Jornal Estado de Minas

Fãs que queriam mudanças mais expressivas no iPad ficam perto da frustração

O iPad 2 surge com duas câmeras, mais rápido, fino e leve do que na geração anterior

Carolina Vicentin

- Foto: AFP PHOTO / Kimihiro Hoshino

Nem fofoca em cidade pequena gera tanto bafafá quanto os lançamentos da Apple. Não foi diferente com o novo iPad, que chegou aos olhos do mundo na última quarta-feira, em um evento em São Francisco, nos Estados Unidos. Há cerca de um mês, pipocaram na internet algumas imagens do que seria a versão 2 do tablet, cada uma com uma história mais “realística” do que a outra. Longe de incomodar, esses supostos vazamentos das imagens do produto agradam à companhia, que sempre dá um jeito de formar uma atmosfera de suspense antes de revelar a cara dos aparelhos. “Sempre que a Apple prepara um lançamento, há diversos rumores sobre o que será mostrado. Isso ficou ainda mais intenso quando o Photoshop se popularizou e as pessoas começaram a fazer manipulações em imagens como se fossem fotografias roubadas da fábrica. A Apple adora isso”, diz o professor Alex Primo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e pesquisador na área de cibercultura. O novo iPad, porém, deixou a desejar. Pelo menos, para os que esperavam uma revolução com o novo modelo (leia quadro com as novas especificações). Eduardo Pellanda, professor da Faculdade de Comunicação da PUC do Rio Grande do Sul, fala sobre o novo iPad
“Foi muito mais uma evolução do que uma revolução. Eles conseguiram melhorar o tamanho, a velocidade do processador, incluíram uma câmera frontal. Mas todos os avanços ficaram na questão do hardware (veja quadro)”, comenta Eduardo Pellanda, professor da Faculdade de Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). “Mas isso já era esperado, porque é também exatamente o que acontece na criação de modelos de iPods”, completa o especialista. Uma das principais queixas dos applemaníacos diz respeito à não inclusão de uma entrada USB no iPad 2, o que possibilitaria a conexão com um HD externo, por exemplo, aumentando a capacidade de armazenamento. Sem o recurso, a Apple anunciou o aplicativo iMovie, que permite aos usuários a gravação e a edição de vídeos a partir do tablet — o programa já estava disponível para o iPhone. “O software é o único jeito de colocar filmes dentro do equipamento, isso se você tiver a nova versão. Com o iPad 1, vai precisar do aplicativo iDisk, que é muito lento”, lamenta o professor Alex Primo. Ele acompanhou o lançamento do modelo minuto a minuto e teceu várias críticas em seu perfil no Twitter (@alexprimo). “Para mim o iPad 2 foi uma frustração e...um ALÍVIO! Vou ficar feliz com meu ‘velho’ iPad”, escreveu. Nem todo mundo ficou tão decepcionado com a nova versão. “Ele ficou mais fino e leve, vai dar mais a experiência portátil, como uma revista”, pondera Eduardo Pellanda. O professor explica que essa é, na verdade, a grande intenção da Apple, embora ele ache difícil que o tablet de Steve Jobs consiga substituir o Kindle, leitor digital de livros. “Estive nos Estados Unidos e, lá, todo mundo tem um Kindle. Não acredito que o iPad, mesmo mais magrinho, vai conseguir roubar esse mercado. Mas, certamente, para conteúdo de jornais e revistas, ele vai se tornar um sucesso”, prevê. O próprio Steve Jobs se mostrou bastante animado com o novo produto, como o de costume. “Com mais de 15 milhões de unidades vendidas, o iPad criou uma nova categoria entre os dispositivos móveis”, ressaltou o fundador da Apple durante a coletiva de lançamento do modelo 2. “Enquanto os outros vêm lutando para copiar a primeira geração do iPad, estamos lançando o número 2, que vai adiante na competição. Nós gostamos disso, porque agora nossos concorrentes terão que voltar às pranchetas de desenho”, afirmou, em uma clara provocação à Samsung, fabricante do Galaxy Tab. A companhia japonesa lançou seu tablet em outubro passado, com tela de 7 polegadas e sistema operacional Android, do Google. É, até agora, a maior “ameaça” à hegemonia da Apple: foram 2 milhões de unidades vendidas desde que o aparelho chegou às lojas. Em fevereiro, durante o Congresso Mundial de Mobilidade, na Espanha, a Samsung anunciou a segunda versão do aparelho, que terá tela de 10,1 polegadas e processador dual-core, como forma de tentar se tornar uma alternativa ao produto de Steve Jobs. O pulo do gato

Frustrações à parte, especialistas que acompanham a trajetória da Apple afirmam que o novo iPad deve mesmo ser um sucesso de vendas, assim como planeja Jobs. Na verdade, as limitações do modelo não passam de uma estratégia da empresa. “É claro que, ainda no ano passado, eles já tinham condições de fazer uma versão tão fina quanto à de agora. Mas é tudo uma questão de visão de mercado”, aponta do pesquisador Alex Primo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O grande trunfo da companhia, segundo Primo, é a experiência do usuário com a interface do equipamento. Desde que a Apple passou por uma crise, na década de 1990, quando perdeu mercado para a gigante IBM, a empresa da maçã procura ganhar consumidores transformando seus produtos em objetos de desejo. Isso ocorre, principalmente, por meio da facilidade para usar os dispositivos. O dono de um aparelho da Apple não precisa instalar nada, configurar nada. “A Apple sempre privilegiou pessoas como o meu pai, que tem 78 anos e usa um iPad”, brinca o professor da UFRGS. “Uma entrada USB criaria uma facilidade para mim, mas assustaria esses ‘novos’ usuários”, aposta. Primo lembra que as gerações ímpares dos produtos da Apple costumam ter mais novidades do que as pares. “Eles não lançam tudo de uma vez porque precisam vender unidades para movimentar a companhia”, lembra. O especialista acredita que, para o ano que vem, os applemaníacos podem esperar um novo iPad com uma tela mais sensacional que a do iPhone 4 — que tem resolução de 960×640 pixels, a maior entre os smartphones e quatro vezes maior do que a da primeira geração de celulares inteligentes da Apple. Talvez, em 2012, a empresa também resolva inserir a tão esperada entrada USB. Expectativa até o último minuto A boataria sobre os passos de Steve Jobs e seu negócio existe até mesmo na hora de marcar as entrevistas coletivas sobre os lançamentos. Normalmente, os novos produtos chegam ao mercado norte-americano em janeiro e fevereiro, mas ninguém sabe ao certo quando a apresentação vai ocorrer. No caso do iPad 2, os rumores a respeito do encontro com jornalistas persistiram até 23 de fevereiro, quando oevento foi confirmado. Até o dia da coletiva, no entanto, ninguém tinha certeza absoluta do lançamento da nova versão do tablet. Em três dimensões Outras fabricantes de eletrônicos também têm estratégias para conquistar os usuários. A LG, por exemplo, lançou há duas semanas o tablet LG Optimus Pad e o smartphone LG Optimus 3D, ambos com tecnologia para ver imagens em três dimensões sem o uso de óculos especiais. O tablet da empresa vem com a plataforma Honeycomb, desenvolvida pelo Google para uso nesse tipo de equipamento. A forma de Jobs Outro grande rumor sobre o lançamento do novo iPad foi a presença de Steve Jobs, que só foi confirmada minutos antes da coletiva de imprensa. A aparição do CEO gerou uma série de comentários e análises na internet, com fotos comparativas da aparência de Jobs atualmente e há dois anos. O fundador da Apple está afastado por licença médica e especula-se quem será o seu sucessor.