Sérgio Santos Rodrigues completa, nesta terça-feira (1º/6), seu primeiro ano como presidente do Cruzeiro. O advogado assumiu o cargo após vencer eleição para mandato-tampão contra Ronaldo Granata por 269 votos a 74. Ele sucedeu José Dalai Rocha, que administrou o clube entre dezembro de 2019 e maio de 2020, auxiliado por um Conselho Gestor.
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Dentro de campo, os resultados alcançados estão abaixo das expectativas. Em 2020, o Cruzeiro estreou na Série B do Campeonato Brasileiro em 8 de agosto - pouco mais de dois meses após a posse de Sérgio Rodrigues. O clube passou por muitas intercorrências, como duas trocas de treinadores (Enderson Moreira, Ney Franco e Felipão), e fracassou na busca pelo acesso à Série A do Campeonato Brasileiro.
Embora tivesse o principal orçamento da Segunda Divisão, o Cruzeiro encerrou a competição com 12 pontos de diferença para o G4. A Raposa alcançou apenas a 11ª colocação, com 49 pontos. Os mineiros ficaram mais perto da zona de rebaixamento (diferença de 10 pontos) do que do grupo dos classificados à Primeira Divisão.
Ainda que não tivesse perdido os seis pontos, após o não pagamento de uma dívida à Fifa pelo Conselho Gestor, que antecedeu Sérgio no comando do clube, o Cruzeiro ficaria longe por seis pontos do acesso à Série A.
Nesta temporada o Cruzeiro se mantém irregular. Embora mais organizado sob o comando de Felipe Conceição - quarto treinador da ‘era Sérgio’ -, o time mostra a necessidade de reforços. Dos 12 contratados nesta temporada, Alan Ruschel já se transferiu para o América e Marcinho tem saída encaminhada ao CSA. Responsável por toda elaboração do plano do futebol em 2021, André Mazzuco deixou o clube após menos de quatro meses de trabalho ao receber oferta do Santos.
Fora de campo, problemas com organização financeira tiveram influência dentro das quatro linhas. Ao longo de grande parte dos últimos 12 meses, o Cruzeiro sofreu com atrasos nos pagamentos de salários do grupo de jogadores e especialmente com os funcionários.
Em janeiro, na reta final da última edição da Série B, o atacante Rafael Sobis, um dos líderes do grupo, disse que torcedores e jornalistas não sabiam “10% do que estava acontecendo no Cruzeiro”. “O momento é difícil, os jogadores que estão aqui são heróis. Muita coisa acontecendo, muito difícil, muito difícil mesmo”, disse.
Naquele momento, o Cruzeiro devia aos jogadores três meses de salários. Como forma de protesto, o grupo optou por não se concentrar para o duelo diante do Oeste, pela 33ª rodada da Série B.
Morosidade política
Após a eleição, em maio de 2020, Sérgio Rodrigues prometeu, reiteradas vezes, que seria implacável contra conselheiros que lesaram o Cruzeiro na gestão do ex-presidente Wagner Pires de Sá. Um ano após o início de sua gestão, no entanto, nenhum deles foi expulso dos quadros associativos - alguns não foram reeleitos. O presidente alega que, no que cabe à diretoria executiva, todas as iniciativas já foram tomadas.
Neste mês, um novo Conselho de Ética e Disciplina foi nomeado pelo presidente do Conselho Deliberativo, Nagib Simões. A expectativa é de que os processos envolvendo os conselheiros remunerados pela antiga gestão, entre eles o próprio ex-presidente Wagner e o ex-vice, Hermínio Francisco Lemos, ganhem mais celeridade no segundo semestre.
A demora excessiva para que as expulsões sejam tema central dos debates no Cruzeiro ainda gera grande revolta por parte do torcedor. No último dia 26, quando completou dois anos das denúncias feitas pelo Fantástico, torcedores se manifestaram - nas redes e nas ruas - pedindo providências com relação aos envolvidos em esquemas proibidos pelo regimento do clube celeste.
Ainda pesa sobre diferentes lideranças do Cruzeiro a lentidão para trabalhar uma profunda reforma de Estatuto. O documento oferecido pela comissão - e defendido por Sérgio - causou revolta em diferentes alas da política do Cruzeiro. No ponto de vista desses associados e conselheiros, que conseguiram na Justiça impedir a votação do tema na Assembleia Geral, não estão entre as propostas mudanças significativas, especialmente no sistema eleitoral.
Departamento jurídico atuante
O pagamento das dívidas e acordos trabalhistas e tributários talvez sejam, até aqui, as virtudes da gestão de Sérgio Rodrigues. De acordo com balanço divulgado no fim do ano passado, o Cruzeiro pagou pouco mais de R$ 32 milhões de débitos cobrados por outros clubes na Fifa.
Ainda que com certa dificuldade, uma vez que recebeu duas punições da entidade máxima do futebol - os chamados ‘transfer ban’ - por atraso nos pagamentos, o Cruzeiro conseguiu, com ajuda de parceiros históricos, quitar pendências para voltar a registrar atletas. Isso permitiu, por exemplo, que Rafael Sobis fosse inscrito em 2020 para ajudar a evitar o rebaixamento celeste à Série C do Brasileiro.
Entre os acordos, o que mais chamou atenção foi o realizado com a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN). Nas contas feitas pelo clube, a negociação permitiu economia de aproximadamente 45% na dívida do Cruzeiro com a União.
A dívida causada pelo não recolhimento de impostos, especialmente entre 2015 e 2019 - nas gestões Gilvan de Pinho Tavares e Wagner Pires de Sá -, era de R$ 328 milhões. O Cruzeiro chegou a ser excluído do Profut pelos atrasos frequentes. O montante, com desconto de cerca de R$ 150 milhões, será pago em 60 parcelas mensais, no caso das dívidas previdenciárias, e em 145 parcelas para os demais débitos.
Já entre os acordos trabalhistas, o departamento jurídico do Cruzeiro calcula que as negociações geraram economia de R$ 85 milhões. Destaques para os acertos com o atacante Fred e com o lateral-esquerdo Dodô, que receberão de forma parcelada R$ 25 milhões e R$ 15 milhões, respectivamente, a partir de 2022.
Ainda na seara jurídica, o Cruzeiro ajuizou ações contra ex-dirigentes e buscam ressarcimento de cerca de R$ 8,2 milhões.