Jornal Estado de Minas

CATAR 2022

Experiência pode fazer a diferença

 
 
Enviado especial ao Catar

Al Khor – De camisa branca e terno cinza, Tite passou como um relâmpago rumo ao estacionamento VIP do Estádio Al Bayt, em Al Khor. Apressado, corria para se deslocar por 50km  até o retorno ao hotel da Seleção Brasileira depois de assistir à vitória do Equador por 2 x 0 contra o Catar no jogo de abertura da Copa do Mundo. O gaúcho de Caxias do Sul (RS) se sente em casa no Oriente Médio. Trabalhou duas vezes no mundo árabe e pretende fazer das experiências no vizinho Emirados Árabes Unidos um trunfo para levar a Seleção ao hexacampeonato. 





Mentor de times fortes no sistema 3-5-2, como o Grêmio campeão da Copa do Brasil, em 2001, e o São Caetano, quarto colocado no Brasileirão de 2004, Tite costuma contar que aprendeu a usar o modelo 4-4-2 nas passagens pelo Al Ain e o Al Wahda. A configuração é uma das alternativas táticas para os duelos contra Sérvia, Suíça e Camarões na fase de grupos. 

“Uma das coisas que aprendi em termos táticos foi trabalhar no 4-4-2. Quando atuei no mundo árabe, vi uma influência europeia muito grande. Eu não tinha domínio específico, porque sou autodidata. E pude conciliar o lado profissional com a família”, lembrou, em 2018, no início do ciclo para a Copa do Mundo no Catar, antes de um amistoso contra a Arábia Saudita.

Em agosto, ele voltou a falar sobre a situação atípica de disputar a Copa do Mundo em um período de inverno no Oriente Médio contraditoriamente com temperaturas elevadas. “No Catar, no mundo árabe, no jogo há um desgaste físico maior. A frequência do estímulo de velocidade, de ida e de volta, ela é maior, te desgasta. E daqui a pouco tu fica com a bola e o ritmo não mais tão intenso”, ressaltou o treinador. 





A presença de Tite no Al Bayt Stadium certamente não foi apenas para observas adversários que dificilmente enfrentará na fase de mata-mata. Pode ter ido sentir na pele o ambiente de estádios com sistema de ar-condicionado, uma das estratégias dos organizadores para amenizar o calor.  

“Pode ser então que a qualidade técnica do atleta mais rápido, mais ágil, mais móvel, em cima inclusive da condição climática, possa ser melhor que do atleta mais pesado, de mais força. Possa ganhar uma intensidade num aspecto físico de contato. Mas não no aspecto técnico, nem no aspecto velocidade na execução de jogadas”, completou ao recordar das peregrinações pelo Oriente Médio em competições como a Liga dos Campeões da Ásia.

Jogadores de lado

A experiência nas competições asiáticas, especificamente no Oriente Médio, fez Tite trazer não por acaso ao Catar quatro jogadores de lado do campo, os chamados pontas: Raphinha e Antony para a direita e Vinícius Júnior e Gabriel Martinelli para a esquerda. “Temos uma geração com ‘perninha rápida’. Jogadores de um nível técnico impressionante. Pelo fato de ter experiências no mundo árabe, eu sei do aspecto físico. A perna vai inchar. A condição física é um fator importante. Ter essa opção de jogadores de velocidade e qualidade técnica é importante”.

O sorriso estampado no rosto depois de assistir ao jogo no Al Bayt, em Al Khor, a caminho de Doha, era de quem tem jogadores capacitados para manter a intensidade do jogo durante os 90 minutos. Exatamente o que faltou ao Catar e ao Equador no segundo tempo. O ritmo dos dois times caiu em relação ao inicio em uma partida disputada praticamente no deserto do Catar.





Profecia em Goiânia

A presença de Tite no Al Bayt para testemunhar a vitória do Equador, do técnico Gustavo Alfaro, contra o Catar, pode ter a ver com uma profecia feita pelo treinador ao amigo brasileiro no Estádio Olímpico, em Goiânia, na Copa América de 2021. À época, Alfaro falou ao treinador da Seleção que ele conquistaria a Copa do Mundo no Catar. “Siga lutando porque esta é sua e vai terminar sendo campeão do mundo. Lembre-se do que estou te dizendo”, disse a Tite antes de abraçá-lo.

Treino em Doha

O primeiro treino da Seleção Brasileira no Catar visando a partida contra a Sérvia, na quinta-feira, foi marcado por muita descontração. Pelo menos antes da entrada em campo. No vestiário do Estádio Grand Hamad, os jogadores cantaram a música lançada pelo Movimento Verde e Amarelo na última Copa do Mundo. Em campo, na amena temperatura de 25 graus, e com os 26 atletas em campo, Tite dividiu, em dois campos, atacantes e defensores. Os jogadores voltam hoje ao campo de treinamento, no estádio Grand Hamad, em Doha.