Quando chegou à Cidade do Galo em 21 de maio de 2019, Júnior Chávare recebeu a missão de tornar novamente o Atlético referência na formação de jovens jogadores. Nesse ano e oito meses, estabeleceu estratégias incisivas no mercado para captar atletas promissores em fases mais avançadas de maturação.
Aos poucos, os resultados têm aparecido de forma mais clara: o time Sub-20 voltou à final do Campeonato Brasileiro após dez anos e o meia Calebe, contratado na atual gestão, recebeu chances no profissional.
O projeto, porém, não convence totalmente o novo presidente alvinegro, Sérgio Coelho. Desde que foi eleito, em dezembro de 2020, o mandatário atleticano tem deixado claras as divergências conceituais em relação ao trabalho desenvolvido na base.
Para Coelho, o foco deve ser a captação de atletas ainda mais jovens, com até 16 anos. Com isso, uma troca no comando do setor é vista como provável.
Em meio às incertezas sobre a continuidade no clube, Júnior Chávare concedeu entrevista exclusiva ao Superesportes na tarde desta terça-feira (12/1). O dirigente garantiu ainda não ter se reunido com Sérgio Coelho para tratar sobre os rumos da base do Atlético. E ainda não há uma data para esse encontro, que pode selar a continuidade ou, mais provavelmente, o fim do trabalho.
Segundo Chávare, a única conversa a respeito da gestão do setor foi com o novo diretor de futebol do clube, Rodrigo Caetano - peça fundamental na decisão de demiti-lo ou não. Nada, porém, foi definido.
“Quem tem que responder sobre data para conversa é o presidente. Para mim, é uma situação a que estou acostumado, com mudança de gestão (Chávare foi contratado pelo ex-presidente Sérgio Sette Câmara). O presidente (Sérgio Coelho) ainda não fez contato comigo, só o Rodrigo Caetano, logo na chegada dele. Mas, enquanto o presidente não me chama para conversar, sigo fazendo o meu trabalho”, disse.
Chávare disse entender a avaliação de Sérgio Coelho e aguarda a reunião para expor com mais detalhes o planejamento para a base atleticana.
“Respeito profundamente a opinião do presidente. No momento adequado, quando formos conversar, vamos expor nossas ideias. Mas ele, como condutor do clube, tem que decidir os parâmetros que vão ser seguidos. E assim será, independentemente da minha continuidade ou não. O planejamento vem sendo seguido e dando resultados”, pontuou.
Mudança conceitual
Na primeira entrevista como presidente do Atlético, Sérgio Coelho falou sobre a intenção de reformular o processo de captação de promessas.
“Às vezes, buscar até uma consultoria externa, para fazer um planejamento de como fazer captação, da melhor maneira possível, de atletas bem novos”, disse.
“Hoje, os atletas chegam ao clube, muitas vezes, com idade de 16, 17, 18 anos. No meu entendimento, acredito que eles têm que chegar com sete, oito anos”, completou.
Há, porém, um impeditivo jurídico que dificulta a implementação integral do projeto de Coelho. No Brasil, a legislação proíbe que crianças e adolescentes com menos de 14 anos sejam formalmente ligados a clubes de futebol.
Entre os maiores de 14 e menores 20, é possível firmar contratos de formação desportiva. Só a partir dos 16 é que um jogador pode assinar vínculo profissional. Portanto, para focar a captação em meninos de “sete, oito anos”, como deseja o presidente, o Atlético precisaria apostar em associações não formais, como escolinhas de futebol ou outros projetos, por exemplo.
No trabalho à frente da base alvinegra, Chávare se destaca, em especial, pela busca de jogadores em fases mais avançadas de formação (a partir dos 16 anos). O dirigente, porém, afirmou que a maioria dos garotos foram captados pelo clube em idades inferiores aos 14.
“Nossa captação foi, em maior parte, de 16 anos para baixo. Foram mais de 60% de 14 anos ou menos. São números importantes. A gente entende que tem espaço para todas as idades”, afirmou o dirigente, que, apesar de frisar a busca de meninos mais novos, garantiu que há retorno técnico e financeiro quando se contrata jogadores em fases avançadas de formação.
“O que posso garantir é que os jogadores que chegaram prontos aos clubes que passei deram retornos técnicos e financeiros. O semi-pronto, assim como qualquer outro jogador, dá retorno técnico e financeiro. Mas isso não quer dizer que você só vai investir em jogadores mais velhos”, completou.
O futuro da base alvinegra deverá ser definido nos próximos dias. Nomes como o de Erasmo Damiani, ex-chefe das categorias de base da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), estão em avaliação pela diretoria atleticana.