Financeiramente, o Atlético simboliza com exatidão o paradoxal futebol brasileiro: ao mesmo tempo em que a dívida dispara (e supera R$ 1 bilhão), o grupo é fortalecido com estrelas internacionais. As aparentes contradições, entretanto, são balizadoras de um projeto ousado e que só consegue se sustentar graças aos empréstimos de empresários atleticanos.
Maior dos credores do clube, Rubens Menin, da MRV Engenharia, é peça fundamental nessa complexa engrenagem.“O Atlético não corre risco. Quem corre somos nós, investidores, e de forma consciente”, argumenta, em entrevista ao Estado de Minas e ao Superesportes.
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Os cronogramas estão rigorosamente em dia. Existe uma possibilidade, não muito certa, de que antecipe, mas vamos pensar em outubro de 2022 como o término. Se tudo correr muito bem, se a engenharia for muito bem, pode até antecipar, mas é coisa de um mês, dois meses.
A arena é a salvação financeira do Atlético? Quanto vocês planejam arrecadar nesses primeiros anos?
Ela não é a salvação. É um passo importante. É para colocar o Atlético entre os maiores times do Brasil definitivamente, com chances de que seja um dos grandes times do mundo. A gente pretende que a arena dê ao Atlético uma renda adicional de mais de R$ 100 milhões no início
A dívida do Atlético ultrapassa R$ 1 bilhão. Boa parte é com você e sua família, que têm emprestado dinheiro ao clube. Não te preocupa a possibilidade de não receber de volta?
A dívida do Atlético é grande, mas o Atlético, diferentemente de outros times que têm dívida e não têm patrimônio, o Atlético tem patrimônio. Quando a gente faz empréstimo, a gente espera que o Atlético possa pagar. Como? Vendendo os jogadores nos quais a gente investiu. Se não der certo, foi um mau investimento. Mas a gente tem muito otimismo que todo esse investimento vai dar certo para todo mundo, o Atlético vai ganhar dinheiro e nós vamos ter o nosso dinheiro de volta.
Essas dívidas têm juros baixíssimos, mas em algum momento o clube vai ter de pagar. Se esse time não vingar, quais são as saídas?
Primeiro: os juros não são baixos, não. Os juros são zero. Nós não estamos cobrando juros. Segundo, é importante que o Atlético não corre risco. Quem corre somos nós, investidores, e de forma consciente. Se os jogadores não forem vendidos, se não vingarem, simplesmente nós não vamos receber esse dinheiro. Então, para o Atlético, é uma boa aposta. Ele está apostando um investimento em jogadores que, se não vingarem, ele não conseguirá pagar, mas nós não iremos cobrar. Se vingarem, ele vai ter lucro e vai nos pagar tranquilamente.
No seu entendimento, como torcedor, o que está faltando no elenco?
Eu, como torcedor, ‘torcedorzão’, acho que precisa de um beque, mas quem sabe melhor disso é o presidente e o Rodrigo Caetano. Acho que, talvez, alguma coisa em termos de ataque. Talvez precise de mais um ‘9’.
Qual o peso da derrota para o Cruzeiro no ambiente e no planejamento?
Ela não pode atrapalhar em nada. Futebol é bom porque é assim mesmo. Eu acho o time do Atlético bem superior ao do Cruzeiro, mas o Cruzeiro entrou e ganhou. Clássico é clássico. O primeiro jogo que vi no Mineirão foi Atlético e Formiga, na década de 60, e o Formiga ganhou por 2 a 1. Não estou falando que o Cruzeiro é um time menor não, longe disso. Só disse que o Atlético, hoje, tem mais chance de ganhar, mas o Cruzeiro ganhou. Isso é do futebol.
Depois da derrota houve muita cobrança sobre o Cuca. Esse clássico perdido coloca pressão além da conta no treinador, ainda mais considerando que o Renato Gaúcho deixou o Grêmio, sendo que ele era alvo do Atlético após a saída do Sampaoli?
Vou falar como torcedor: eu nunca quis o Renato Gaúcho, sempre quis o Cuca. A partir do momento da saída do Sampaoli, o Cuca, para mim, era o que tinha de melhor. E continuo achando isso. Julgar um treinador por duas, três semanas de trabalho, é brincadeira.
Se tivesse de escolher um título para o Atlético ganhar nesta temporada, qual seria?
Eu fico entre Libertadores e Brasileiro, com a Copa do Brasil em terceiro lugar. Se ganhar um, acho que nosso projeto é vencedor. No coração, eu fico com o Brasileiro, mas com a razão eu fico com a Libertadores, porque é um título que vale mais.
No fim do mês passado, o cantor Samuel Rosa, do Skank, cruzeirense, usou as redes sociais para sugerir que a MRV também patrocinasse o maior rival do Atlético. Existe alguma possibilidade de acontecer?
Não é que está descartado. A MRV pensa assim: no Rio, patrocinou o Flamengo. Um time no Rio basta. Não tem necessidade de ter dois patrocínios aqui. Evidentemente, a gente opta pelo Atlético ao Cruzeiro porque a gente é atleticano. Mas com todo respeito. O pessoal brinca com o Samuel. O atleticano compra disco dele. É a mesma coisa que o atleticano deixar de comprar porque ele é cruzeirense. Ou então: ‘Ô, Samuel, você não compra Galo na Veia, e a gente compra o seu disco’.
Falando ainda de Cruzeiro, o rival do Atlético vive uma situação complicada. Queria uma avaliação do Rubens empresário e do Rubens torcedor sobre o rival.
Primeiro, que o Cruzeiro é rival do Atlético, mas ainda bem que tem o Cruzeiro, porque a rivalidade é boa. O Cruzeiro, infelizmente, está numa situação difícil, como o Atlético também estava, mas um pouco menos. O Cruzeiro tem de fazer o dever de casa – e acho que está fazendo.