O América recebe o São Paulo, hoje, às 21h30, no Independência, pela 38ª rodada do Campeonato Brasileiro, para fazer história. Se vencer, estará garantido na Copa Libertadores do ano que vem, quando disputará uma competição internacional pela primeira vez – a vaga na Copa Sul-Americana já está garantida.
Existe chance de ir direto para a fase de grupos da principal competição continental, mas, para isso, terá de bater o Tricolor do Morumbi e torcer por tropeços do Fluminense diante da lanterna Chapecoense, no Rio, e do Bragantino contra o Internacional, em Bragança Paulista. Ainda que não ganhe, pode manter a oitava posição, desde que Atlético-GO não vença o Flamengo em casa, o Ceará não passe pelo Palmeiras como visitante, e Santos e Internacional não passem por Cuiabá e Bragantino, respectivamente.
A classificação à Libertadores significará uma mudança de patamar para o Coelho, que pela primeira vez na era dos pontos corridos conseguiu se manter na Série A. Isso será de grande valia para as finanças do clube e vai influenciar na transformação em clube-empresa, que está em processo adiantado para ocorrer, mas pode ser agilizado em função de receitas que poderão ser auferidas e do cenário que pode se abrir.
Palavra de campeão
“Tive o privilégio de jogar a primeira Libertadores em 1992, quando troquei o América pelo São Paulo. Fui com o Palhinha e o Gilmar, que era do Democrata-GV. E tive a felicidade de ganhar logo na primeira vez. Todo jogador sonha em jogar a competição e consegui realizar. É o campeonato mais importante do nosso continente, tem um peso enorme, valoriza muito o clube e também os jogadores. Torço muito para que o América consiga a vaga”, afirma o ex-lateral Ronaldo Luiz, bicampeão da América justamente com o time paulista.Segundo ele, a competição fez a carreira decolar. “E o próprio América também ganhou mais projeção, até porque dois anos depois o São Paulo veio buscar o Euller aqui e ele também se saiu muito bem”, diz o ex-jogador.
Em termos financeiros, a vaga na Libertadores também é muito interessante. Se mantiver o oitavo lugar no Brasileiro, o Coelho entrará na segunda fase preliminar da competição internacional, pela qual receberia US$ 500 mil (cerca de R$ 2,8 milhões). Se chegar ao estágio seguinte, serão mais US$ 550 mil (R$ 3,08 milhões). Já no caso de alcançar a fase de grupos, receberá US$ 1 milhão (R$ 5,6 milhões) por cada um dos três jogos como mandante.
Já no Brasileiro, o oitavo lugar de momento assegura R$ 21,4 milhões de premiação. Se subir para sétimo, o faturamento chega a R$ 23,1 milhões. Caso fique em sexto, embolsará R$ 24,7 milhões. Em contrapartida, o pior cenário possível, 13º, receberia R$ 13,7 milhões.
Na Copa Sul-Americana, a premiação é de US$ 300 mil (R$ 1,68 milhão) por jogo como mandante. O Coelho faria, no mínimo, três partidas pelo torneio.
Esses valores certamente serão levados em conta quando o América for planejar a temporada 2022. O clube terá de contratar, pois vai perder atletas importantes, como o atacante Ademir, que vai para o Atlético.
Concentração
Por saberem a importância da partida, os jogadores prometem empenho redobrado hoje. “Temos de saber que o campeonato ainda não acabou. Não dá para se preparar para férias, viagem, essas coisas. Então, temos de focar no jogo, pois estamos com uma baita oportunidade em nossas mãos, em casa, diante do nosso torcedor. Já estamos marcados na história, e a Libertadores será a cereja de um bolo. Vamos levar o jogo com a importância de um jogo histórico para o clube”, afirma o volante Juninho, que estava em campo na única vitória do Coelho sobre o São Paulo, pelo Brasileiro de 2016.
Segundo ele, não dá para mudar nada agora. “O (técnico) Marquinhos Santos vem pedindo para sermos o América de sempre, leve, sem colocar peso a mais nas nossas costas. É entrar concentrados, mas do mesmo jeito, com determinação, entrega, coisas que fizeram a diferença durante a temporada.”
Para encarar o São Paulo, o técnico Marquinhos Santos não poderá contar com o lateral-esquerdo Marlon e com o volante Lucas Kal, suspensos por terem recebido o terceiro cartão amarelo na rodada passada. Kal já não jogaria, por estar emprestado pelo próprio tricolor. Por outro lado, o zagueiro Ricardo Silva e o armador Alê estão de volta após cumprir suspensão.
Torcida promete lotar o Horto
Os torcedores do América estão eufóricos com a possibilidade de a equipe se classificar para a Copa Libertadores pela primeira vez na história. Apesar de alguns manterem desconfiança pelo passado de decepções, a expectativa é de Independência cheio na noite de hoje, para incentivar os jogadores contra o São Paulo.“É o jogo mais importante da história do América, vai mudar o patamar do clube no cenário do futebol, pode abrir perspectiva muito boa e pode ajudar a fechar o contrato com o investidor que está interessado em assumir a direção. Estou bem confiante”, diz Paulo Resende, para quem o time está bem mais maduro do que, por exemplo, em 2019, quando deixou escapar o acesso à Série A ao perder para o já rebaixado São Bento, em pleno Horto.
Acostumado a frequentar estádios desde os tempos da Alameda, ele vê o Coelho cada vez mais forte. “O momento agora é de o torcedor voltar ao estádio e incentivar. E também aderir ao programa de sócio-torcedor, estou muito satisfeito com o marketing que o América tem feito.”
Ele e outros americanos esperam que, chegando a uma competição internacional, o decampeão conquiste cada vez mais adeptos, ainda mais em momento em que outro clube tradicional, o Cruzeiro, está em baixa, se preparando para disputar a Série B pelo terceiro ano seguido. “Cabe ao América ajudar a segurar o futebol mineiro, representando o estado na Série A do Brasileiro”, diz, bem-humorado, Magno Dias Oliveira.
Já Gabriel Dylan quer oferecer a classificação ao pai, José Luiz, que morreu em 2012 sem imaginar que um dia o Coelho poderia estar entre os melhores da América. “Estou confiante na conquista da vaga na Libertadores, apesar de já ter visto o América decepcionar a torcida algumas vezes. De toda forma, atingimos o objetivo e ainda nos garantimos na Copa Sul-Americana, o que vier agora é lucro”, afirma ele, para quem a Sul-Americana é até mais vantajosa financeiramente. “Mas em termos de história, a Libertadores será um marco.”
Festa
Para incentivar ainda mais os torcedores a comparecerem ao Independência hoje, a diretoria americana faz promoções. Além de ingressos a partir de R$ 10, sócios-torcedores podem levar um convidado. Haverá “rua de fogo” para recepcionar a delegação.Também haverá distribuição de cerveja e adereços antes da partida, além de DJ animando quem estiver no estádio. Um dos patrocinadores promete sortear uma moto entre os torcedores presentes.
“A partir das 19h30, o torcedor vai participar das ações e se preparar para fazer uma festa bonita durante o jogo”, diz Erley Lemos, diretor de Marketing e Negócios do América.