Jornal Estado de Minas

JOGOS OLÍMPICOS DE TÓQUIO

Minas vai a Tóquio com chances de medalha e delegação recorde no exterior

O início da história olímpica de Minas Gerais data de 1932. Naquele entreguerras, os juiz-foranos Pedro Theberge (polo aquático) e Francisco Carlos de Brício (remo) rumaram a Los Angeles, nos Estados Unidos, e se tornaram os primeiros representantes do estado numa edição de Jogos Olímpicos. Até 2016, no Rio de Janeiro, 135 mineiros viveram a experiência de participar do maior evento esportivo do planeta. Em Tóquio, serão 21 competidores nascidos por aqui.





Mineiros em Tóquio

Belo Horizonte: Jaqueline Mourão (Ciclismo MTB), Vinícius Lanza (Natação), Ícaro Miguel (Taekwondo), Carol e Gabi (Vôlei), Bruno Soares e Marcelo Melo (Tênis)
Contagem: Rafael Pereira (Atletismo) e Ricardo Lucarelli (Vôlei)
Iturama: Maurício Souza (Vôlei) e Ana Sátila (Canoagem Slalom)
Juiz de Fora: Thiagus Petrus (Handebol) e Larissa Oliveira (Natação)
Brazópolis: Debinha (Futebol)
Caeté: Tamires (Futebol)
Campestre: Bruna de Paula (Handebol)
Espinosa: Ana Patrícia (Vôlei de Praia)
Frutal: Camila Brait (Vôlei)
Ituiutaba: Poliana (Futebol)
Lagoa da Prata: Núbia Soares (Salto Triplo)
Uberaba: João Menezes (Tênis)

Esta vai ser a maior delegação mineira da história das Olimpíadas fora do Brasil igualando Atenas (2004) e Pequim (2008). No Rio de Janeiro (2016), o número foi superior (34) devido à distribuição máxima de vagas em todas as modalidades para o país-sede. Há cinco anos, Maicon Siqueira (bronze no taekwondo), Uilson (ouro no futebol), Ricardo Lucarelli e Maurício Souza (ambos ouro no vôlei) brilharam na capital fluminense e aumentaram a lista de medalhas conquistadas por atletas nascidos nas Gerais.

No Japão, os 21 competidores estarão espalhados por 11 modalidades. Vários dos representantes mineiros se credenciam a lutar pelo pódio. No vôlei masculino, a dupla campeã em 2016 foi convocada pelo técnico Renan Dal Zotto e entra forte na briga pelo segundo título. No feminino, Gabi, Carol e Camila Brait são peças fundamentais de uma equipe que ganhou moral com o vice-campeonato da Liga das Nações em junho e tem condições de competir de igual para igual com as outras favoritas.

Ironicamente, a praia também pode render um pódio no vôlei a Minas Gerais. Natural de Espinosa, no Norte do estado, Ana Patrícia (que faz dupla com Rebecca) vem de bons resultados, como o vice-campeonato na etapa de Gstaad do Circuito Mundial, última competição antes dos Jogos. Embora não seja a potência de outrora, a equipe de futebol feminino é outra que pode conquistar. A técnica sueca Pia Sundhage convocou três atletas nascidas em Minas: Debinha, Poliana e Tamires.





Como foi em 2012 e 2016, os tenistas Bruno Soares e Marcelo Melo despontam como fortes candidatos nas duplas em Tóquio. Naturais de Belo Horizonte, buscam a tão sonhada primeira medalha brasileira no esporte. Nas modalidades individuais, Ana Sátila (canoagem slalom), Núbia Soares (salto triplo) e Ícaro Miguel (taekwondo) têm condições de conquistar.

Histórico

Para contar a história olímpica de Minas Gerais é preciso relembrar os feitos de Marcus Mattioli. Nascido em Belo Horizonte, o nadador de 60 anos foi um dos medalhistas brasileiros nos Jogos de 1980, disputados em Moscou, na antiga União Soviética. Aos 19, conquistou o bronze no revezamento 4x200m livre ao lado de Cyro Delgado, Djan Madruga e Jorge Fernandes.

"No pódio, eu olhava para o lado e brincava para os caras não chorarem. Tínhamos que sair bem na foto, mas foi difícil quando vimos a bandeira do Brasil no alto. Foi um momento único, era a primeira medalha do Brasil naqueles Jogos. A gente foi recebido na Vila Olímpica com muita festa, todo mundo querendo saber, pegar na medalha... A natação engatinhava no Brasil, e hoje já temos mais representantes e chance de mais medalhas", disse.





Aquela era apenas a segunda das 33 medalhas conquistadas por mineiros na história das Olimpíadas. Antes de Mattioli, só o também belo-horizontino Moysés Blás havia subido ao pódio. Em 1960, o ex-ala-armador fez parte do time de basquete que levou o bronze nos Jogos de Roma, na Itália. Depois deles, as conquistas se multiplicaram.

"Minas Gerais já era tido como um ponto de referência por ter, em Belo Horizonte, o Minas Tênis Clube, que me acolheu durante boa parte da carreira. Mas, depois daquilo, realmente as pessoas começaram a ver que era possível, e não somente com a natação mas com os outros esportes", relembrou Mattioli.

Em 1980 - única Olimpíada que disputou -, o nadador também competiu nos 100m (terminou em 24º lugar) e 200m borboleta (18º) e nos 200m livre (17º). Mas foi a medalha que, segundo ele, simbolizou a evolução do esporte mineiro. "Hoje, o Minas é um clube com estrutura de topo mundial, então a medalha mostra que a coisa estava crescendo. Eu me senti realizado ali", completou.





A performance histórica na Europa, no entanto, não lhe garantiu estabilidade financeira dali em diante. Mattioli ainda compete na categoria Master e, em 2015, chegou a fazer uma "vaquinha" online para arrecadar fundos e ir ao Mundial. Até hoje, ele é o único nadador mineiro a ter conseguido uma medalha olímpica.

"O retorno financeiro foi mais indireto do que relacionado ao esporte em si. Todos ali começaram a aparecer mais, éramos mais vistos por todos, e olha que naquela época a exposição era bem mais difícil do que é hoje. Eu, por exemplo, abri uma academia em BH e foi um sucesso na época, além de competir depois entre os masters", prosseguiu.

"Vi o anúncio das premiações do COB nesta Olimpíada. Quem dera fosse assim no meu tempo. Antigamente, era só tapinha nas costas, se bobear tinha até que pagar para competir", finalizou. Medalhistas olímpicos do Time Brasil vão receber premiação recorde nos Jogos de Tóquio. O bronze (conquistado por Mattioli há 41 anos) renderá R$ 100 mil para modalidades individuais, R$ 200 mil para equipes de até seis pessoas e R$ 300 mil para os times maiores.





Cinco perguntas para Macelo Melo e Bruno Soares

Marcelo Melo, de 37 anos, e Bruno Soares, de 39, chegam a Tóquio no auge da maturidade e do entrosamento. O desempenho físico não é o mesmo de temporadas anteriores, é claro. Mas os tenistas de Belo Horizonte apostam na experiência em grandes torneios e nas trajetórias vencedoras para sobressaírem em solo nipônico.

O Superesportes/Estado de Minas fez cinco perguntas para a dupla, que está na reta final de preparação para o torneio que pode coroar a carreira recheada de conquistas. Marcelo e Bruno buscam os últimos ajustes nos treinamentos desta semana na capital mineira antes do embarque para Tóquio. Lá, o objetivo é um só: conquistar a tão sonhada primeira medalha olímpica do tênis brasileiro.

Superesportes/Estado de Minas: Você e o Marcelo vão para a terceira edição seguida dos Jogos Olímpicos. Queria que você fizesse uma autoanálise do seu jogo e da sua maturidade, por favor. Na sua opinião, o que mudou em relação ao atleta que você era nas Olimpíadas de Londres e do Rio?

Marcelo Melo: "Com certeza, vou estar muito mais maduro nesta Olimpíada do que nas outras. A gente vem jogando muito bem, está com mais experiência ainda. Vai ser a quarta Olimpíada para mim. Cada uma foi jogada diferente. Vai ser uma Olimpíada em que a nossa maturidade vai estar no máximo. Eu e Bruno fizemos mais jogos entre a última e esta. Então, acho que neste ponto a gente vai estar muito bem".





Bruno Soares: "O que muda em relação a 2012 e 2016 são os aspectos do tempo, como a experiência e a maturidade. Isso conta a nosso favor. No caso da idade, não pesa tanto no momento. Obviamente, com 30 e 34 anos, nosso corpo reage de um jeito. Agora, aos 39, já não é a mesma coisa. A gente já não reage do mesmo jeito. Mas eu acho que a experiência consegue compensar - e muito bem - isso aí.

Eu ainda me sinto muito bem fisicamente, sinto que ainda estou performando em alto nível e acho que a gente tem que usar a nosso favor nossa experiência e a maturidade que a gente tem no circuito e, principalmente, nos Jogos Olímpicos. Porque é uma competição completamente diferente do que a gente joga no dia a dia."

MM: "Acho que o meu momento é muito bom. Wimbledon mostrou que eu venho jogando muito bem. As duplas vêm muito competitivas. Você pode perder na primeira rodada hoje e ganhar um torneio amanhã. Segui treinando firme, e acabou que a gente (ele e Lukasz Kubot) perdeu nas quartas de final para a dupla número 1 do mundo (Mate Pavic e Nikola Mektic) jogando muito bem. Isso foi a coisa mais importante."





BS: "Eu e o Marcelo estamos num momento interessante. Apesar de a gente não estar tendo a melhor das temporadas neste ano, acho que a gente vem jogando, nos últimos anos, o nosso melhor tênis, o mais alto nível. Foram vários títulos de Grand Slam, muita experiência em torneios grandes, coisas que fazem a diferença. Isso é super importante nesses jogos.

Nosso entrosamento é de velha data. A gente joga junto desde os sete anos de idade, a gente se conhece muito bem, convive no circuito, treina junto, tem o mesmo preparador físico... Tudo isso realmente tem um peso e uma importância muito grande dentro da competição. Acho que a gente está num momento legal e com uma maturidade muito boa."

SE/EM: O calendário competitivo do tênis foi muito afetado por conta da pandemia. Como foi esse período todo para você? E como vocês adaptaram a preparação para Tóquio, com o adiamento dos Jogos para 2021?

MM: "Esse período da pandemia para nós, tenistas, foi realmente complicado, porque a gente ficou sem torneios. Depois, a gente teve os torneios em sequência, aí tivemos que adequar os treinos. Depois, fiquei quase seis meses fora. Fizemos coisas atípicas. Foi um desafio para todo mundo, mas o importante foi ter ficado firme, treinando. Os torneios voltaram... 





Com o adiamento da Olimpíada em um ano, a gente teve ainda mais tempo para se preparar. A gente jogou mais jogos, teve mais experiências, mais resultados, mais maturidade. Para nós, acho que foi até bom."

BS: "Não preciso nem falar da situação mundial, obviamente, mas o calendário esportivo ficou uma loucura e todo mundo teve que se adaptar. Eu usei o momento da pandemia para trabalhar várias coisas que o tenista não tem tempo de trabalhar: fazer vários blocos de treinos longos, melhorar meu corpo, recuperar de pequenas dores e pequenas lesões que eu tinha. Acho que a gente foi muito assertivo nisso, vide os resultados: terminar a temporada passada como campeão mundial e número 1 do mundo.

Quanto à preparação para os Jogos, não influenciou tanto, porque a gente não tinha começado a fazer essa preparação (em 2020). Como o circuito parou e os Jogos foram adiados muito tempo antes, a gente já sabia disso e já mentalizou para a Olimpíada em 2021. Agora, a gente está conseguindo colocar isso (a preparação) em prática." 

SE/EM: Como vai ser a preparação nestes últimos dias antes do início da competição? O que muda nesse período?

MM: "Nós estamos fazendo uma preparação muito boa em Belo Horizonte, eu e o Bruno com o Chris (Bastos, preparador físico), o Daniel (Melo, irmão e técnico de Marcelo) e o Hugo (Daibert), que é o treinador do Bruno, juntamente com o Daniel (Azevedo), fisioterapeuta, para recuperar, porque os treinos estão realmente muito puxados.





Nós estamos com foco total, organizando a dupla, treinando junto. Isso está sendo muito bom e muito importante nesse período agora. Nós ainda vamos ter um período lá no Japão. A gente está usando cada minuto, cada momento. O mais importante é o foco. A gente tem condições de ir bem. Mas, ao mesmo tempo, a gente tem que saber que é passo a passo. Tem muitas duplas que estão jogando muito bem também, mas eu e o Bruno sabemos que podemos jogar bem juntos e isso vai ser importante nesta competição."

BS: "A preparação nos últimos dias antes do início dos Jogos é de muito treino, pegando firme. A única coisa que muda neste período é que eu e o Marcelo começamos a fazer muitos pontos juntos, para voltar com esse entrosamento, trabalhar os nossos específicos, as nossas jogadas, as coisas que a gente gosta de fazer junto. A gente já vem treinando lado a lado esses dias todos. Agora, é sintonia fina. Afinar os detalhes da parceria e estar pronto para performar no mais alto nível."

SE/EM: O Brasil busca a primeira medalha olímpica no tênis na história. Essa é a meta de vocês para Tóquio? O que significaria esse pódio para você e para o tênis brasileiro em geral?

MM: "Com certeza. A gente tem esse objetivo desde o ano passado. A Olimpíada este ano é uma prioridade para nós. A gente está no caminho certo e vai fazer o possível e o impossível. É muito importante não só para as nossas carreiras, mas para o tênis brasileiro. Ia coroar a carreira que ambos tivemos com uma medalha inédita para o Brasil. Ficaríamos extremamente satisfeitos e orgulhosos por mais essa conquista para o tênis brasileiro. Espero conquistar para conseguir esse feito histórico."





BS: "Com certeza essa é a nossa meta para Tóquio. No início do ano passado, a gente já falou isso. E repetimos este ano. A medalha olímpica é o nosso foco principal do ano, o nosso grande sonho. Acho que significaria muito para o tênis brasileiro de uma forma geral. Coroa a nossa carreira, a minha e a do Marcelo, mas especialmente o tênis, para a gente ter essa tão sonhada medalha. O esporte merece.

Seria uma grande honra para a gente conseguir esse feito. Já é uma grande honra para a gente poder representar o nosso país, levar a nossa bandeira aos Jogos Olímpicos, e conquistar essa medalha seria realmente coroar tudo o que a gente fez ao longo dos últimos 20, 21 anos da nossa carreira. A gente está num estágio final da nossa carreira. Não sei quanto tempo mais a gente vai jogar, então ganhar essa medalha seria realmente a realização de um grande sonho e coroaria tudo o que a gente conquistou."

audima