Há 50 anos, na noite de 24 de setembro de 1969, uma bolada no olho esquerdo encurtaria a carreira do maior ídolo da história do Cruzeiro. Em noite chuvosa de reabertura do Pacaembu, pela quinta rodada do Robertão, Tostão teve o olho atingido de raspão pela bola chutada pelo zagueiro Ditão, do Corinthians. Já em BH, o jogador teve o triste diagnóstico: um descolamento da retina. Começava, então, um drama que duraria seis meses até o retorno aos gramados.
Tostão tinha apenas 22 anos, mas já carregava a experiência de uma Copa do Mundo (Inglaterra’1966, com gol marcado contra a Hungria), cinco títulos consecutivos do Mineiro e o heróico troféu da Taça Brasil’1966, goleando o Santos de Pelé na decisão. Era peça unânime da Seleção Brasileira de João Saldanha, terminando como artilheiro das Eliminatórias para a Copa do México’1970, com 10 gols.
Mas a bolada no olho daria início a um drama na carreira do camisa 8 do Cruzeiro. A recuperação durou mais que o previsto. Tostão recebeu a recomendação de operar em Boston ou Houston, mas optou pelo Hospital Metodista da cidade texana. A cirurgia, a cargo do mineiro Roberto Abdalla Moura, aluno de Hilton Rocha, durou três horas e 35 minutos.
"Foi um procedimento cirúrgico difícil, pois não existia a tecnologia que tem hoje. Ele foi operado e a cirurgia foi um sucesso, tanto que ele jogou a Copa com a visão muito boa", lembrou Roberto ao Superesportes, no ano passado. Em 2018, o Superesportes resgatou imagens raras do ídolo cruzeirense durante a recuperação no Texas, quando operou aos cuidados do médico Roberto Abdalla Moura, mineiro de Araguari, à época com 34 anos. O vídeo digitalizado do acervo da extinta TV Itacolomi, dos Diários Associados, é o sexto episódio da seção Um momento na história.
A recuperação durou 20 dias e Tostão voltou a Belo Horizonte saudado pelos torcedores, que ansiavam o retorno do ídolo aos gramados. Mas o drama ganhou novo capítulo no início de 1970, a poucos meses da Copa. Em 30 de janeiro, embarcou para exame de rotina em Houston, mas uma inflamação no olho atrasou sua volta aos gramados.
A volta aos gramados foi em 31 de março, em coletivo da Seleção aberto ao público, no Maracanã – a dois meses da estreia na Copa. Durante a aclimatação, em Guanajuato, ele sofreu um derrame na vista, mas dentro do previsto, segundo Roberto Abdalla, que acompanhou Tostão durante todo o Mundial.
Com a camisa 9, Tostão marcou dois gols na Copa do México (ambos na vitória sobre o Peru, por 4 a 2), e sagrou-se tricampeão mundial com a Seleção Brasileira. Em 1973, depois de novas complicações nos olhos, deixou os gramados, aos 26 anos, jogando pelo Vasco.