Jornal Estado de Minas

Tsunami igual ao de sexta-feira atinge Japão a cada mil anos, diz geólogo

Tsunamis semelhantes ao que atingiu o nordeste do Japão na última sexta-feira ocorrem nesta região do planeta somente uma vez a cada mil anos, segundo estimativa de um sismólogo britânico. Roger Musson, que é chefe do departamento de ameaças sísmicas da agência geológica britânica (BGS, sigla em inglês), afirma que a onda gigante registrada no Japão no último dia 11 é comparável a um tsunami que atingiu a costa de Sendai no ano 869.

Confira a infografia sobre o terremoto no Japão

Neste evento, a água chegou a avançar 4km dentro da ilha, causando inundações em toda parte. No caso do tsunami da semana passada, em que as ondas chegaram a 10 metros de altura, ainda não se tem uma estimativa do quão longe chegou o impacto da água. "Eu imagino que (o avanço d'água) deve ter sido mais ou menos o mesmo, porque é difícil pensar que ocorram terremotos piores do que este nesta parte do mundo", disse Musson à BBC.

O sismólogo reconhece que foram registrados outros grandes terremotos na região: um em 1933 e outro nos anos 1890. No entanto, ele diz que a frequência com que tremores de terra de grande magnitude ocorrem é um fato a ser considerado. "Se você sabe o quão frequentes são terremotos de magnitude 9, você terá terremotos de magnitude 8 em torno de 10 vezes mais, e terremotos de magnitude 7 aproximadamente 100 vezes mais".

Cerca de 10 anos atrás, uma equipe liderada pelo professor Koji Minoura, da Universidade de Tohoku (Japão), analisou sedimentos das planícies costeiras de Sendai e Soma, que preservavam traços do tsunami de 869. O estudo indicou que a onda gigante foi possivelmente causada por um tremor de magnitude 8,3 ocorrido sob o mar. Além disto, foram encontradas evidências de mais dois tsunamis anteriores, levando a crer que houve pelo menos três grandes eventos do tipo nos últimos 3 mil anos.

"Existem várias maneiras de descobrir coisas sobre eventos passados, antes que se começasse a registrar terremotos em sismômetros - uma é por meio de registros históricos, e a outra é por registros geológicos", diz a geofísica Lisa McNeill, do Centro Nacional de Oceanografia britânico.

Relação entre terremoto e tsunami

McNeill diz ser difícil estimar uma magnitude específica por meio de dados geológicos limitados e registros históricos, e vê uma relação apenas genérica entre o tamanho de um terremoto e a grandeza do tsunami que se segue. "Isto geralmente funciona bem, mas existem desvios. Alguns deles se devem a efeitos locais na costa: seja o formato da região costeira - que pode condicionar e aumentar a amplitude das ondas do tsunami - e a batimetria (medição da profundidade da água)".

"A relação (entre magnitude do terremoto e tamanho do tsunami) não é linear, e depende de como a ruptura realmente ocorre", diz o especialista em tsunamis Hermann Fritz, da Universidade Georgia Tech (EUA). "Se a ruptura está mesmo no fundo do mar, você tem um deslocamento muito maior - mas se você tiver algo como 7,2 em algum lugar abaixo da terra, isto não criará um tsunami", afirma. "Quando é uma ruptura de grande impacto, de magnitude 9, então basicamente toda a zona se rompe, desde a profundidade até a superfície".

"Cada evento será diferente, e pode ser perigoso fazer planejamentos baseados somente em fatos passados - mesmo no Japão, onde os registros são muitos, ainda assim isto pode não ser o suficiente", afirma o especialista.