O Cruzeiro anunciou a contratação do técnico Mozart Santos, ex-CSA e Chapecoense, nessa quinta-feira (10). Em meio a um cenário de crise interna e pressão por parte da torcida, o profissional de 41 anos chega com a dura missão de recolocar o clube celeste na Série A do Campeonato Brasileiro. O Superesportes ouviu jornalistas e um analista de desempenho sobre o estilo de jogo do novo comandante da Raposa.
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Como esperado, o início dessa ‘transição de metodologias’ encontrou dificuldades, e críticas começaram a surgir. Em pouco tempo de trabalho, o treinador de 41 anos se viu pressionado por torcedores e pela imprensa local, diante de atuações pouco produtivas da Chapecoense. Derrotado na final do Estadual pelo Avaí, Mozart foi demitido após oito jogos.
Opiniões
Leonardo Rezende
Analista de desempenho em futebol
Diferentemente do Conceição, em momento defensivo, a prioridade do Mozart é uma marcação em bloco médio. Talvez, pelo elenco que tinha no CSA e pelo que vai encontrar no Cruzeiro, aproveite a filosofia e faça marcação em bloco alto. Nos tiros de meta, ele subia o bloco e tentava recuperar em zona avançada. Marcação individual no setor da bola.
Nesses momentos, marcava em 4-4-2 e, de acordo com avanço da equipe adversária, variava para um 4-2-3-1, com os pontas vigiando os laterais, o atacante dividindo entre os zagueiros e um dos meias no volante. Os outros dois volantes dando cobertura por trás. Em bloco médio, também fazia marcação individual por setor. O tipo muda pouco em relação ao Conceição. O que deve mudar é que, inicialmente, a equipe não deve marcar tanto em bloco alto. Talvez, seja bom para o time recuperar confiança e melhorar o sistema defensivo.
Quando perdia a bola, o CSA tinha uma ideia de pressionar após a perda para recuperar rápido. Era muito mais coordenada e coletiva do que a do Cruzeiro com o Conceição, até pelo tempo de trabalho. Por não atacar com tantas peças, o CSA também tinha mais jogadores preparados para possíveis transições defensivas. Achei um time mais equilibrado, mas era um trabalho que já tinha 30 jogos, bem mais consolidado.
Com bola, em primeira fase de construção, fazia um 4%2b1 parecido com o do Conceição. Os laterais abertos e o volante balançando de acordo com o lado da bola. A diferença é que eu vi os dois meias se aproximando mais para oferecer opção de passe mais próxima, ao invés de ficar lá na frente dando profundidade, como vimos o Matheus Barbosa fazer muito.
O processo ofensivo do Cruzeiro com o Conceição era bom, mas precisava de alguns ajustes pontuais, tanto em saídas de jogadores, quanto em posicionamento. Essa tentativa de ‘baixar’ um pouquinho os meias pode ser útil para a equipe progredir com mais tranquilidade. O CSA não era um time que encantava, mas tinha facilidade para avançar em campo.
O Mozart também mantinha os pontas abertos em amplitude a todo instante, diferentemente do Cruzeiro. Em comportamentos com a posse, vi poucas bolas longas. O time tentava sair de forma curta, raramente tentava ligações diretas. Com o Conceição, a Raposa exagerava nos chutões quando não conseguia sair curto.
Em geral, o Mozart tem ideias bem parecidas com as do antigo técnico do Cruzeiro. Ele deve fazer alguns ajustes (principalmente no aspecto defensivo), aproveitar a base deixada pelo Conceição, e acredito que será uma adaptação mais rápida do que se a Raposa tivesse contratado um treinador com filosofias mais defensivas.
Importante considerar que a amostragem foi pequena. Às vezes, ele trabalhou desse jeito no CSA porque era o que o elenco podia entregar, mas, no Cruzeiro, fará de outra forma.
Rodrigo Goulart
Repórter do Diário de Iguaçu e Rádio Chapecó
O trabalho do Mozart não deu certo na Chapecoense. As ideias dele acabaram não casando com o grupo de jogadores. Não deu liga. Foi isso o que aconteceu.
O Mozart é um técnico que é adepto do futebol construído, não do reativo. Aqui, na Chapecoense, pelo menos, o futebol com o Mozart chegava a ser irritante. Eram muitos toques laterais e para trás. Ele gosta de fazer aquela saída de três. Dois zagueiros, puxa um lateral ou um volante e ficam tocando bola, para lá e para cá. Quando chegava alguém para o combate, recuava para o goleiro.
O futebol que a Chapecoense praticou com o Mozart era de dar sono. E, mesmo assim, a Chape poderia ter sido campeã catarinense se tivesse caprichado um pouquinho mais nas finalizações, mas não é aquele futebol aguerrido, agressivo. É um futebol construído, que aqui não deu certo. Também é importante levar em consideração a limitação técnica da Chapecoense. Talvez, com um grupo um pouco mais qualificado, de repente, dê certo. Ele não tinha material humano para fazer esse tipo de futebol.
Mas, repito, chegava a irritar o modelo de jogo em função do excesso de toques, trocas de passes burocráticos que o time apresentou. Foi da água para o vinho, do Umberto Louzer para o Mozart. Mudança radical e os jogadores não conseguiram assimilar. Chapecoense foi campeã da Série B com um futebol reativo e passou a usar um futebol de construção. Realmente, não agradou.
Felipe Dalke
Repórter setorista do Coritiba na Esporte Banda B, de Curitiba
O Mozart tem um estilo bem vertical. Eu convivi pouco com ele e no Coritiba foi apenas um jogo como treinador do profissional. Vitória por 2 a 1 contra o RB Bragantino, a primeira do Coxa no Brasileiro do ano passado. Time dele é bem compacto, geralmente, mas sempre gostou de jogar com bolas rápidas.
Números de Mozart Santos
CSA: 45 jogos - 20 vitórias, 17 empates e 8 derrotas (57% de aproveitamento)
Chapecoense: 8 jogos - 3 vitórias, 3 empates e 2 derrotas (50% de aproveitamento)
Números do CSA sob o comando de Mozart na Série B
28 jogos (13 vitórias, 9 empates, 6 derrotas)
50 gols marcados (3° da Série B no quesito)
37 gols sofridos (6°)
51% de posse de bola (7°)
434 finalizações (16°)