Com chances desprezíveis de acesso à primeira divisão do Campeonato Brasileiro - 0,047%, segundo o Departamento de Matemática da UFMG -, o Cruzeiro corre contra o tempo em busca de recursos para cumprir acordos milionários na Justiça do Trabalho com vencimentos a partir de janeiro de 2022. O clube deve R$25 milhões ao atacante Fred , R$15 milhões ao lateral-esquerdo Dodô e R$16,6 milhões ao zagueiro Dedé . Somente aos três atletas são mais de R$56 milhões a serem quitados até dezembro de 2026.
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Em relação a Dedé, o Cruzeiro concordou em quitar R$16,6 milhões em 60 parcelas de R$276.666,66, de acordo com informações do site ge.globo . Detalhes sobre multas por atraso não foram divulgados, pois o acordo judicial foi fechado sob sigilo. O valor inicial da causa superava R$35 milhões.
Somados, os pagamentos a Dedé, Fred e Dodô giram em torno de R$926 mil por mês - quase uma folha inteira de clubes que disputam a Série B do Campeonato Brasileiro.
As obrigações não se limitam a esses jogadores, uma vez que o Cruzeiro formalizou acordos com outros profissionais na Justiça do Trabalho. É o caso do técnico Adilson Batista, que tem direito a R$720 mil ao longo de dois anos e meio. A primeira das 30 parcelas de R$24 mil venceu em setembro de 2021. A multa por atraso é de 50% sobre a prestação, além da antecipação da quantia restante.
A Raposa também arca com o mecanismo de transação tributária para saldar mais de R$175 milhões de dívidas fiscais e previdenciárias à União. Conforme o ge.globo , as parcelas para os próximos 12 meses - outubro de 2021 a setembro de 2022 - são de R$1.009.258,56 (R$14.523,14 de juros) e R$95.803,08 (R$1.378,60 de juros), resultando em mais de R$13,2 milhões em um ano.
Salários
Em meio à bola de neve de passivos estão ordenados de jogadores, integrantes da comissão técnica e funcionários do departamento de futebol e do setor administrativo. Há uma semana, o jornalista Jaeci Carvalho, colunista do Estado de Minas e do Superesportes , noticiou que o clube deve dois meses de remunerações.
A diretoria recorreu novamente a Pedro Lourenço, dono do Supermercados BH, que em agosto já havia aportado quase R$9 milhões para este fim. O aceite do técnico Vanderlei Luxemburgo à proposta do Cruzeiro, há quase dois meses, se deu principalmente pela promessa de manutenção dos pagamentos em dia com a contribuição do empresário.
No sábado (25/8), Luxemburgo comentou os atrasos. "Não estão em dia, como todo mundo sabe que não estão em dia, mas já conversei com os jogadores e em momento nenhum eles estão afrouxando por causa do salário, eles estão dentro do trabalho (...). Eles sabem que eu estou insatisfeito no sentido de que pagamento é feito para pagar, o empregador paga o empregado. É uma coisa que é obrigação de ser feita".
O gerente de futebol Ricardo Rocha também se manifestou a respeito do tema em entrevista à Rádio 98 FM . "Para que a coisa funcione, não cabe tanto atraso (salarial). Não cabe mais. No Cruzeiro ou em qualquer outra equipe. A gente tem uma mania de lembrar casos de clubes que atrasam e seguem ganhando. É um em um milhão. Normalmente, quem ganha é quem está em dia. O Cruzeiro tem que pensar em pagar em dia".
Série B
Tal como ressaltado na abertura do texto, o Cruzeiro está muito distante de brigar pelo G4 da Série B. O time ocupa o 15º lugar, com 32 pontos - 14 a menos que o quarto, Avaí, e com cinco de vantagem sobre o Londrina, 17º. A chance de subir ainda existe, porém depende praticamente de 11 vitórias nos últimos 11 jogos, além de tropeços de várias equipes que rodeiam o grupo dos quatro primeiros. A campanha celeste até o momento é de seis triunfos, 14 empates e sete derrotas em 27 rodadas.
A realidade de permanecer pelo terceiro ano consecutivo na segunda divisão traz um cenário econômico bastante preocupante. Se o faturamento em 2021 for equiparado ao de 2020, o clube deve registrar receita líquida de aproximadamente R$120 milhões - 57% a menos que os R$280,8 milhões de 2019, época em que estava na Série A. Em compensação, o custo operacional do futebol, de R$250 milhões no ano passado, provavelmente passará por redução nesta temporada.
As principais baixas no Cruzeiro de 2019 para 2020 foram com direitos de transmissão - R$102,5 milhões para R$40,3 milhões - e negociação de direitos econômicos de atletas - R$108,1 milhões para R$23,4 milhões. A gestão do presidente Sérgio Santos Rodrigues ainda lida com processos trabalhistas, cíveis e dívidas na Fifa herdadas das administrações de Gilvan de Pinho Tavares e Wagner Pires de Sá. Estima-se que o passivo da instituição tenha mais que dobrado de 2017 a 2020: de cerca de R$400 milhões para quase R$900 milhões.
Clube-empresa
A esperança mais viável para a recuperação financeira do Cruzeiro é a transformação em Sociedade Anônima do Futebol (SAF) na temporada 2022. Por esse objetivo, a direção fez uma parceria com a XP Investimentos, que será a responsável pela abertura de um fundo para captar investidores. Outras possibilidades serão a emissão de debêntures (títulos de dívidas) e a entrada na bolsa de valores.