Jornal Estado de Minas

REBAIXADO

Hora de reconstruir

 

Poucas vezes se viu um clima tão hostil depois de um jogo de futebol no Mineirão. Enquanto a torcida entrava em conflito com a Polícia Militar e depredava as cadeiras do estádio, jogadores de Cruzeiro e Palmeiras correram rapidamente para o vestiário numa das noites mais tristes da história celeste. O discurso da diretoria, do técnico Adilson Batista e dos poucos jogadores que falaram depois da partida tiveram o mesmo sentido: é preciso que muitas coisas sejam feitas para que a equipe volte para a Primeira Divisão. E o gestor de futebol Zezé Perrella ainda disparou contra a gestão de Wagner Pires de Sá.



Ele sabe que o caminho para a reconstrução é difícil, mas pede união para que todos ajudem o Cruzeiro a recuperar seu histórico de títulos: “Que nós tenhamos isso como aprendizado, com erros que não se repitam. A dor é forte e profunda. Quando me lembro do sofrimento das pessoas, eu me dirijo a eles e peço desculpas. Mas estou com a consciência tranquila, pois tive coragem de tentar e não acovardar e fugir. O apelo que eu faço aos cruzeirenses é que nos ajude na reconstrução. Foram feitas contratações temerárias que não foram pagas. Espero que as pessoas responsáveis, cada um tem sua responsabilidade, paguem pelo que fizeram com o Cruzeiro”.
 
 
A reformulação passará pelos atletas com altos salários e já em idade avançada, casos do armador Thiago Neves e do atacante Fred (cujos salários chegam a R$ 1,5 milhão). “A maioria tem contrato em vigor. Mas se tínhamos dificuldade de pagar esse salário na Primeira Divisão, imagina na Segunda? Vou tentar conversar. Quando se gasta mais que recebe leva o clube à falência. O Cruzeiro tem dois meses de salários atrasados. Os próprios jogadores não me cobravam. A carreira deles estava em jogo. Um time que não consegue se firmar, desequilibrado, em que a bola queima nos pés. O Cruzeiro teve todas as oportunidades do mundo para não cair”, afirma Zezé Perrella.

Contratado para tentar salvar o clube nas últimas três rodadas, o técnico Adilson Batista revelou ter tido uma conversa com Rogério Ceni, que dirigiu o time neste ano, sobre os bastidores do clube: “Tem muita coisa errada. Falta intensividade, aspecto físico, um monte de coisa... Quero fazer parte dessa reconstrução, dar apoio, trabalhar, mostrar para essa geração mais nova como é o Cruzeiro. Ali está o futuro do Cruzeiro. É triste encarar uma Série B. O Cruzeiro teve um ano difícil, alguns anos vem sofrendo com isso e está pagando hoje. É uma linda história, com exemplos. Temos visto coisas erradas. Quero dar minha contribuição e me entregar de corpo e alma”.


 
 
O treinador afirma que fez o possível para dar uma injeção de ânimo aos jogadores quando o barco estava afundando: “O sentimento de um profissional que está aqui e ama o clube é de dor. Não é só profissionalmente, mas pessoalmente, pois faço parte de uma instituição que tenho muito carinho. Queria pedir desculpas, tentei contribuir, fiz aquilo que seria o melhor. Mas não deu”.

Revelado pelo clube, o zagueiro Fabrício Bruno foi um dos poucos a falar depois do jogo. Ele se coloca à disposição para ajudar a Raposa a voltar à elite nacional: “Estou sofrendo. Sou torcedor e ver 30 a 40 mil pessoas sofrendo aqui é muito ruim. Agora é preciso ter sabedoria e cabeça no lugar (para administrar a situação). É uma dor muito grande. Muitos jogadores são de fora, mas eu sou daqui. O Cruzeiro eu carrego no meu coração, no meu corpo. Muitos vão sair e vão curtir as férias. Eu ficarei aqui. Eu caí com o Cruzeiro e vou subir com o Cruzeiro”.
 
 
Outro prata da casa, o lateral-direito Weverton também garante que fará o possível para ajudar no retorno da equipe à elite: “Sou atleta do clube e estou aqui para ajudar. Infelizmente, caímos para a Série B, é a vida, mas vamos seguir em frente. O clima está pesado e precisamos nos mobilizar para voltar para a Série A. Eu, particularmente, senti muito”.