Ao encerrar a carreira como jogador, em 2011, no Corinthians, Ronaldo decidiu que continuaria no futebol, mas não queria ser técnico, gerente ou diretor executivo. O objetivo era ser dono do próprio clube. Passados dez anos, ele se vê sócio majoritário do Valladolid, da Espanha, com 82% das ações, e do Cruzeiro, sua mais recente aquisição, com 90% da SAF. Antes desses dois projetos, sua intenção era entrar no mercado inglês.
A estreia do Fenômeno numa sociedade de um clube foi em 2014. Ao lado dos empresários brasileiros Ricardo Geromel, Rafael Bertani e Paulo Cesso, ele assumiu o Strikers, da Flórida, então participante da North American Soccer League (NASL). A intenção era levar o modesto clube de Fort Lauderdale à Major League Soccer (MLS), mas o projeto não vingou.
"Peguei um avião e fui para Nova York conversar com o presidente da MLS. Já tinha articulado alguma coisa na Fifa e perguntei se havia possibilidade, se a gente ganhasse a NASL, de subir (para a MLS). O cara falou: 'oh, você pode ganhar o que quiser, se não trouxer 70 milhões de dólares para a franquia, você não vai a lugar nenhum'. Não teve jeito. Saí dali, desanimei e saí do projeto", contou Ronaldo ao Flow Podcast.
"Fui nessa aventura no Strikers para aprender e foi muito bom. Os americanos são muito bons em entretenimento em todos os níveis e aprendi muito sobre evento, entretenimento, sobre produção, sobre gestão do time também. Principalmente porque tinha que gerir o time sem dinheiro", acrescentou.
Inglaterra
Focado em ser dono de um clube, Ronaldo se mudou para Londres para estudar marketing e gestão de futebol. Após três anos na Inglaterra, ele amadureceu a ideia de adquirir um clube da Championship, a segunda divisão, na esperança de chegar à globalizada Premier League. Pedidas na ordem de 60 milhões de libras para se tornar acionário o fizeram desistir rapidamente.
Depois de especular clubes em Portugal e Espanha, surgiu na Copa do Mundo da Rússia, em 2018, a oportunidade de comprar o Valladolid, da cidade de mesmo nome localizada a uma hora e meia de sua casa em Madri.
"Imagina, a Premier League é um sucesso absoluto mundialmente, e a segunda também era muito cara. Se falava em 60 milhões de pounds. Disse: isso vai ficar brabo inclusive pra mim. Deixa procurar em outros lugares. Em Portugal, olhei algumas coisas. Na Espanha... E nada me encheu os olhos. Os preços já estavam mais acessíveis em Portugal e Espanha. E durante a Copa do Mundo, quando eu não estava pensando em comprar nada porque estava lá trabalhando, recebi uma ligação do meu advogado dizendo que tinha oportunidade do Valladolid. Na verdade, me acharam. O ex-presidente viu em mim uma chance de crescimento muito grande, não se tratava de dinheiro, era questão de legado, gestão, e negociei durante uma semana e acabei fechando o Valladolid por 30 milhões de euros", contou Ronaldo.
Assim como pretende fazer agora no Cruzeiro, Ronaldo levou ao Valladolid pessoas de sua confiança. Muitos já trabalhavam para ele em sua agência de São Paulo. Além de modernizar a gestão e tornar o time competitivo, cabia a ele dar mais visibilidade ao clube. "Me cerquei de pessoas incríveis, fiz um trabalho para me cercar dos melhores pessoas que conhecia no mercado do futebol, tenho a sorte de ter uma agência de marketing aqui em São Paulo que trabalha com evento, publicidade, com futebol, com atletas, então ela é um pouco 360 e tinha muita gente boa na equipe que poderia levar pra lá".
No Valladolid, Ronaldo também assumiu um passivo grande, mas numa escala bem diferente ao do Cruzeiro, em torno de R$ 1 bilhão. A dívida era de 25 milhões de euros, pouco inferior ao investimento proposto de 30 milhões.
"Lá na Europa se chama SAD (Sociedade Anônima Desportiva). Eu fiz uma oferta pra ele (dono do Valladolid), ele parece que gostou muito. Já era um clube-empresa, apesar de ser uma gestão familiar. Estava muito atrasado, estava precisando de um impulsionamento. Comprei por 30 milhões de euros, com 25 milhões em dívidas e apenas dois jogadores em propriedade, ou seja, não tinha patrimônio nenhum", recordou Ronaldo sobre a compra de setembro de 2018.
Agora, no Cruzeiro, Ronaldo assumiu o compromisso de fazer um investimento de R$ 400 milhões nos próximos anos. O dinheiro será aplicado tanto na montagem do time de futebol quanto no pagamento da dívida bilionária. A associação civil do clube manteve participação de 10% na sociedade.
Ao adquirir 90% das ações da SAF celeste, Ronaldo será o responsável por controlar o destino das receitas de futebol do Cruzeiro: televisão, premiação, patrocínio, publicidade/marketing, produtos licenciados, vendas de direitos econômicos de jogadores, etc. Já a associação civil continuará detentora dos patrimônios, como as Tocas da Raposa I e II, o prédio onde funcionava a sede administrativa na Rua dos Timbiras e os clubes de lazer do Barro Preto e da Pampulha.
A empresa de Ronaldo que controlará 90% das ações da SAF do Cruzeiro será responsável solidária pelas dívidas da associação civil. Com base na Lei Federal nº 14.193, de 6 de agosto de 2021, a obrigação do clube-empresa é destinar 20% das receitas e 50% dos lucros para diminuir o passivo.
Se em seis anos 60% do débito original for liquidado, o prazo para a extinção dos 40% restantes será prolongado por mais quatro anos. Ou seja, em um eventual acordo fechado em 2022, o Cruzeiro SAF teria até 2032 para "zerar" as pendências do CNPJ antigo.
O Cruzeiro tentará negociar a dívida de R$1 bilhão, de modo que consiga descontos com os credores e um prazo de pagamento acima dos 10 anos previstos na lei.