Jornal Estado de Minas

VIOLÊNCIA NO FUTEBOL

Torcedores de Atlético e Cruzeiro brigam antes do jogo e um morre baleado



A selvageria no futebol parece não ter fim. Inúmeros são os casos de agressões dentro e fora de campo. Situações graves que deveriam ter sido extintas há tempos continuam recorrentes. Em Sabará, será enterrado, hoje, o corpo do jovem cruzeirense Rodrigo Marlon Caetano Andrade, de 25 anos. Ele se envolveu em uma briga com atleticanos na rua Lassance, no bairro Boa Vista, região leste de Belo Horizonte, na manhã de ontem.





Em meio a uma guerra de paus, pedras, foguetes, cadeiradas e o que mais era acessível nas mãos daqueles que se dizem torcedores, registrada em vários vídeos e divulgados nas redes sociais, Rodrigo Marlon Caetano Andrade foi atingido por um tiro no abdômen. O rapaz foi socorrido em estado grave para a UPA Leste. Lá ele sofreu quatro paradas cardíacas, foi reanimado e transferido para o Pronto Socorro João 23. No HPS, o jovem chegou a passar por cirurgia, mas não resistiu. Os pais dele disseram à imprensa que não concordavam com o envolvimento do filho com torcida organizada e davam conselhos, mas de nada adiantou. O rapaz deixou um filho de 5 anos.

Outro homem baleado, que não tinha envolvimento com a selvageria escapou por sorte. O motoqueiro Paulo Henrique Ferreira, que passava pelo local para fazer compras para o almoço de domingo em família, levou um tiro de raspão no ombro. “Eu só percebi que tinha sido ferido, de raspão no ombro, quando uma pessoa me avisou, no supermercado. Não tinha sentido nada. Aí, montei na moto e vim para a UPA”.

A área criminal do Ministério Público de Minas Gerais já está atuando para dar uma resposta aos envolvidos com as torcidas organizadas de Cruzeiro e Atlético. Máfia Azul e Galoucura, principais torcidas organizadas dos clubes há tempos são acompanhadas de perto pelo órgão.





Peritos da Polícia Civil em Belo Horizonte já recolheram vestígios e buscam identificar os envolvidos no confronto. Em resposta ao Estado de Minas, a polícia disse que instaurou um procedimento para apurar a autoria, motivação e circunstâncias do fato. Até o momento, nenhum suspeito foi localizado e preso. A investigação está a cargo da 4ª Delegacia Especializada em Investigação de Homicídios/Leste.

Existem registros de outros dois confrontos de torcedores no mesmo horário que este, todos na região Leste da cidade, um no Bairro São Geraldo e outro no Santa Inês. Vários vídeos da confusão circulam pelas redes sociais e foram recolhidos pela Polícia Civil.
 
 

BRIGA COMBINADA

Segundo o tenente-coronel Micael Henrique Silva, Comandante do Policiamento da Capital (CPC), o local onde ocorreu a briga é um ponto tradicional de encontro de torcedores atleticanos. “Na manhã desse domingo (ontem), eles foram surpreendidos por um grupo de cerca de 30 torcedores da Máfia Azul, que foram ao local exclusivamente para brigar. A briga tinha sido combinada pelas redes sociais, tanto que nenhum dos torcedores vestia a camisa de seu clube”. Alguns torcedores estavam armados com paus, pedras, rojões e foguetes. Um vídeo mostra uma pessoa caída no asfalto. Ainda não se sabe de onde teriam partido os tiros e nem quem seria o autor dos disparos.





OUTROS CASOS

Nos últimos dias, foram registrados casos de agressões às delegações do Bahia e do Grêmio.  O time baiano estava a caminho da Fonte Nova quando foi surpreendido em uma avenida por vândalos em dois carros que soltaram foguetes no veículo. O goleiro Danilo Fernandes foi o atleta do clube mais ferido, atingido por estilhaços de vidro, e teve que ser submetido a um procedimento no olho. Em Porto Alegre, o clássico Gre-Nal foi cancelado após o ônibus da delegação tricolor ter sido atingido por pedras na avenida Edvaldo Pereira Paiva, nas imediações do Beira-Rio. O meio-campista Villasanti ficou com o rosto machucado e chegou a ser levado ao hospital com traumatismo craniano e concussão cerebral.

Lei severa para os brigões 

O novo senador por Minas Gerais, Alexandre Silveira (PSD), anunciou ontem que vai apresentar projeto de Lei para aumentar as penas para aqueles que participarem de rixa em decorrência de evento esportivo. A medida foi anunciada depois de nova briga entre torcidas organizadas em Belo Horizonte ter levado um jovem a óbito nesse final de semana de clássico entre Atlético Mineiro e Cruzeiro. O crime de “rixa” já existe, tipificado pelo artigo 137 do Código Penal. Trata-se de conduta praticada por três pessoas ou mais, na qual todas se encontram em uma briga na qual não é possível diferenciar quem são os autores ou a vítima. A detenção, no entanto, é apenas de quinze dias a dois meses ou multa. A ideia do senador Alexandre agora é criar um novo tipo penal: “rixa em decorrência de eventos esportivos”. Nesse caso, a pena será de 2 a 4 anos. Se ocorrer morte ou lesão corporal de natureza grave pelo fato da participação na rixa, a pena de reclusão aumenta para 4 a 8 anos.