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Estado de Minas

Pesquisadores descobrem como cães podem detectar doenças


postado em 06/03/2011 09:28

Cada vez mais precisa graças aos modernos aparatos tecnológicos, a medicina diagnóstica tem um novo aliado — mais prosaico, porém, bastante eficiente: o focinho dos cachorros. Pesquisas recentes mostram que o "melhor amigo do homem" tem um faro e tanto para doenças, principalmente o câncer. Com narizes afiados, os "doutores caninos" conseguem identificar a presença de substâncias indicadoras de diversos males que normalmente só seriam descobertos por equipamentos sofisticados.

Desde que começaram a ser domesticados, há cerca de 14 mil anos, os cães usam o focinho para ajudar seus donos. No início, farejavam de longe a presença de inimigos ou de presas em potencial. Mais tarde, passaram a integrar equipes de detecção de drogas. Com seus 220 milhões de células olfativas — o homem tem apenas 5 milhões —, eles são capazes de encontrar substâncias ilícitas mesmo quando muito bem escondidas, localizar pessoas soterradas e detectar jazidas de minérios.

É natural que a medicina começasse a investigar se os cachorros poderiam ser aliados dos laboratórios no diagnóstico de doenças. E eles passaram no teste. Recentemente, a revista especializada European Urology deu destaque a uma pesquisa do urologista francês Jean-Nicolas Cornu, que mostrou a eficácia dos focinhos na detecção do câncer de próstata. Com uma simples amostra de urina, os cachorros alcançaram 91% de precisão nos diagnósticos.

Na pesquisa, um pastor-belga foi treinado durante dois anos pelo método de condicionamento para cheirar e reconhecer na urina de portadores desse tipo de câncer compostos voláteis que são biomarcadores dos tumores malignos. As 66 amostras — metade delas positiva — foram congeladas para preservação e, depois, aquecidas. O animal, então, foi colocado em contato com todas, sem que os pesquisadores soubessem quais eram de pacientes com câncer ou pessoas saudáveis. O pastor diagnosticou o câncer corretamente em 30 das 33 amostras positivas. E acertou mais que os médicos: em um dos três casos nos quais supostamente havia errado, o paciente passou por nova biópsia que comprovou o câncer de próstata.

"O estudo mostra que os cachorros podem ser treinados para detectar esse tipo de câncer farejando a urina, com uma taxa de sucesso significativa. Ele sugere que o câncer de próstata provoca um odor diferente na urina. Identificar a substância volátil envolvida na doença poderá nos levar a uma ferramenta em potencial para o diagnóstico preciso", disse ao Estado de Minas Jean-Nicolas Cornu. "Certamente, os cachorros conseguem reconhecer o odor de uma molécula que é produzida pelas células cancerígenas. Mas ainda não sabemos qual é e, infelizmente, os cães não podem nos dizer."

Em sua mucosa nasal, os cães têm um rico depósito de nervos olfativos, que se conectam à região do lobo cerebral, altamente desenvolvida em termos sensoriais. Os cães, diz Cornu, usam o farejamento para maximizar a detecção de odores, cuja capacidade é mil vezes superior à humana. Farejar significa inalar e exalar o ar rapidamente, uma atividade que aciona o hipotálamo, área do cérebro associada a comportamentos sexuais e sociais.

Salvadores


Muitas vezes, mesmo cães sem treinamento conseguem detectar doenças. No artigo “Dogs smell cancer, diabetes, danger, diseases, death & bed bugs”, o consultor em medicina microbiológica americano Donald Reinhardt descreve o caso de uma mulher que entrou em coma diabético. O cachorro dela latiu incessantemente até que os vizinhos chamassem a polícia. Pouco depois de chegar à emergência, ela foi medicada e saiu do coma. "Por trás desse evento em particular há o fato de que labradores conseguem detectar hipo e hiperglicemia em pacientes diabéticos antes mesmo que um exame indique que eles têm a doença", escreveu Reinhardt.

Pelo menos uma instituição já está treinando cachorros para detectar baixos níveis de açúcar no sangue. "Mas exatamente como eles conseguem perceber se a pessoa tem hipoglicemia continua um mistério", disse Mark Ruefenacht, fundador da Dogs for Diabetics, em Concord, na Califórnia, nos Estados Unidos. Portador da doença, Ruefenacht criou a ONG em 2003, inspirado pelo fato de um labrador que ele treinava para servir de guia a cegos o acordar durante a noite. "Eu havia me esquecido de checar o nível de açúcar no sangue antes de dormir, e acho que o cão percebeu que a glicose estava alta", relata. Os cães – com nível de precisão de 90% – são treinados e doados a portadores de diabetes 1.

No início do ano, uma labradora tornou-se popular no Japão por conseguir detectar, com alto grau de precisão, câncer de intestino, mesmo os de fase inicial. Assim como no caso dos tumores de próstata e do diabetes, os cientistas acreditam que compostos químicos desse tipo de câncer circulem pelo corpo e sejam identificados pelos cães. Com isso, abre-se perspectiva para desenvolvimento de testes que descubram a doença antes que ela se espalhe pelo organismo.

No experimento, a cadela treinada fez 74 testes de farejamento, por vários meses. As amostras vieram de 48 pessoas com câncer de intestino e 258 saudáveis, ou que tiveram tumores, mas já curados. Metade delas pertencia a indivíduos com pólipos intestinais, que, embora benignos, podem ser precursores desse tipo de câncer. Parte do teste foi feita com material de pacientes com outros problemas do aparelho digestivo, como úlcera, diverticulite e apendicite.

A labradora conseguiu identificar quais as amostras eram cancerígenas com 95% de acertos.


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