O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), marcou uma entrevista coletiva para hoje (23/08), às 10h, quando vai falar sobre a presença de público nos estádios da capital e as partidas de futebol que serviram de evento-teste na última semana. O encontro ocorrerá no Salão Nobre da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), no Centro da capital mineira. Em contrapartida, dirigentes de Atlético, Cruzeiro e América manifestaram seus posicionamentos sobre o fechamento dos estádios.
A coletiva foi anunciada depois que a reportagem do Superesportes adiantou que o Executivo municipal reprovou os dois eventos-teste na cidade na última semana e vai voltar a proibir a realização de jogos e outros eventos esportivos com público. A decisão será publicada hoje no Diário Oficial do Município (DOM).
Uma reunião organizada pela Prefeitura de BH entre representantes do governo municipal, clubes de futebol – América, Atlético e Cruzeiro – e Minas Arena (concessionária responsável pela gestão do Mineirão) estava prevista para as 9h de hoje. Contudo, o encontro foi desmarcado e a decisão foi tomada ontem.
A Prefeitura de BH, por meio do Comitê de Enfrentamento à COVID-19, já fez a análise dos eventos-teste e não titubeou em informar a decisão. Segundo o Executivo, descumprimentos das regras e dos protocolos estabelecidos para a realização das partidas sustentaram a medida. O Mineirão foi o palco dos dois jogos com público. O primeiro teste ocorreu na última quarta-feira (18), na partida entre Atlético e River Plate, da Argentina, pela volta das quartas de final da Copa Libertadores. Mesmo com uma série de restrições e regras pré-estabelecidas, a partida registrou aglomeração e desobediência às normas.
Diante do observado na quarta-feira, a Prefeitura de BH se reuniu com os representantes para breves correções visando à partida entre Cruzeiro e Confiança, na última sexta-feira (20), pela 20ª rodada da Série B do Campeonato Brasileiro. As cenas, contudo, foram semelhantes às do jogo entre Atlético e River, mas em menor escala.
O Mineirão, que geralmente divulga o público pagante e presente ainda com o jogo em andamento, ainda não divulgou esses dados. O Cruzeiro, mandante do jogo, também ficou de informar no sábado o número de torcedores, mas ainda não se manifestou. A Prefeitura de BH divulgou uma nota a respeito da decisão.
A PBH anunciou que será publicada na próxima edição do Diário Oficial do Município portaria que proíbe torcida nos estádios da capital. “Após análise dos dois eventos-teste realizados na última semana, a decisão foi tomada pelo Comitê de Enfrentamento à COVID-19 diante do descumprimento das regras e dos protocolos estabelecidos para a realização das partidas”.
SETE ERROS NOS JOGOS DO ATLÉTICO E CRUZEIRO
1 – Torcedores sem ingresso na aglomeração
2 – Venda de bebidas alcoólicas no entorno do Mineirão
3 – Atraso para abrir a Esplanada do Mineirão
4 – Demora na entrada causou aglomeração nas catracas
5 – Fiscalização ineficiente quanto ao uso de máscaras e aglomerações
6 – Desrespeito ao distanciamento nas arquibancadas
7 – Aglomeração na saída do estádio
O QUE DIZEM OS CLUBES
CRUZEIRO
O Cruzeiro cogita mandar os jogos da Série B fora de Belo Horizonte para que continue recebendo torcedores. O clube recebeu com respeito a decisão da prefeitura da capital mineira de proibir o público, porém, reforçou a “crença na segurança dos protocolos adotados” de prevenção à COVID-19. Por isso, a diretoria estuda a viabilidade de agendar as partidas em locais onde a presença de espectadores esteja liberada. A intenção do Cruzeiro é mudar o palco do confronto com a Ponte Preta, pela 23ª rodada da Série B. Até então, o compromisso está marcado para terça-feira, 7 de setembro, às 16h, no Mineirão. Na última sexta-feira, o Cruzeiro contou com o apoio de sua torcida na vitória por 1 a 0 diante do Confiança, no Mineirão.
De acordo com a Rádio Itatiaia, o estádio recebeu 4.223 pagantes, mas o boletim financeiro até o momento não foi divulgado. Mesmo com público pequeno, houve desrespeito a vários protocolos sanitários, como a retirada de máscaras nas arquibancadas e a aglomeração no acesso ao Gigante da Pampulha.
ATLÉTICO
O presidente do Atlético, Sérgio Coelho, recebeu com surpresa a decisão da prefeitura de Belo Horizonte de proibir a presença de torcedores em jogos de futebol. Para demonstrar seu descontentamento com a PBH, Sérgio Coelho gravou um vídeo sem máscara na Feira Hippie – tradicional ponto de comercialização de arte, artesanato, roupas e comida aos domingos na Avenida Afonso Pena, no Centro de Belo Horizonte. O mandatário alvinegro direcionou o recado ao secretário de Saúde da capital, Jackson Machado, e ao prefeito Alexandre Kalil. “Sempre venho aqui na Feira Hippie, acho super-bacana, muita gente trabalhando, show de bola. Fui surpreendido com a notícia, mas antes de dar qualquer posicionamento, gostaria de ouvir o Dr. Jackson Machado, secretário de Saúde do município de Belo Horizonte, e também o prefeito – não sei se ele vai dar esse prazer para a gente de se explicar”, afirmou Coelho.
“Se não pode ter público no estádio, onde os torcedores vão obrigatoriamente testados, por que a Feira Hippie com 30 mil pessoas, ninguém testado e todos sem máscara, pode ter? Depois que ouvir a explicação, a gente se posiciona. Por enquanto, ficamos mineiramente quietinhos”, complementou.
AMÉRICA
O América se posicionou a respeito da volta da proibição de público nos estádios de Belo Horizonte determinada pela Prefeitura. Dos três times da capital, o Coelho é o único que não chegou a jogar com seus torcedores. "Vamos nos manter seguindo o protocolo da CBF que assinamos. Assim que a entidade liberar, estando liberado também o estado e o município, vamos nos organizar para o retorno do público", disse o América por meio de sua assessoria.
O presidente do Coelho, Alencar da Silveira Júnior, tinha esperança de ter ao menos os conselheiros e sócios-torcedores contra o Bragantino, hoje, às 20h, no Independência, pela 17ª rodada do Campeonato Brasileiro. "Por determinação da CBF, no Campeonato Brasileiro da Série A, não foi permitido ainda, porque já temos essa discussão. Então, o América não volta. O máximo que vou tentar acertar até segunda-feira (hoje) é um convite aos conselheiros do América, ao sócio-torcedor do clube, para fazermos um esquema dentro do estádio", afirmou Alencar na sexta-feira (20).
Infectologistas justificam decisão da PBH
Em entrevista ao Superesportes e ao Estado de Minas, o infectologista Carlos Starling, que compõe o Comitê de Enfrentamento à COVID-19 da PBH, afirmou que “houve rupturas de protocolos” nas partidas do Atlético, na última quarta-feira (18/8), e do Cruzeiro, na sexta-feira (20/8). “Por terem sido jogos-testes, o comitê tem que analisar, a Secretaria Municipal (de Saúde) tem que analisar os resultados. A princípio, houve várias rupturas de protocolos. Portanto, é importante que essas rupturas sejam analisadas do ponto de vista sanitário, epidemiológico. Não é anormal (voltar atrás), porque foram jogos-testes. E testes têm que ser analisados antes de se dar sequência”, afirmou.
Também componente do comitê da prefeitura, o professor Unaí Tupinambás, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), disse que “exigir máscara naquele cenário é quase impossível”. Para Unaí, os dois jogos, principalmente o do Atlético, “não passaram no teste”. Ainda mais pela ameaça da variante delta do novo coronavírus.
O infectologista da UFMG defendeu a discussão sobre um retorno dos torcedores aos estádios somente quando mais de 80% da população estiver totalmente imunizada contra a doença, ou seja, com as duas doses. A estimativa dele é que isso aconteça até o fim do ano.