Jornal Estado de Minas

Especial/O retorno do futebol mineiro

O risco do rebaixamento ronda quatro times no Mineiro

O time do Coimbra, que tem boas chances de permanecer no Módulo I do Mineiro, teve várias baixas por causa da COVID-19 (foto: Henrique Chendes/Coimbra Sports)

Paulo Galvão

A retomada da disputa do Campeonato Mineiro a partir de domingo é comemorada por uns, mas motivo de preocupação para outros. E não se trata da questão da saúde em função de a COVID-19 continuar representando um risco para todos. Se há quem almeje título, classificação, ida para torneios nacionais no ano que vem, a turma da parte de baixo da tabela de classificação certamente vê o rebaixamento tão nocivo quanto um vírus.




Não é por menos que os dois últimos colocados, Tupynambás e Villa Nova, foram os únicos contrários à sequência da competição. Vencidos na reunião na Federação Mineira de Futebol (FMF), recorreram ao Tribunal de Justiça Desportiva (TJD),  pedindo, no mínimo, que suas partidas fossem suspensas, alegando dificuldades impostas pela pandemia, mas também não obtiveram sucesso. Na 10ª rodada, o time de Juiz de Fora recebe a Caldense, enquanto o de Nova Lima vai ao Triângulo enfrentar o Uberlândia.


Assim, restou correrem contra o tempo para conseguir voltar aos treinos. No caso do Tupynambás, isso só ocorreu no sábado, quando o técnico Guiba comandou a primeira atividade em Petrópolis, onde a agremiação se refugiou por não ter autorização da prefeitura para trabalhar em Juiz de Fora.

O volante Augusto Recife permanece no meio-campo do Villa Nova (foto: Will Gonçalves/Divulgação)

“O prazo é insuficiente, curto demais, basicamente 16 dias depois de uma paralisação de quatro meses. Mas vamos cumprir o compromisso com a Federação, apesar de não concordarmos com este retorno de forma tão rápida”, afirma Cláudio Dias, vice-presidente do Baeta, não mostrando muito otimismo com a salvação neste ano.


De qualquer forma, a diretoria buscou contornar a situação firmando parceria com a empresa DSG Sports Group, cuja sede fica justamente na cidade da Serra Fluminense. Além da estrutura, vai utilizar jogadores do parceiro para completar o grupo, formado por remanescentes de antes da paralisação, como o volante Leo Salino e o veterano atacante Ademílson, e com jogadores da base. Além da Caldense, o outro compromisso é contra o Boa, em Varginha.


No caso do Villa Nova, a mudança também foi grande e a grande novidade é a chegada do volante Serginho, ex-Atlético e Sport e que começou justamente em Nova Lima. Do grupo anterior, apenas oito atletas foram mantidos, entre eles o volante Augusto Recife e o atacante Pinguim, que é prata da casa.


No comando também houve alteração, saindo Badico e chegando Ademir Fonseca. “A equipe não vinha bem, infelizmente não encaixou, e houve necessidade de fazer uma reformulação, inclusive já pensando na disputa da Série D do Brasileiro. Alguns jogadores vão permanecer, então, queremos adiantar as coisas e já tentar formar uma equipe já planejando a Série D. Seria muito bom para todos conseguirmos os dois objetivos, permanecer no Módulo I e entrarmos forte no Nacional”, diz o treinador, com incrível desafio pela frente. “Escapar seria como ganhar um título, pois a situação não é nada fácil”, reconhece ele.



Muitas perdas

Na última rodada, o duelo do Leão poderá ser de vida ou morte contra o Coimbra, caçula da Primeira Divisão mineira e que tem três pontos a mais. A equipe de Contagem entrou na paralisação feliz com a vitória por 1 a 0 sobre o Cruzeiro, no Independência, a única até aqui na competição, que pode ter uma importância tremenda para que consiga escapar da degola.


Até porque manteve o técnico Diogo Giacomini e parte do grupo. Além disso, apesar das dificuldades, conseguiu superar o período sem jogos e honrar compromissos, e agora, mesmo encarando no retorno um dos melhores times do torneio, o Tombense, está otimista. “A vitória sobre o Cruzeiro nos deu uma condição de sonhar com vaga no Torneio Inconfidência”, diz o treinador, referindo-se à competição que será disputada por quem ficar entre o quinto e o oitavo lugar da fase de classificação.


Mas a situação exige muito esforço de todos. “Tentamos segurar todo o grupo até 1º de junho, acreditando em uma solução (para a pandemia)  que não veio. Aí, no dia 7 de julho, marcaram o retorno do campeonato. Perdemos 11 jogadores, alguns tinham pré-contratos, propostas e se foram. No dia, 8 fizemos os testes de COVID-19, que constataram que três jogadores estavam infectados, outros três tiveram resultados inconclusivos e mais seis também foram afastados por dividirem quarto com eles.



O veterano Ademílson continua no ataque do Tupynambás, que está treinando em Petrópolis, no Rio de Janeiro (foto: Fernando Priamo/Tribuna de Minas)
 

Neste sábado, saíram novos resultados e se os inconclusivos deram negativo, outros dois testaram positivo para o novo coronavírus. Ou seja, teremos apenas seis dias até a reestreia e sem muitos atletas”, afirma o diretor de futebol Hissa Elias Moysés, que foi buscar o lateral-direito Wellington Capixaba no Boavista-RJ e o atacante Guilherme no Atlético, além de ter requisitado atletas do Sub-23. “Devemos contratar mais dois reforços.”


Ontem, o clube divulgou que um dos reforços, contratado justamente para suprir a asuência de um jogador com coronavírus, também testou positivo para a COVID-19. É o sexto atleta com a doença.

Sem coletivo

Em situação um pouco melhor, mas não menos ameaçado, o Boa contratou nada menos que 13 jogadores na parada. Entre eles o volante Daniel Carvalho, que estava na Caldense, e alguns velhos conhecidos, como o armador Raphael Luz, que vestiu a camisa no ano passado.


“Gostei muito de jogar aqui, fui muito bem acolhido. Meu retorno estava meio que previsto e eu estava animado para voltar. O elenco do ano passado era  muito forte. O de agora a gente não conhece muito bem por conta da pandemia e não fazer trabalho em conjunto. Mas tenho certeza que a diretoria está fazendo um elenco muito forte e este ano vamos brigar pelo acesso (na Série C do Brasileiro)”, diz.


Outro que a torcida conhece bem é o técnico Nedo Xavier.  O problema é que a Prefeitura de Varginha ainda não permitiu  a volta dos treinos coletivos, dificultado o trabalho do treinador.


“A gente tem separado em grupo com quatro ou, no máximo, cinco jogadores. Dificulta, porque o campeonato está previsto para recomeçar dia 26 e tem clubes trabalhando com todos os jogadores juntos e com bola. A gente teve a chegada de vários jogadores, precisamos treinar a parte tática, treinar fundamentos”, declara.