Bob Faria
Não conheço pessoalmente o técnico do Atlético. Portanto, obviamente, não tenho embasamento algum para falar sobre seu temperamento, sua maneira de lidar com as pessoas ou mesmo seus valores individuais como ser humano. Tudo o que se possa dizer a seu respeito tem origem única e exclusivamente na observação daquilo que seu time apresenta em campo. Que isso fique muito claro.
Assim, me surpreende que embora um olhar rápido possa sugerir que está tudo bem, porque os números e a posição nas tabelas mostram isso (o time está entre os primeiros do campeonato Brasileiro, classificado na Libertadores), há um distanciamento enorme entre o treinador e o coração da torcida. Por quê?
Não se pode analisar os métodos de treinamento dele. Ninguém tem acesso irrestrito a ponto de poder opinar sobre isso. Então vamos nos atentar ao que pode ser observado. A qualidade do jogo coletivo que o time mostra. E é aí que a coisa desanda, porque se há poucos dados para se comparar, o que sobra é a memória afetiva. E a memória afetiva do torcedor é a de uma equipe que praticamente com os mesmos jogadores empolgava, amassava adversários e dava espetáculo, comandados por um treinador comunicativo, carismático e, por vezes, até excêntrico numa boa medida.
É disso que o torcedor sente falta. Não é só do resultado. É do coração batendo mais forte, da emoção envolvida em ser não só o líder, mas de ter uma alma aquecida. O atlético de Tony Mohamed é um time que sua muito, mas emociona pouco, não faz os olhos brilharem. E times assim podem até vencer, mas não ficam na memória, não fazem história.
Não vejo uma solução em curto prazo. Não há como mudar um padrão de comportamento assim de uma hora para outra. E duvido que essa seja a vontade do treinador. Ele é como é e faz como faz. A equipe é um reflexo do seu comandante.
Talvez, e só talvez, estejamos vendo um raríssimo caso em que o “resultadismo” esteja sendo sobreposto pela necessidade de emoção. A torcida do Galo é um nervo exposto e precisa ser representada com mais energia. É o que a arquibancada chama de “raça”. Mas que pode ser traduzido como aquela sensação de que tudo gira em volta do que está acontecendo no gramado. Como se cada jogador, e evidentemente o técnico, fosse uma extensão do sentimento que vem de fora. É a alma atleticana permeando o jogo. Ouso dizer que é disso que se está sentindo falta.