Em junho de 2019 - a um ano e meio da eleição -, Sérgio Sette Câmara já havia decidido: tentaria os votos do Conselho Deliberativo para reeleger-se presidente do Atlético. Há dois meses, em setembro de 2020, o advogado, enfim, tornou público o desejo e falou abertamente que queria seguir no cargo. Porém, tudo mudou. Em entrevista coletiva nessa quinta-feira, o mandatário anunciou a desistência da candidatura e falou em tom de despedida. Mas, afinal, o que o fez mudar de ideia em tão pouco tempo?
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O inconsistente desempenho do time nos primeiros anos de mandato e as rusgas criadas com nomes importantes da administração alvinegra fizeram Sette Câmara recorrer de forma mais frequente à família Menin, a partir do primeiro trimestre deste ano. Os investimentos de Rubens e Rafael fizeram com que a popularidade do presidente aumentasse, já que o rendimento em campo melhorou com a chegada de reforços e do técnico Jorge Sampaoli.
Mas não foi suficiente para que Sette Câmara contornasse os problemas acumulados ao longo da gestão. Os empresários que comandam o grupo de situação do Atlético querem pacificar o turbulento momento político do clube - possibilidade descartada com uma eventual reeleição do atual presidente, que se desgastou com um dos líderes históricos da política alvinegra: Alexandre Kalil.
Presidente mais vencedor da história do clube, o prefeito de Belo Horizonte se afastou dos bastidores atleticanos nos últimos meses, mas ainda tem peso significativo sobre os demais conselheiros. Manter o atual mandatário no cargo, portanto, inviabilizaria o projeto de acalmar os ânimos num triênio decisivo, que terá a inauguração da sonhada Arena MRV. E o próprio Sette Câmara admitiu isso.
“Senti que poderia haver algum tipo de embate político se eu eventualmente viesse a insistir na minha reeleição. Isso poderia prejudicar o clube também. O Atlético em primeiro lugar. Nós temos que estar aqui em paz. Para dar continuidade a esse trabalho, é necessário que o Atlético esteja em paz. Esse é um ponto extremamente importante, porque um clube que vive numa turbulência política, queira ou não, acaba de alguma maneira contaminando o departamento de futebol, os jogadores, a torcida, a imprensa”, disse.
O candidato para levar a tão desejada paz política aos bastidores do Atlético está praticamente definido: Sérgio Batista Coelho, ex-vice presidente de futebol. A tendência é que ele forme chapa com José Murilo Procópio, que foi vice-presidente jurídico do clube no anos 2000. A definição dos nomes deve ocorrer até 26 de novembro - duas semanas antes do pleito, agendado para 11 de dezembro.
Motivações pessoais
Ao longo da entrevista, Sérgio Sette Câmara disse ter optado por não concorrer à reeleição. Sabe-se, porém, que a desistência não se deveu estritamente ao desejo do advogado. O desgaste político e a falta de apoio foram decisivos no processo, que envolveu também questões pessoais - já alegadas há anos pelo dirigente.
“Esses três anos me consumiram demais, inclusive a própria saúde. O que eu tive de problema de saúde durante esses três anos não está no gibi. Estou até com um lenço, pois tive que fazer uma cirurgia no meu olho direito. O Atlético consome quem está aqui. Você, às vezes, passa a noite sem dormir. Não é possível administrar a sua vida pessoal durante o período em que você está aqui com a tranquilidade que outras pessoas têm. Acho que o meu papel aqui no Atlético foi cumprido, a minha missão foi cumprida”, disse.
"Eu optei, depois de refletir bastante, em não sair para a reeleição. Acho que teria todos os predicados e méritos e, se quisesse, poderia sim sair (como candidato) e ganharia, porque acho que fiz um excelente trabalho, e o conselho do Atlético reconhece isso. Mas eu preciso cuidar da minha vida profissional, da minha família”, completou.
Ao ceder a cadeira de presidente a um sucessor, Sette Câmara, porém, não desiste de participar da gestão atleticana. O presidente deixou claro que seguirá ativo nas decisões do clube como conselheiro e, principalmente, integrante do grupo da situação, liderado pela família Menin.