Jornal Estado de Minas

FUTEBOL MINEIRO

Siderúrgica: Aos 90 anos, o recomeço

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis



Hoje é dia de festa no futebol em Sabará. O Siderúrgica, time que foi campeão mineiro duas vezes, em 1937 e 1964, completa 90 anos. E como presente para a histórica cidade da Região Metropolitana de BH, a atual diretoria anuncia um projeto para o retorno do time, que começará a investir nas categorias de base e com o objetivo, ainda sem um prazo definido, de voltar a disputar a Divisão Especial do Campeonato Mineiro.



Uma camisa alusiva à data marcará a comemoração e será comercializada, a partir de amanhã, pelo clube. “Esse será o marco inicial para voltar ao futebol e Sabará ter novamente o orgulho de ter um time, não apenas participante do campeonato, mas que brigue pelo título. Vai demorar, mas esse é o nosso objetivo”, diz o vice-presidente, de 61 anos, servidor público, cujo avô, José Hilário Peixoto, conhecido pelo sobrenome, foi jogador do clube, assim como seu pai, Ali Sánchez, e o tio Lilito, nas décadas de 50 e 60.

O projeto do Siderúrgica ultrapassa os limites de Sabará. A ideia é a criação de um torneio de clubes que foram desativados e que estariam voltando. A competição marcaria o relançamento de todos eles.

“Nosso pensamento é fazer um torneio junto com o Sete de Setembro, Metalusina, de Barão de Cocais, e Asa, de Lagoa Santa. Seria com times amadores, no momento, mas serviria para o relançamento das equipes. Tínhamos programado um amistoso entre Siderúrgica e Sete de Setembro para dezembro, mas com a situação atual não sabemos quando será esse jogo. E a competição, com os quatro times, seria anual. Pensamos também em convidar o Retiro, de Nova Lima”, diz Alexandre, que desenvolve esse trabalho junto com o presidente atual, o advogado Manuel Édson de Oliveira.


(foto: Em Sabará, torcida recebe os jogadores Dawson, Geraldinho, Paulista e o auxiliar de Yustrich, Zezinho Miguel, que voltaram a pé do Estádio da Alameda para pagar promessa a Santo Antônio das Roças Grandes pelo título)

Surpresa desagradável

O primeiro passo para a remontagem do Siderúrgica passa pelo campo, o Estádio da Praia do Ó, hoje batizado Eli Seabra Filho. Na segunda metade de 2019, o prefeito de Sabará, Wander Borges (PSB), fez a recuperação do gramado e das instalações. Era o primeiro passo.

No entanto, uma tragédia, segundo Alexandre, se abateu sobre o Siderúrgica. “O estádio foi entregue em dezembro. Mas veio janeiro e as chuvas. O Rio das Velhas transbordou e destruiu tudo. Tudo terá de ser refeito.”

E nos planos do Siderúrgica está, em especial, a ligação com a cidade de Sabará. Segundo a assessora de imprensa, Grabrielle Celestino, de 30, que trabalha há três anos no projeto, o objetivo é trazer a cidade para o time novamente.



“Tudo que pretendemos é que tudo que diga respeito ao Siderúrgica seja de Sabará. O uniforme, por exemplo, será feito por uma empresa têxtil daqui. Alimentação, transporte, tudo deverá ser da cidade e de pessoas de Sabará.”

Alexandre diz ainda que o clube já procura um parceiro para patrocinar o projeto. “Hoje, no futebol moderno, não existe possibilidade de sobreviver sem um projeto, como clube-empresa. Para isso, precisamos de um parceiro. Estamos atrás de quem queira patrocinar o Siderúrgica e nosso projeto, que inclui, também, a montagem de uma equipe de futebol feminino.”


A história do time da Praia do Ó

A fundação

O Siderúrgica foi fundado em 31 de maio de 1930, por funcionários da Usina Siderúrgica Belgo-Mineira. O estatuto do clube foi elaborado por uma comissão de 10 membros, presidida por Felício Roberto, o primeiro presidente. Inicialmente, o Siderúrgica era um clube recreativo para os funcionários da Belgo. Decidiu-se, então, pela formação de uma equipe de futebol e a empresa tornou-se patrocinadora da equipe.



O estádio

O campo de futebol foipo do adversário, atual Praesa, em Sabará, e o Siderúrgica perdeu por 5 a 4. Em 1931, filiou-se à Liga Mineira de Desportos Terrestres e disputou seu primeiro torneio oficial, conquistando o título de Campeão da 2ª Divisão de Amadores, em 1932. Em 1933, fez sua primeira partida como profissional, vencendo o Palestra construído em terreno da Praia do Ó, doado pelo Recreio Club Siderúrgica, e com o patrocínio da Belgo-Mineira. A primeira partida ocorreu em 17 de agosto de 1930, contra o Alves Nogueira FC, no cam Itália, atual Cruzeiro, por 2 a 1.

Primeiro título

A primeira taça foi conquistada em 1937. A fase de classificação do Campeonato Mineiro teve a participação de seis times – além do time de Sabará, Palestra Itália, Atlético, América, Villa Nova e Retiro. O Siderúrgica terminou em segundo lugar, com 13 pontos ganhos (cinco vitórias, três empates e duas derrotas), atrás do Villa Nova, que somou 14 (seis vitórias, dois empates e duas derrotas). A decisão foi numa melhor de três. O Villa venceu a primeira, em Nova Lima, por 3 a 1. No segundo jogo, em Sabará, o Siderúrgica ganhou por 3 a 0. O jogo extra aconteceu no Estádio da Alameda, e o Siderúrgica venceu por 1 a 0, gol de Arlindo.

O segundo troféu

A decisão do título de 1964 saiu no confronto direto contra o América, no estádio da Alameda, em BH, em 13 de dezembro. O estádio estava lotado, com 15 mil torcedores nas arquibancadas (lotação máxima). Em Sabará, a população fez uma vaquinha para oferecer de prêmio aos jogadores, em caso de conquista do título. O Siderúrgica venceu a decisão por 3 a 1, gols de Ernani, aos 18min, Silvestre, aos 22min, e Aldeir, aos 43min, todos no primeiro tempo. O gol do América foi de Jair Bala, aos 32min do segundo tempo. O Campeonato foi disputado por 12 equipes. Além de Siderúrgica e América, Cruzeiro, Atlético, Democrata-SL, Guarani, Nacional, Pedro Leopoldo, Renascença, Uberaba, Uberlândia e Villa Nova.



A mascote

A tartaruga é a mascote do time de Sabará. Foi criada pelo cartunista Fernando Pierucetti, o Mangabeira, então na extinta Folha de Minas. O motivo dessa escolha é porque, reza a lenda, a tartaruga era o bicho de estimação dos jogadores na década de 40. E na final de 64, depois da conquista, a população de Sabará dizia que era a repetição da fábula de Esopo, a vitória da tartaruga sobre o coelho americano.

O fim do futebol

No Campeonato Mineiro de 1965, o Siderúrgica terminou na terceira posição. Endividado pelos gastos que o levaram à conquista do título de 64, o clube encerrou suas atividades em 1967, quando a Belgo-Mineira, que era patrocinadora do clube, arcando com todas as despesas, retirou o seu apoio financeiro. O Departamento de Futebol foi extinto.

Pioneirismo

O Siderúrgica disputou a Taça Brasil de 1965, terminando na sétima colocação. Foi o primeiro clube mineiro a disputar uma partida interestadual no recém-inaugurado Mineirão. Chegou às oitavas de final, sendo eliminado pelo Grêmio. Também disputou a partida inaugural do Estádio Pelezão, em Guará, no Distrito Federal, naquele mesmo ano.




Grandes nomes do Siderúrgica


Michel Spadano
Centroavante, um dos ídolos do time campeão de 1937.

Cecy (Moacyr Paes Leme de Oliveira) Conhecido como Center, era o grande jogador dos times de 1941 (vice-campeão mineiro) e 1942 (terceiro colocado). Foi o artilheiro do Estadual em 1941.

Paulo Florêncio
Uma das maiores revelações do time de Sabará. É o primeiro mineiro, nascido no estado, a ser convocado para a Seleção Brasileira, com a camisa de um clube de Minas Gerais, o Siderúrgica, em 1942, disputando o Campeonato Sul-Americano. Jogou também no Cruzeiro, por oito temporadas; Caracas, da Venezuela; e Sete de Setembro.

Djair
Goleiro, apesar de seu 1,68m, jogou no clube na década de 1960, sendo campeão mineiro em 1964. É considerado o melhor da história do clube.

Tião
Ponta-esquerda do grande time campeão de 64. Jogou ainda no Vasco e foi campeão brasileiro pelo Atlético, em 1971.

Noventa
Atacante, camisa 10, dono de grande habilidade, campeão de 64. Jogou o segundo tempo da decisão, contra o América, com uma fratura no braço esquerdo. Jogou também no América, Villa Nova e Atlético.

Silvestre
Centroavante, goleador, chamado de “o artilheiro da alegria”. Tinha as pernas finas, mas era muito habilidoso. Jogou ainda no Fluminense (juvenil), América e Democrata (Sete Lagoas).