tudo depois de a bola bater em seu pé, aproveitar o rebote da trave e estufar a rede. Enquanto isso, Jesus perdeu pênalti. O dono da camisa 9 amarga oito jogos oficiais sem balançar a rede. Cinco na Copa da Rússia, contra Suíça, Costa Rica, Sérvia, México e Bélgica; e três na Copa América, diante da Bolívia, Venezuela e do Peru
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Não dá para comemorar o golaço de fora da área do meia-atacante Éverton e duvidar de que a voz do povo é a voz de Deus. Tite não brigou com o sobrenatural. Ao que parece, achou certo por linhas tortas o substituto de Neymar.
Não dá para aplaudir a obra-prima de Daniel Alves no quarto gol, após triangulação com Arthur e Roberto Firmino, e deixar passar a partida histórica do lateral. O capitão marcou pela primeira vez na Era Tite no dia em que igualou o número de jogos do Rei Pelé com a amarelinha: 113. O único campeão da Copa América no grupo (2007) tem oito gols.
Não dá para aplaudir o quinto gol de Willian sem recordar que a mítica camisa 10 verde-amarela anda desprezada nesta Copa América. Pertence a um reserva. O jogador convocado para o lugar de Neymar não tem culpa, óbvio. Emendou chute de direita indefensável.
Não dá para levar bandeira branca ao técnico Tite sem esquecer que a exibição de ontem foi na zona de conforto, a casa dele. Pela primeira vez nesta Copa América, a torcida jogou junta. Não houve o silêncio da estreia contra a Bolívia, no Morumbi, nem as merecidas vaias do empate por 0 a 0 com a Venezuela, em Salvador. Pilhados, os 42.317 pagantes azucrinaram a vida do Peru, principalmente de Paolo Guerrero, substituído após o quarto gol do Brasil. Das 10 seleções sul-americanas, a de Tite é a única que jamais sofreu gol do centroavante peruano.
Peru
Gallese; Advíncula, Araujo, Abram e Trauco; Tapia, Yotún, Polo e Farfán; Cueva (Ballón) e Guerrero (Cristofer González)
Técnico: Ricardo Gareca
Brasil 5 x Peru 0
Alisson; Daniel Alves, Marquinhos, Thiago Silva e Filipe Luís (Alex Sandro); Casemiro (Allan)
Gabriel Jesus, Arthur, Philippe Coutinho (Willian) e Everton; Roberto Firmino
Técnico: Tite
3ª rodada da fase de grupos da Copa América
Estádio: Itaquerão
Gols: Casemiro, aos 11, Roberto Firmino, aos 18, e Éverton, aos 31 minutos do 1º. Daniel Alves, aos 8, e Willian, aos 44 minutos do 2º
Árbitro: Fernando Rapallini (Argentina)
Cartões amarelos: Advíncula, Yotún, Arthur e Thiago Silva
Público: 42.317 pagantes
Renda: R$ 10.009.095
ATUAÇÕES
BRASIL
ALISSON (Nota 6)
Trabalhou pouco pelo terceiro jogo consecutivo. Ainda não sofreu gol na competição
DANIEL ALVES (foto) (Nota 7)
Apesar de mais recuado que nos primeiros jogos, teve como mérito ter marcado belo gol no segundo tempo
MARQUINHOS (Nota 7)
Foi bem tanto por baixo quanto pelo alto. Tem atuado com muita regularidade
THIAGO SILVA (Nota 7)
Mais um bom jogo tecnicamente, sem qualquer erro nas coberturas
FILIPE LUÍS (Nota 7)
Teve liberdade para jogar quase como um volante, dando bons passes no ataque. ALEX SANDRO
(Nota 6) entrou e fechou os espaços no lado
ofensivo peruano
CASEMIRO (Nota 6)
Marcou seu primeiro gol pela Seleção, mas levou um cartão que o suspende das quartas de final. Substituído por ALLAN (Nota 6), que ajudou a segurar a posse no meio-campo
ARTHUR (Nota 7)
Cumpriu bem o papel de conduzir a bola entre defesa e ataque. Armou boa jogada no
quarto gol brasileiro
PHILIPPE COUTINHO (Nota 7)
Foi mais participativo que no jogo contra a Venezuela. Apareceu com intensidade na área adversária. WILLIAN (Nota 7) entrou em seu lugar e marcou belo gol de fora da área
ÉVERTON CEBOLINHA (Nota 9) Grata surpresa de Tite, premiou o público com lances de velocidade e habilidade. Fez belo gol no primeiro tempo e vem ganhando espaço no
time titular
GABRIEL JESUS (Nota 7)
Movimentou-se muito pelos lados e deu mobilidade ao setor ofensivo. Perdeu um pênalti
ROBERTO FIRMINO (Nota 7)
Marcou um gol em erro de Gallese e participou do quarto, de Daniel Alves
TITE (Nota 8)
Fez as mudanças necessárias que deram mais dinâmica ao time. E teve a resposta em campo com grande atuação coletiva da equipe
PERU
Apesar dos cinco gols sofridos e do erro no primeiro tempo, GALLESE (Nota 7) defendeu outros chutes e pegou o pênalti de Gabriel Jesus no fim
ARBITRAGEM
O argentino FERNANDO RAPALLINI (Nota 7) não complicou um jogo em que o Brasil imprimiu ritmo forte desde o início e acertou a maioria das marcações