O tema escolhido para a publicação é contar, sob uma nova perspectiva, a história dos negros no Brasil. O título do livro é ‘Brasil Tumbeiro’ (editora Mostarda), que se contrapõe ao termo usado na época em que os negros eram trazidos em navios da África para a América, principalmente, para o Brasil.
“A gente se acostumou a ouvir navio negreiro. E isso me incomoda porque passa a impressão que aquele navio era para transportar negros. E não. Era para transportar mercadorias. E tumbeiro era mais apropriado. Naquela época, algumas pessoas já usavam esse termo porque, do contingente que vinha da África, metade ou mais da metade acabava morrendo. Era um volume muito grande de pessoas que morriam. Então, se remetia mais a uma tumba”, conta Aranha.
Conteúdo do livro
“A princípio, seria um livro somente escolar. Eu tinha a ideia de trazer para o aluno e para o jovem, a participação negra na história do Brasil para que, nas aulas, quando o assunto for sobre a escravidão, não fosse uma aula vergonhosa para quem está ali ensinando, e que não fosse uma coisa humilhante, desagradável para quem estava aprendendo”, explica o autor.
“A gente sempre estudou e aprendeu a história do Brasil, principalmente a parte da escravidão, como se os negros só fizessem parte de uma modalidade. Como se eles fossem escravos e, num belo dia, a princesa Isabel acordou e decidiu acabar com tudo e libertar todos os negros. E não foi bem essa a história. Então, eu procurei contar de uma maneira mais justa essa história da escravidão, como ela começa, como ela chegou no Brasil. Como ela se desenvolveu e terminou”, narra.
A importância das referências
Aranha lembra que o Brasil tem grandes personagens negros na sua história, que poderiam servir de exemplos, espelho, e mostrar para os jovens que não é só na arte, só no futebol que existe oportunidade.
“Se no pior período para ser negro, no período da escravidão, tivemos engenheiros, médicos, advogados, escritores... porque hoje, que as coisas estão mais fáceis, a gente não tem esses grandes exemplos, não tem uma grande maioria nessas áreas? Se você não tem exemplos, referências, como é que você vai se estimular em ser alguma coisa que nem passou pela sua mente, que você julgava uma coisa impossível?”, questiona.
O próprio Aranha, que nasceu e cresceu no Bairro São João, periferia de Pouso Alegre, no Sul de Minas, não teve referências para seguir uma carreira que não fosse no futebol, como muitos jovens que saem das periferias para buscar vencer no esporte ou na arte.
“Eu nunca pensei em ser um advogado, um médico, um engenheiro. Nunca tive estímulo para estudar. E nem a minha família de me cobrar isso. Porque ninguém, próximo da nossa realidade, chegou a ser. Porque nós seríamos? Então, o exemplo vem daí”, destaca.
Racismo no futebol: Episódio de 2014
Em 2014, numa partida contra o Grêmio pela Copa do Brasil, parte da torcida do time gaúcho começou a emitir sons de macaco quando Aranha pegava na bola. As câmeras da televisão flagraram as ofensas racistas e o clube de Porto Alegre foi punido com a exclusão da competição.
Aranha já trabalhava para combater o racismo contra os negros. Após o episódio de 2014, ele passou a ter ainda mais voz sobre o assunto. “A grande mídia, principalmente, começou a me dar atenção e espaço para falar de outras coisas que não fossem sobre futebol, sobre o esporte, sobre a minha carreira. E, quanto mais eu falava, mais gente interessada em ouvir aparecia”.
Prêmio Direitos Humanos
Mario Aranha reforça que não existe outra maneira de resolver um problema que não seja falando e debatendo sobre ele. O autor de "Brasil Tumbeiro" ainda cita que não tem como combater, firmemente o racismo no Brasil sem magoar alguém.