Esqueça a festa com estádio lotado, milhares de atletas amontoados e o espetáculo quase megalomaníaco de luzes. A Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio, marcada para 8h desta sexta-feira (23/7), será consideravelmente menor do que as anteriores. Em meio ao avanço da COVID-19 na capital japonesa e as críticas da opinião pública sobre realizar a Olimpíada durante a pandemia, a organização decidiu apostar num evento não tão grandioso. A proposta é mostrar o país-sede por meio de apresentações artísticas mais simples.
"Será uma cerimônia muito mais sóbria. Porém, com a bela estética japonesa. Muito japonesa, mas também em sincronia com o sentimento de hoje, a realidade", disse à Reuters o produtor executivo do evento, Marco Balich, que também comandou a Abertura dos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. "A pandemia obviamente tem suas consequências. Coreografias em massa não vão acontecer, por causa da COVID-19", completou.
As consequências do vírus vão além da ausência de coreografias com dezenas de dançarinos. A mais evidente é a ausência de público, algo inédito na história olímpica da Era Moderna, iniciada em Atenas, no ano de 1896. O recém-reformado Estádio Olímpico de Tóquio, que tem capacidade para 68 mil espectadores, receberá uns poucos convidados, patrocinadores, políticos e a imprensa.
As críticas de parte significativa da população japonesa e a aceleração da propagação do vírus fizeram com que representantes de várias empresas que patrocinam os Jogos desistissem de ir à Cerimônia de Abertura. O número de líderes políticos globais no evento também será bem menor. No Rio, cerca de 40 países mandaram representantes ao Maracanã. Em Tóquio, a expectativa é que a quantidade baixe pela metade.
Confirmaram presença nomes como o presidente da França, Emmanuel Macron, e a primeira-dama dos EUA, Jill Biden. Segundo um oficial do Ministério do Exterior do Japão, políticos de diversos países cancelaram a visita a Tóquio por conta do recente aumento no número de variantes do coronavírus.
As preocupações políticas pela realização dos Jogos durante a pandemia devem reverberar até no discurso do imperador Naruhito. Segundo pessoas ligadas à casa imperial, ele deve evitar frases e termos considerados muito positivos, como "celebrar a Olimpíada".
A cerimônia
Os detalhes artísticos da Abertura são mantidos sob sigilo. Tradicionalmente, o evento valoriza a história e a cultura do país-sede. A cerimônia formal terá a entrada do chefe de estado japonês Shinzo Abe, a execução dos hinos do Japão e da Olimpíada, a marcha dos atletas, o lançamento simbólico das pombas, o juramento olímpico e, é claro, o momento de acender a pira.
Sabe-se também que o momento vivido pelo mundo será lembrado com frequência ao longo do evento. O comitê organizador revelou que o tema da cerimônia inicial será "unidos pela emoção". O mote maior do megaevento é "seguindo em frente", clara referência à pandemia.
"Pessoas de todo o mundo passaram o último ano vivendo sob a ameaça da COVID-19, e os Jogos de Tóquio ocorrerão em meio a esta pandemia sem precedentes. Nós somos de diferentes idades e nacionalidades e temos diferentes histórias de vida, e agora estamos fisicamente separados. Este é o motivo pelo qual queremos que todos experimentem a mesma empolgação, diversão e por vezes desapontamento por meio das performances dos atletas", explicou a organização.
A tradicional marcha dos atletas ocorrerá com adaptações para reduzir o risco de propagação da doença. Pela primeira vez, cada delegação terá dois porta-bandeiras. O Brasil será representado por medalhistas olímpicos: o levantador Bruninho, do vôlei, e a judoca Ketleyn Quadros.
Trata-se de uma iniciativa do Comitê Olímpico Internacional (COI) pela igualdade de gênero no evento. Em 2021, Tóquio receberá a Olimpíada com maior balanço nesse sentido. Dos mais de 11 mil atletas classificados, cerca de 48% são mulheres. A expectativa é que em 2024, nos Jogos de Paris, o número chegue a 50%.
De última hora, o evento viu seu diretor, Kentaro Kobayashi, pedir demissão. Um vídeo do comediante tentando fazer uma "piada" sobre o holocausto, em 1998, vazou na internet e deixou a situação insustentável. Antes, o músico Keigo Oyamada, conhecido como Cornelius, que apresentaria uma composição de quatro minutos na cerimônia, renunciou ao cargo na equipe criativa após ser acusado de praticar bullying contra colegas de escola. Mais polêmicas no evento que, de forma ou de outra, marca o início de uma edição sem precedentes de Jogos Olímpicos.