Jornal Estado de Minas

Pesquisadores em Minas desenvolvem pomada com veneno de abelha

A Fundação Ezequiel Dias (Funed) e a Universidade Federal de Minas Gerais estão desenvolvendo um medicamento, a base do veneno de abelhas da espécie Apis mellifera, que vai beneficiar, em breve, pessoas que sofrem de artrite reumatóide, uma doença crônica, de causa desconhecida, que tem como característica principal a inflamação articular nos punhos, mãos, pernas e até no maxilar. O estudo “Desenvolvimento farmacêutico de biopoduto para o tratamento de artrite reumatóide” teve início em 2004, com a participação dos serviços de Recursos Vegetais e Opoterápicos da Funed e de Virologia Molecular e Bioprodutos da UFMG.



O medicamento, de uso externo, tem propriedades analgésicas e antiinflamatórias, e a previsão é de que ele esteja pronto para o estudo clínico em julho do ano que vem. O projeto recebeu financiamento de R$ 300 mil, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais, do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais.

Segundo a bióloga Esther Margarida Bastos, chefe do serviço de Recursos Vegetais e Opoterápicos da Funed, o veneno é um dos produtos do inseto e uma fonte rica de estudos. Para iniciar os trabalhos, a equipe, formada ainda pelo biólogo Luiz Guilherme Dias Eneinne, pelo professor da Faculdade de Farmácia da UFMG, Márcio Coelho, e por Jorge Pesqueiro, do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, foi a campo, para padronizar as técnicas ideais de extração do bom veneno para medicamentos. “Caso o medicamento seja realmente produzido, em larga escala, vamos transferir essa técnica para a sociedade de apicultores”, diz a bióloga.

Durante o estudo, os pesquisadores isolaram, purificaram e caracterizaram as substâncias presentes no veneno das abelhas. As frações purificadas do veneno passaram pelos estudos biofarmacêuticos em laboratório; e agora passam pelos testes com animais de experimentação. Para elaboração do medicamento, serão realizadas análises para determinar se a melhor forma de apresentação do produto será a pomada ou o gel.



Segundo Esther, coube ao biólogo, seu colega na Funed, Luiz Guilherme Dias, fracionar o veneno, retirando dele a parte que causa alergias – a fosfolipase. “Ele, então, fracionou a melitina, que tem uma ação excelente de induzir o organismo a produzir catecolaminas, que são corticóides naturais do corpo. Fizemos os estudos em laboratórios, com ratos, e os resultados são muito positivos”, acrescenta a pesquisadora.

Conforme a bióloga, a produção de um medicamento é formada por um longo e detalhado processo. “Temos que fazer muitos testes e a perspectiva é que façamos as experiências em humanos no ano que vem, levando mais cerca de três anos para finalizamos o estudo e transformá-lo no produto final”, diz. O mais provável é que o conhecimento obtido com essa pesquisa seja transformado em uma pomada de uso externo, ou um gel, ainda não está definido. “A importância desse projeto é que tivemos apoio e estamos tendo a oportunidade de produzir um novo medicamento, com fontes naturais e sem efeitos colaterais. Quem sabe, num futuro próximo, o Sistema Único de Saúde não possa produzi-lo, em larga escala?”.